Capítulo 3 ❀ Uma viagem incomum

66 16 6
                                    

Afogando.

Em minha própria mente, tudo ao redor se tornava líquido. Denso e escuro como as profundezas de um oceano.

Era como estar num sonho, o corpo afundando aos poucos, com nenhum esforço sendo feito para retornar à superfície, alheio ao mundo real.

Era como despencar do céu, porém muitas vezes mais lento e sem o devido impacto ao se chocar ao chão.

Afogando, mas sem sufocar.

Apenas a sensação de ir mais para fundo e todos os sons ao seu redor se tornarem abafados e indistinguíveis.

O mundo em que vivemos se perder e começar a estar cada vez mais distante.

Restando somente a si mesmo, numa imensidão desconhecida e indecifrável, que é nossa própria mente.

Deitado no sofá da sala, olhava para teto com tanta intensidade que o fazia parecer a coisa mais importante de todo o mundo. Com os pensamentos passando pela cabeça numa velocidade em anos-luz, confuso e sem saber o que fazer, como já fiz tantas vezes e o que sempre acontecia quando eu pensava demais.

O tempo parecia passar mais devagar. Porém não era verdade. Tudo estava exatamente igual desde a última vez que havia checado. Eu, que no entanto, por estar meio fora de órbita, tinha meus movimentos mais letárgicos e ilógicos.

A deusa, sentada no canto da sala, ainda próxima a janela, me olhava com seus olhos cintilantes e respeitosos, como se esperasse ou até mesmo me desse todo o tempo do mundo para me adaptar, compreender ou aceitar a notícia.

Eu, verdadeiramente, não fazia ideia do que fazer ou pensar.

Depois de passar anos conhecendo pelo menos um milésimo de um indivíduo desconhecido, através de sonhos complexos demais para serem explicados, qualquer ser, em sã consciência tem no mínimo, uma pequena vontade de conhecer esse alguém frente a frente. Olhos nos olhos, com direito a olhares não só comuns, mas também como aqueles em que parecemos inspetores de algo, observando cada detalhe, armazenando tudo desse outro alguém na memória para se recordar, no caso de uma súbita vontade futura de se lembrar dessa pessoa, ter ali pequenas particularidades para apreciar. De pensar nela, não só como mais alguém aleatório, e sim como aquele alguém especial, que possui características específicas e nuances que nem todos conseguem enxergar. Afinal, o bom de alguém nem sempre é visto por todos e sim por aqueles que tem bons olhos para ver.

— Posso… saber o que aconteceu? — me escutei perguntar, depois do que pareceu uma eternidade em silêncio.

— Oh, querido. Sinto tanto... — sua voz soava quebrada. — Foi um acidente. Um caminhão bateu no carro em que ele estava.

Meus olhos se fecharam com força e me concentrei a tentar não imaginar a cena.

— Eu não deveria saber? Não deveria ter sentido?

— Às vezes é muito difícil se atentar a uma sensação específica. Como vocês nunca se encontraram, não seria uma grande mudança. Talvez se você não tivesse me invocado, nunca saberia com precisão.

— Quando? Como foi tudo isso? Por quê?

— Não podemos controlar tudo o que nos acontece, querido. Por mais que as coisas não nos satisfazem, às vezes não temos o que fazer. — disse numa forma de tentar me acalmar.

Em alguns momentos, me perguntava como era possível mudar de uma situação graciosamente boa para uma completa catástrofe em questão de segundos.

Essa era a vida, infelizmente.

— Tudo isso quer dizer que nunca conhecerei minha alma gêmea de verdade… — suspirei longamente, deixando toda a tristeza transbordar do meu corpo.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 04, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Love of my dreams ⭑ JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora