Capítulo 29: Um nada

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POV Millie

Dor. Não há uma pessoa sequer que tenha nascido em um mundo como o nosso e não tenha à sentido. Podemos senti-la quando crianças, dando "birra" em frente à uma loja, ou ao cair de bicicleta e esfolar o joelho em um asfalto áspero, alguns até mesmo já nascem tendo sua presença.

A humanidade precisa da dor, precisamos senti-lá para continuarmos, pois só assim saberemos o que de fato é bom. O que de fato vale a pena correr atrás para se livrar dela.

Costumam dizer que a única dor que não podemos controlar é aquela que sentimos, pois bem, essa realidade não se aplicava a mim.

Na realidade é muito mais fácil suprimir o que eu sinto quando outra carga bem maior de emoções consegue penetrar minha alma, e isso sempre me assustou. Estar com Finn era como ter dois corações no peito, em forma de um, uma troca mútua e inexplicável que fazia com que ambos se tornássem um só.

É lindo de se dizer nesse ponto de vista, mas não era tudo um mar de rosas, pois mesmo sentindo exatamente o que ele sentia, eu não fazia ideia de como decifra-lo, e isso era o que eu mais temia, um dia partir dessa terra sem conseguir entender o que nós sentíamos.

"Millie, tá acordada?" - vejo o pequeno aparelho em minha frente se iluminar em sincronia com a mensagem de Sadie, estampada na central de notificações

"Totalmente" - envio como resposta, e a mesma vizualiza em questão de segundos

"Posso trancar o dormitório? São 4 da manhã, acho que não vai vir dormir aqui né? - questiona Sadie, mesmo que a resposta fosse bem óbvia

"Eh, achou certo, eu tive que ficar na casa do Jack, ele e o Finn tiveram uma briga por causa da banda, e para nos resolvermos ficamos um bom tempo conversando." - dou a justificava de forma resumida

"Wow calma, todos já estão dormindo?"

Assim que leio sua pergunta meu olhar cai para Finn, que estava debruçado sob o colchão do quarto de hóspedes, respirando de forma pesada enquanto agarrava um dos travesseiros. Deslizo o dedo na tela saindo das mensagens e retirando uma foto da cena, logo em seguida enviando para Sadie um "todos, menos eu", como resposta.

Respiro fundo e olho através da pequena janela  que ficava no quarto que Jack havia nos cedido, depois da famigerada briga muitos assuntos renderam por horas, principalmente uma explicação mais detalhada de como exatamente eu havia me machucado sem ninguém ao menos encostar a mão em mim, obviamente Finn e eu não sabíamos explicar, uma coisa levou a outra e quando percebemos o relógio apontava duas e meia da manhã, optamos por ficar no apartamento pois era Nova York, e mesmo que a cidade ainda estivesse entupida de pessoas pelas ruas, não era bom ficar perambulando por esse horário.

"KKKKKKKKK to vendo a baba dele daqui, enfim vou dormir, amanhã me explica essa história direito" - Sadie encerra a conversa, e logo em seguida vejo seus status se atualizarem para "off-line"

Aperto o botão nas laterais de meu aparelho, e o bloqueio, voltando a atenção para à janela que não possuia os padrões básicos de limpeza, tornando o vidro um pouco imundo e turvo, mas o suficiente para que alguns flashs de luzes refletissem no interior do quarto, trazendo uma iluminação parcial e agradável para o cômodo, fazendo com que vez ou outra Finn levasse as mãos até seus olhos de forma involuntária, para impedir que a luz entrasse nos mesmos. O silêncio era quase total com exceção do pequeno festival que estavam fazendo a alguns quarteirões do prédio, as paredes vibravam um pouco quando a música eletrônica chegava a sua potência máxima, acho que por isso eu não conseguia pregar os olhos. É de fato, Nova York é uma cidade que nunca dorme.

Supernova |Fillie| • Não Finalizada •Onde histórias criam vida. Descubra agora