Hoje eu vou contar algo sobre mim. Eu tenho uma visão 3D. Bom, pelo menos eu acho. Sabe, toda vez que eu focalizo o olhar em alguma coisa, alguma parte dessa coisa se destaca e parece voar pelo espaço. Eu já pesquisei sobre isso e já fui ao oftalmologista, mas, como esperado não detectaram nada de estranho em mim, mas eu sei que tenho, eu vejo.
Eu já tentei ver se é coisa da minha cabeça também, mas não é. Eu não imagino isso, simplesmente acontece. Mamãe já disse pra eu deixar pra lá, mas eu não consigo, não dá. Teve um dia que eu caí na besteira de contar pra Célia, minha “melhor” amiga da escola. E ela só riu na minha cara e nunca mais nos olhamos.
Depois desse dia, eu só fiz o que a minha mãe disse: eu deixei pra lá. Só vejo o que tenho de ver em silêncio. E bem, até convivo com isso mais facilmente.
Mas tem horas que fica insuportável, principalmente quando eu fico nervosa ou meio triste. E o único remédio é pensar no meu pai. Eu não o conheci, bem, a mamãe conta que ele era caminhoneiro e quando eu nasci ele estava presente sim, mas dois dias depois foi trabalhar. E foi quando o mundo dela virou uma merda.
Mamãe trabalha na mercearia perto de casa, e é bom pra ela. Ela diz que ajuda a pensar e que a vontade de chorar não é tão forte. Eu sei que dói bastante, da pra se ver que ela amou muito o meu pai, e ainda ama muito.
Ela acabou de sair pra trabalhar e eu to me arrumando pra ir pra aula. Estou no terceiro ano do Ensino Médio e não trabalho. Mamãe diz que o meu pai não gostaria que eu trabalhasse até os dezoito anos. Tomo meu café da manhã rápido, e saio correndo pra pegar a mochila quando ouço a buzina do carro de Eddie.
Tranco tudo e vou correndo pro carro super caro do meu amigo podre de rico e lindo. Eddie é filho único e tem tudo que quer.
- E aí linda? Vamo embora? - diz ele, fazendo charme
- Vambora. – respondo depois de dar um beijo no rosto dele.
- Hum, falando gírias. Ta bonita hoje hein. – diz ele, me olhando de cima abaixo.
- Vou contar tudo pra Kris, ela sabe que você fica me paquerando? – pergunto corando, não gosto quando Eddie me elogia.
- Não tenho nada com a Kris, Alicia. Já te disse droga.
- Mas ela tem com você. – eu digo rachando de rir da carranca de Eddie.
- Eu te odeio garota.
Apenas mando um beijo solto no ar pra ele pegar, e me abaixo pra ligar o som e ao mesmo tempo desviar o olhar de Eddie. Você tem que entender Eddie não é feio o que já é difícil de ficar olhando, e duplique essa dificuldade quando eu vejo os olhos verdes dele vindo na minha direção o tempo todo.
E não. Se a sua pergunta é relacionada a eu nutrir sentimentos por Eddie, a resposta definitivamente é não. Somos como unha e carne, melhores amigos, só isso. A gente só sai juntos, na realidade, a gente faz tudo junto. Depois que a Célia riu da minha cara, eu meio que fiquei afastada, é o que Eddie chama de anti-social. Aí ele chegou um dia em mim e disse que tinha apostado com uns caras que ia me levar pra casa. Entenda, Eddie é do time de futebol, e muito “popular” o que ele viu em mim, só Deus pra te responder. Aí eu aceitei que ele me levasse pra casa, mas ele teria de me dar metade do dinheiro. Ele aceitou, e nós pegamos o caminho mais longo até a minha casa. Quando chegou lá, ele me deu todo o dinheiro, mas com uma condição: teríamos de ser amigos. E eu aceitei.
– Que foi? - ele pergunta revezando entre olhar pra mim e pra estrada.
– Nada, só tava pensando. – respondo
– Ta piorando né. – pergunta ele, me pegando de surpresa.
Sim, Eddie sabe do meu lance com a visão, e sim também, pra afirmação dele, ta piorando. Eu vejo tudo saltar pra frente, e papai não sai mais da minha cabeça. Ele é como Atroveran pra cólica.
– Tá sim, isso ta me matando. – respondo olhando pra ele.
– Vamos dar um jeito nisso. – diz ele de repente mudando de rota e me assuntando.
– Pra onde a gente vai Eddie?
– A gente vai pra minha casa Alicia, e dessa vez você vai fazer o que eu quiser. – diz ele sem olhar pra mim.
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O Guardião do Oráculo de Visões
AdventureAlicia é uma garota comum que perdeu o pai em um acidente, dois dias depois do seu nascimento e que vive com a mãe, Suzanne. Alicia vê coisas. As imagens flutuam pelo ar, e começa a piorar com a maioridade de Alicia se aproximando. Ela terá de desco...