Capítulo 03

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                Eddie dirige pela estrada sem olhar pra mim, e eu sei que ele está se controlando pra não gritar comigo. A sua postura no volante está rígida e ele aperta tanto o volante que os nós dos dedos estão brancos. Eddie diz que sempre faço tudo do jeito mais diferente, o mais difícil.

                Chegamos em frente a um portão gigante cinza, e Eddie se aproxima de um ponto eletrônico e se identifica. O portão se abre e ele segue com o carro. A casa de Eddie é pintada em um tom de pastel e um tom de azul claro.

                Ele sai do carro e mesmo nervoso comigo, como é um cavalheiro abre a porta pra eu sair. Pega na minha mão e vem me puxando gentilmente pra dentro da grande casa. A sua mãe abre a porta bem na hora em que nós vamos entrar.

                Stella é uma senhora alta e esbelta, tem os olhos iguais aos de Eddie e um sorriso gentil. Gosto muito dela, apesar de ela também insistir que o filho tem razão.

    – Até que enfim. – diz ela me abraçando.

    – Ela não veio por vontade própria mãe. – diz Eddie entrando na casa.

    – Querida, você tem que encarar isso, já faz bastante tempo. – ela passa os braços nos meus ombros e me encaminha pra dentro da casa.

                O meu pai morreu em um acidente provocado por um cavalo, o maldito cavalo entrou na frente do caminhão e o meu pai nunca tinha matado um animal, segundo o que a mamãe contava, e nesse dia não foi diferente. Papai desviou do cavalo e a frente do caminhão bateu em uma arvore. Meu pai bateu forte com a cabeça e, segundo os médicos, morreu no local.

                O mais engraçado foi que o cavalo não fugiu, ele ficou o tempo todo do lado do meu pai, até a minha mãe chegar e vê-lo ali. Engraçado também foi minha mãe querer ficar com esse cavalo, não sei o que passou pela cabeça dela, só sei que ela pediu pra uma amiga, dona Stella cuidar do cavalo, já que a casa dela tem um estábulo.

                Quando eu tinha quatro anos a mamãe me contou tudo isso, e eu não entendi os motivos dela de querer ficar com o cavalo, ela só me disse: O seu pai morreu por esse cavalo, nós vamos ficar com ele. Eu quis ver o cavalo no mesmo dia, e ela me levou. E eu tenho de admitir, ele é realmente um grande cavalo. Ele tem o pelo todo preto e brilhoso, sua crina é negra também, e ele tem algo nos olhos que eu não consigo descrever, os olhos são de uma cor cinza escuro com umas listras brancas, e eles me deixam hipnotizada.

                Eu até gostei do cavalo, ele me fez sentir bem, mas ele tinha algo que me intrigava, me incomodava. O mais estranho de tudo é o fato de que quando eu toquei nele, não era apenas algumas coisas que saltavam no ar, a minha visão ficou super intensa e tudo saltava. Era como se ele quisesse me mostrar alguma coisa que só eu tinha de ver. 

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                Depois de um café preparado especialmente pra mim, eu decido acabar de vez com isso e ir ver o cavalo, e apesar de anos terem se passado, quando olho pra ele novamente, ele continua novo e belo. É um cavalo bem cuidado e muito manso, mas fica eufórico quando me vê, e isso assusta um pouco.

                Apesar de eu ser contra, Eddie insistiu em vir comigo até onde o cavalo está. Dona Stella preferiu ficar, disse que o filho pode muito bem me defender, o que eu achei desnecessário.  Eu não confio nesse animal, mas por incrível que pareça, ele me passa segurança.

                Ele é maior que eu, obviamente, mas curva a cabeça pra baixo quando percebe que vou tocá-lo, e eu toco. E nesse momento, nada mais existe, nem Eddie, nem o estábulo. Somos apenas o cavalo e eu, e o local do acidente do meu pai. E é disso que eu tenho fugido por tanto tempo. Mas apesar de tudo, dessa vez eu não me afasto. Dessa vez é diferente. 

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