Como podemos imaginar o futuro?
Para os mais esperançosos, aqueles que lutam por um propósito, esses acreditam em um mundo melhor, creem que palavras movem montanhas. Enquanto isso, alguns não sabem o que pensar e outros desistiram de tentar. Cada um escolhe o que lhe traz conforto.
Dominic, um dos poucos vivos após um desastre apocalíptico, esperava apenas a morte para seu futuro. Não era uma questão de "se", mas uma questão de "quando". Talvez não fosse uma visão tão ambiciosa, no entanto, era a única que lhe impedia de enlouquecer em sua solitária contagem regressiva da vida.
A cor verde não existia mais, nem ao menos o azul. Era necessário redescobri-las. As folhas, agora tomavam o tom seco do cinza. O chão, coberto pela areia amarela. Quando a neblina da poeira não estava densa demais, era possível ver o céu avermelhado.
— Aquele que luta com demônios deve acautelar-se para não se tornar um também. Quando se olha muito tempo para o abismo, o abismo olha para você. Nietz... que seja. Era isso que as crianças estavam aprendendo na escola? Parece que foi tirado da bíblia.
Dominic jogou longe um pequeno livro de filosofia que encontrara aleatoriamente. Na busca por gasolina, acabou entrando em lugares jamais antes visitados por ele, exemplo da biblioteca majestosa em que se encontrava. Mais especificamente, localizada em uma grande escola, como aquelas que jamais pôde frequentar.
Enquanto andava pelos corredores mórbidos, observava as amplas salas de aula que um dia foram reconhecidas pelo seu conforto e luxo. O lugar estava quase que completamente revestido por uma terra carregada.
O pequeno rádio portátil do rapaz chiava várias vezes. Algum homem de voz pomposa passava uma transmissão: o mundo iria acabar, ou melhor, recomeçar. Eles tinham poder para fazer isso. Então, aqueles de grande valor que ainda estivessem presos fora da fortaleza deveriam se direcionar a um tal ponto, se possível. Dessa forma, esses seriam resgatados.
Dominic não era um desses, então aquele foi seu anúncio para a morte. Impaciente de continuar ouvindo aquilo, ele tirou o rádio que estava preso em seu cinto e o jogou fora, o partindo e pequenas peças. No chão, foi notado um jornal surrado, mas era possível ver a palavra "GUERRA" estampada nitidamente como manchete principal. Ele pisou naquela folha com sua bota pesada e continuou sua caminhada, tentando esconder de si mesmo a raiva que invadia seu corpo de forma tão fluida como o sangue que corria em suas veias.
Ele seguiu para a parte que antes era um ginásio, tão grande e solitário quanto o resto daquele edifício. Logo depois, fora para algo que deveria ser a piscina, mas estava sem um resquício de água. O sol bateu em seus olhos, os fazendo arder e o ar não era mais abafado, porém, ainda assim, era quente.
No instante que a luz deixou de machucar sua visão, ele se deparou com uma moça sentada na borda da piscina seca. Ela o ouviu e então virou-se. Espantada, ela se levantou em um pique.
— Angel? — Dominic estava paralisado, sua voz saiu como um rasgo na garganta. Ele tinha esquecido qual era a sensação de se surpreender com algo.
Um sorriso suave estampou gradativamente o semblante da garota. Ambos se aproximaram subitamente. Dominic segurou suas bochechas com as mãos tremulas na tentativa de ser delicado. Ele observava cada detalhe do rosto sereno dela.
As perguntas eram inúmeras das duas partes, mas nenhuma foi feita.
— Você parece bem — Ele disse assim que abriu um sorriso. Suas bochechas chegaram até a doer por conta do tempo que ficara sem sorrir.
Apesar de feliz, Angel estava confusa, por vários motivos. Um deles era por estar vendo justamente um humano a sua frente.
— Pensei que estaria com os homens grandes...
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Aqui, nos tornamos vivos.
القصة القصيرةO que espera de um futuro completamente acabado? Com o céu desabando e a esperança no fim, os últimos a sobreviver almejam pela liberdade.