Mais tarde, no mesmo dia...
A casa da família Gomez-Magalhães ficava numa Vila no bairro do Sacomã. Um imóvel de dois andares, num terreno grande o suficiente para permitir um quintal que circundava a casa toda e que coubesse todos os cachorros e gatos de Alice.
Diana estava na cozinha, bebendo um copo d'água enquanto observava sua mãe terminar de colocar a comida nas travessas. Lilian, uma mãe muito carinhosa e talvez um tanto cuidadosa demais com o bem-estar de suas filhas, era uma mulher de felizes 48 anos, ex-enfermeira e agora vivendo a aposentadoria zelando afetuosamente pela sua família.
— Não seria melhor tomar banho antes do jantar? — perguntou sua mãe, ajeitando um cacho caramelo de volta para o rabo alto enquanto terminava de garantir que o arroz não fosse fugir da travessa.
Com aqueles olhos verdes encarando a comida, pensou Diana, os gominhos brancos não iriam a lugar nenhum.
— Não sei, se um dia Giovanna decidir sair de lá, quem sabe eu pense em usar. — respondeu Diana, dando de ombros.
Giovanna era vaidosa de um jeito único. Entrara no banheiro muito antes das irmãs mais velhas chegarem e ainda não havia saído. Na verdade, a caçula da família estava terminando de pentear seus longos cachos castanho escuros. Cuidar dos fios requer tempo e paciência. Coincidentemente, duas coisas que a segunda mais velha não tinha.
Em outra parte da casa, Roberto estava assistindo ao jornal em sua poltrona enquanto Alice, Beatriz e Maitê compartilhavam um sofá. Bea estava revisando algumas tarefas, sendo tão prática quanto Diana – inclusive eram extremamente parecidas, o mesmo tom de pele mais escuro, herdado do pai, olhos castanhos... porém, enquanto Diana deixava seus cachos crescerem, a irmã do meio tinha raspado os seus.
Alice e Maitê estavam alheias em seus celulares, a primeira trocando mensagens com seu mais novo conhecimento social – Gabriel – e a segunda editando sua próxima foto a ser postada no Instagram. Diana achava um ultraje gastar tanto esforço para mudar a própria aparência – quando ela já havia pintado o cabelo de preto e alisado ele. Fazia tanto tempo que a segunda mais nova fazia isso que Diana nem lembrava mais a cor original do cabelo dela.
Desistindo de aguardar Gi liberar o banheiro, a segunda mais velha começou a ajudar a mãe a levar as travessas de comida para a mesa. Ela tinha mais o que fazer que ficar se irritando com uma pirralha leviana. Não que não amasse sua irmã, mas Giovanna... ela conseguia andar no fio da navalha.
...
O jantar havia sido tranquilo, mesmo quando Giovanna desceu à mesa um tanto atrasada, recebendo um pequeno sermão de seu pai. Roberto era um homem de poucas palavras, mas quando as usava, era com uma propriedade que apenas um professor de filosofia poderia ter. Ainda assim, a caçula da família não fez mais que dar de ombros e começar a conversar com Maitê. Bea estava quieta, comendo mais rápido que o convencional – provavelmente para voltar a estudar.
Diana estava tentada a puxar conversa com Beatriz a fim de chegar ao assunto dela ir na universidade, mas desistiu. Um dia a irmã do meio teria que aprender a conviver em sociedade, ficar pajeando ela não iria ajudar. Então a segunda mais velha também jantou em silêncio, uma vez que Alice estava concentrada demais no próprio celular.
Assim, o jantar foi preenchido com as futilidades das duas irmãs mais novas e as fofocas que Dona Lilian contava a quem quisesse ouvir – sendo Roberto o alvo mais próximo, por estar sentado à sua direita – sobre os vizinhos, a família Bandeira, cuja a única filha, Helena, era melhor amiga de Diana.
— Acho que estou apaixonada. — declarou Alice, deitada na cama.
Diana terminava de organizar sua mochila para o dia seguinte quando soltou uma respiração rápida para disfarçar a risada. Mesmo sabendo a resposta, ela perguntou:
— Ah é? Por quem você acha que está apaixonada?
— Por aquele anjo do petshop... — respondeu a mais velha, abraçando o celular.
Diana começou a rir de verdade ao ouvir o apelido do tal... Gabriel.
— Hmm e o que te faz pensar que você está apaixonada por ele? — questionou Diana enquanto caminhava para sua cama.
As irmãs compartilhavam o quarto, assim como Maitê e Giovanna compartilhavam outro, apenas Beatriz tinha um quarto só para ela – alegando que precisava de mais privacidade para estudar. Diana não ligava muito, sempre fora mais próxima de Alice, dividir um quarto não era o fim do mundo. E, bem, definitivamente as irmãs mais novas não se importavam em compartilhar um quarto.
— Meu coração bate toda vez que penso nele. — finalmente respondeu a mais velha, os olhos brilhando quando olhou para sua irmã.
A segunda mais velha apenas riu ao responder:
— Ficaria seriamente preocupada se seu coração não estivesse batendo.
As irmãs conversaram mais um pouco e quando Alice dormiu, com um sorriso preenchendo o belo rosto, Diana sabia que tinha perdido a irmã para o amor.
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Um Romance do Século XXI
Romance| +14 | "Um Romance do Século XXI" é uma narrativa baseada no romance de sucesso "Orgulho e Preconceito" da escritora britânica Jane Austen. Porém, não se engane achando que vai encontrar uma simples adaptação; nestas páginas encontrará uma história...