Capítulo 1

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E pensar, que muitos acham a vida a coisa mais fácil do mundo, para que vocês tenham noção do que eu estou falando, eu vou detalhar os últimos acontecimentos da minha simplória trajetória. Aqui estou eu, em meio ao caos de uma chuva, caminhando para a universidade, isso mesmo caminhando, do ponto até chegar onde estudo é no mínimo uns 10km e não, eu não estou brincando, dinheiro pouco, família achando que esta tudo certo, que terá a primeira geração da família a se formar no ensino superior. As pessoas não entendem que para eu conseguir chegar lá, eu passo por vários perrengues, no primeiro no dia, eu perdi o ônibus, não por chegar atrasada no ponto, mas por não saber onde eu deveria ficar para pegar o mesmo. E olha que pedi informação, mas tendo em vista, as caras fechadas já deveria imaginar, a minha sorte foi uma menina que iria para a mesma universidade que eu no segundo dia e na volta ela me mostrou onde eu deveria ficar e a ela eu devo agradecer imensamente, mas as caminhadas no sol, as 11h30min não ajudavam muito, mas quem precisa vencer faz os sacrifícios, e eu, tenho certeza que estou pagando por todos os meus pecados.

Continuando a saga da minha vida, trago-lhes a minha situação amorosa, tenho a certeza que Deus só está me fazendo passar pelos testes com esses embustes que entraram na minha, sério, praticamente em todos os meus relacionamentos eu fui traída, o meu primeiro namorado achou que poderia ser o galã, me pedindo em namoro e depois de algum tempo começando outro, mas a linda aqui descobriu e deu um basta nas traições do bonitinho, vocês acreditam que ele ainda teve a cara de pau de me pedir pra voltar? Pois pediu, se tem uma coisa que eu não tenho é vocação para continuar com alguém sem o mínimo de caráter possível; o segundo achou que me enganaria mantendo duas relações, dedo podre, certeza, para homens. Enquanto eu converso com a minha consciência, porque ela sempre me alerta para essas falcatruas que o meu coração cai, eu continuo o meu caminho para faculdade.

O medo as vezes me toma quando vejo passar uma moto ao meu lado, parece que o povo esquece de acordar as 7h para praticar um exercício, nem um "pé de gente".

-COMO SE TU PRATICASSES NÉ, DEUSA DO ÉBANO?

-CALA A BOCA!

Não fazes mais consciência como antigamente!

Chego na faculdade atrasada, sério, e nesse momento eu não faço a mínima questão de ir para sala de aula, vou pegar o meu precioso pretinho, vulgo café, para começar esse dia estressante, ninguém merece essa aula agora. Dragão que me aguarde, mas pense numa aula chata, não compreendo nada que a mulher tá falando e olha que eu tento viu. Pego meu café e caminho na direção da sala.

- Perdi muita coisa? pergunto para Joana

- Amiga, pra tu ter noção, a mulher tá falando a 20min e até agora eu não sei sobre o que é.

-Estamos lascadas! Acabei de chegar e a voz dessa mulher já está me dando nos nervos. Reclamo, como sempre.

- BOM DIAAAAA! gritou a louca da Pati

A cena é ainda mais cômica, quando a professora olha pra ela com a cara mais azeda, mas tenho certeza que Patrícia nem liga para as olhadas dela, já estamos acostumadas com o tratamento da mesma, o jeito é rir da cena e continuar fingindo o interesse no assunto.

- Gente, é apenas eu que não estou entendendo nada? sussurrou João, que estava mais quieto que o normal no canto da sala

- Professora, desculpa a sinceridade, mas estamos sem entender uma palavra do que você está falando, nunca vi tanta enrolação para falar um assunto, parece que está rodando em círculos.

A Sala toda ficou em silêncio, para João abrir a boca para falar é que ele já estava de saco cheio da mesma ladainha de Dragão. Ela apenas olhou para ele e perguntou:

- Qual a parte que você não está entendendo? alguém mais com a mesma sensação que o colega?

- Todas as partes, tenho até medo de quando chegar a prova eu nem saber sobre o que se trata, estou questionando essa metodologia desde o início do semestre, a senhora não nos atendeu, não modificou nadinha, estou nessa aula só marcando presença.

Nem eu acredito que falei isso, estava entalado a muito tempo, não aprendi nada com a mesma, já fui no coordenador, o jeito é tentar ver se ela muda, mas pasmem se vocês acham que ela mudou, ela se fingiu de surda e passou uma atividade sobre os assuntos que ela disse que já deu, senhor, nunca vi essas coisas na vida. Levando em consideração que eu não estou aprendendo nada, nem essa aula irá me acrescentar em nada, eu me levanto da minha cadeira e vou atrás de outro café, não penses que irei retornar para aquela aula, não hoje, enquanto isso, sento no jardim e fico lá, até ver a galera saindo da aula também, isso em menos de 5 min que sair.

- Não sei vocês, mas eu não volto mais para aquela aula hoje! João exclamou, sentando-se do meu lado e me abraçando.

-Muito menos eu! não pensei que vocês teriam coragem para falar aquilo na cara dela, NOSSA AMEI!

-Sinceramente Pati, nem eu! falei bebericando o meu café e continuei -Estou cansada de falarmos com essa mulher e ela nada, a minha família não paga uma universidade para que eu não aprenda nada...

- O coordenador não ajuda também né, credo, nunca vi... falou Joana

E a conversa permaneceu sobre os abusos que a instituição passava pano, enquanto o dia caminhava como uma lesma, era o dia mais cansativo da semana, sem dúvidas, ainda tinha o estágio durante a tarde. As aulas seguiram o seu ritmo normal e no final da última aula recebo uma mensagem de Pedro

"tô do lado da facul, queria te ver, vem aqui embaixo"

"tô descendo"

Pensei seriamente, sobre o caso com Pedro, ele estudava na mesma Instituição, só que no turno da noite, os nossos encontros nos últimos meses eram raros, os nossos horários não batiam, ainda tinha o cursinho que ele estava fazendo para passar no concurso da polícia federal. Olhei as escadas e até cogitei em descer, mas meus caros, eu não me chamo Júlia se eu não esperasse o meu elevador. Apenas quando cheguei no térreo que lembrei que estava sem o cartão de acesso. Céus, onde estou com a minha cabeça?

-COLADA NO PESCOÇO, TENHO CERTEZA!

-Cala boca, peste! não tenho um minuto de sossego com essa consciência

Entrei novamente no elevador e tenho certeza que hoje não é o meu dia de sorte, por que o bixinho parou, simplesmente parou, meu DEUS, eu não vou surtar, respira Júlia... o que que tenho que fazer mesmo? SENHOR ME AJUDE, FUNCIONA PESTE, PORQUE TU TINHAS QUE PARAR LOGO AGORA, JUSTO NESSE MOMENTO, NÃO PODIA SER COM OUTRA PESSOA.

-JUJU, OLHA PRO LADO, PARA DE SURTAR SUA LOUCA

-Cala boca, peste, eu não já mandei! devem me achar uma doida certeza

- OLHA, OLHA, OLHA! a peste gritava, estava me deixando mais doida do que eu já estava e eu olhei, a vergonha não podia ser maior meu Deus, ainda tinha que passar no crédito, porque meu pai, eu fui uma pessoa boa esse tempo todo. Eu não sei onde eu estava com a cabeça quando entrei nesse elevador e não vi esse boy aqui dentro.

-JÁ DISSE QUE ESTAVA COLADA NO PESCOÇO, MAS PENSAVA NUM CERTO MORENO QUE NÃO VALE NADA, DO LADO DA FACULDADE.

-JÁ MANDEI TU CALAR A BOCA!

-Acho bom você respirar, moça! parece que vai ter um ataque, eu já informei que estamos presos, fica calma! O boy falou super calmo.

Calmo, CALMO, onde em sã consciência uma pessoa fica calma quando está presa no elevador?

-VOCÊ QUE É DOIDA JUJU!

-cala a boca, infeliz...

A certeza que vou desmaiar é tão grande, que não vejo mais como vou sair desse elevador viva, a vergonha meu pai, parece que esse elevador estava menor do que ele já era, alguém me ajuda.

E nesse momento o chão era o meu companheiro (..)

JÚLIA BELLINIOnde histórias criam vida. Descubra agora