forty-four

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Eram quase 3 da manhã e minha mãe estava gritando com alguém. O barulho estava insuportável e eu tinha certeza que ela estava chorando. Sai do quarto com cuidado para não fazer barulho e fui verificar o que estava acontecendo.

Mas e se for um ladrão? O que eu faço?

Me aproximei mais da porta para poder ouvir melhor.

- O que você queria? Que eu apenas ignorasse essa porra toda?

Meu pai. O que ele está fazendo aqui? Como ele descobriu onde estávamos?

- Como você pode dizer isso? Ele é seu filho! - Minha mãe gritava pausadamente, os soluços estavam atrapalhando.

Eles estão falando de mim? Mas que pergunta. Eu sou filho único.

- Filho? Não, eu não tenho mais um filho. - Meu pai gritava como se sua vida dependesse daquilo. Sua voz estava áspera e rude.

- Você tem sim! Isso é ridículo!

Minha mãe está chorando. Isso dói tanto em mim. Eu não sei o que fazer.

- Ele sequer é um ser humano! Gays não são humanos! No começo eu achei que era apenas uma fase estúpid-

- O único que não é humano aqui é você! Não é uma fase, é a opção do seu filho! Ele é livre para amar quem ele quiser!

Me sentei encostando na parede e abracei minhas pernas, as lágrimas desciam e não conseguia ter controle.

- O filho é seu. - Depois de uma longa pausa ele disse.

- Nosso.

- Um dia eu amei esse garoto. Eu ensinei ele várias coisas, jogar bola, tocar guitarra... E você? Deixava ele brincar com porra de ursos!

- Ele era uma criança!

- Veja onde isso foi parar.

Eu não consigo, isso é demais para mim. Me levantei rapidamente, limpei meu rosto e fui em direção à eles.

- A culpa não é dela. A culpa não é de ninguém, não sou eu que está errado aqui, é você. Você estragou nossa família, nós éramos felizes. V-você sequer merece o título de pai! Os pais aceitam o seu filho, acima de qualquer coisa. Na primeira oportunidade você abandonou tudo!

recovery // l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora