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A escuridão abraçou Daninty.
Louise estava sentada no peitoril da janela do seu quarto, seus pés balançavam livremente na noite úmida. Um caderno de desenhos repousava em seus joelhos e um lápis estava entre os dedos; oscilando despreocupadamente.
A respiração da garota estava descompassada e o cansaço do dia finalmente começava a firmar-se sob a sua pele. Suas pernas estavam dormentes, seus ossos doíam e suas pálpebras tremiam, mas ela esperava até que fosse recompensada.
Quando estrelas começaram a aparecer no céu - pequenos pontos luminosos dando vida a um firmamento vazio -, ela finalmente estabeleceu a sua atenção no que importava.
Louise era uma colecionadora de destinos.
Ela colecionava finais em sua mente toda noite quando levantava-se da cama e espiava os astros ardentes num céu cor de cobalto. Enxergava futuros desenhados nas estrelas como se desenhados num cavalete. Pinturas, ela gostava de falar, grandes obras do que aconteceria imprimidos nos cosmos.
Os seus olhos focalizaram o céu. Írises cores de noite líquida derreteram-se em suas amigas celestes e no que elas lhe estavam revelando: a imagem perfeita do seu aniversário, que aconteceria no dia seguinte.
A mão direita de Louise rabiscava um desenho minucioso do que os seus olhos vislumbravam. Havia páginas e páginas desse mesmo desenho com os mesmos detalhes.
Ela enxergava aquele mesmo futuro todas as noites havia seis meses: via o castelo vibrando em expectativa, via o seu pai sorrindo e dançando, via os convidados explodindo em euforia e a presenteando com coisas exuberantes e charmosas e caras demais.
Também enxergava tudo dando errado; o castelo de areia ruindo.
Enxergava soldados derrubando os portões do castelo, postando-se com magia em seus arsenais. Então, enxergava-os a levando para um lugar conhecido, mas, ao mesmo tempo, desconhecido.
Quando pequena, Louise aprendeu a nunca tentar mudar o que não poderia ser mudado. Ela descobriu isso da pior forma quando, não satisfeita com o que o futuro lhe havia reservado, interferiu no que havia visto e brincou com coisas perigosas demais. O resultado? Sua mãe morreu. Por isso, ela guardou esse segredo para si mesma: ela iria embora de seu reino, mas por uma coisa maior do que escolha própria.
Alguém bateu na porta. Um som longo, depois outro mais curto e duas batidas rápidas. Louise correu para abri-la e encontrar Nicholas, o seu irmão mais novo. Quando crianças, eles tinham criado uma batida secreta para saberem se identificar, e mantiverem esse hábito mesmo depois de anos.
— O que você viu hoje? — Nicholas perguntou assim que entrou no quarto. Ele era uma das únicas pessoas que sabia do talento de Louise.
Nicholas tinha cabelos vermelhos como o fogo, que brilhavam vagamente sob a luz do luar que entrava pela janela aberta. Os seus olhos eram azuis, porém não como o mar ou o céu num dia de verão, mas sim como um lago congelado ou o céu quando o dia está triste. Ele era alguns centímetros mais alto do que Louise, e a garota não sabia muito bem quando ele cresceu tanto e ficou tão forte. Ele parecia um clone fortão de seu irmãozinho mais novo, ela sempre falava com um sorriso no rosto, e ele sempre mudava de assunto com um rubor trivial em maçãs do rosto proeminentes.
— Eu enxerguei o meu aniversário — Ela respondeu, forçando um sorriso. Louise estava ficando experiente em forçar sorrisos.
— E como foi?
— Magnífico seria um eufemismo. O papai estava tão feliz e as pessoas tão eufóricas. Ganhei presentes lindos, também.
— Quais presentes? — Ele perguntou enquanto sentava-se na cama. Não parecia verdadeiramente interessado, mas gostava de ouvir sua irmã tagarelar, então fazia o esforço.
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Entre Estrelas e Trevas
Viễn tưởngLouise consegue ver o futuro gravado nas estrelas. Como sucessora ao trono, cabe a ela levar paz a Daninty, o reino onde somente a tristeza existe e a magia não floresce. Entretanto, os planos que tinha para o seu destino vão por água abaixo quando...