segundo dia

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Will
Acordei bem cedo, obviamente, e logo derrubei meus irmãos das camas. Nos arrumamos e fomos começar nosso dia. Enquanto alguns deles tomavam café da manhã, os que trabalham na enfermaria pegaram algumas bandejas e foram ver seus pacientes, afinal, eu não sou o único a tirar uma casquinha desse período pós guerra, he he!
Eu, logicamente, fiz o mesmo que eles. Peguei o café da manhã de Nico e fui ao seu quarto. Entrei lá devagar, deixei a bandeja na mesinha ali presente e fui até a cama. Mas, em um primeiro momento, não tive coragem de acordar meu pequeno (sim, meu pequeno há há há!!!). Por que não? Bom, quando você vê um anjo dormindo, você não tem coragem de acordá-lo. Mas eu precisava. Então me veio a ideia mais óbvia do mundo: tirar uma foto dele assim. Peguei meu celular ilegal (eu também posso ser mau!) conferi pra ver se o flash estava desligado, porque eu não sou burro, e tirei a foto. (Não achei fanart do Nico dormindo, foi mal). O acordei, e a cara de sono dele é muito fofa!!!
W:- bom dia fofinho!
N:- não tem nenhum ser fofo aqui além de você, mas bom dia.
W:- owt, você é fofo sim! Trouxe seu café!
Nico esfregou os olhos e se sentou, coloquei a mesa retrátil e "servi” o café.
W:- posso te fazer companhia?
N:- claro.
W:- você não me parece muito disposto hoje.
N:- nada fora do comum, mas comparado aos meus últimos meses, estou me sentindo ótimo.
W:- verdade que você esteve no Tártaro?
N:- sim. E mandar alguém para lá é o pior xingamento que existe.
W:- bom saber. Então não mandarei ninguém pra lá!
N:- não mesmo, você não me parece uma pessoa cruel.
W:- não costumo ser mesmo, na verdade nunca fui, mas acho que se precisasse, eu seria!
N:- então você poderia ser um carrasco.
W:- isso não é um xingamento?
N:- também, mas carrasco é a pessoa que pune criminosos. O trabalho deles não pode ter piedade, eles tem que ser cruéis, por isso é considerado um xingamento.
W:- é, não, eu não conseguiria ser um carrasco.
N:- eu sou.
W:- como?
N:- eu já matei duas pessoas. Uma foi o Octavian, assassinato por consenso, você viu. A outra foi Bryce Lawrence, um decente de Orco. Ambos eram criminosos, e alguém tinha que puní-los. Hades me falou sobre isso. Mortes que não podem ser evitadas, tudo por um bem maior. Alguém tem que fazer o trabalho sujo, não é?
W:- mas... Você se dispõe a fazer isso sem pagamento?
N:- é a minha função. Como filho de Hades, eu devo preservar a justiça, e ela é mais certeira após a vida.
W:- parece uma maneira deprimente de viver.
N:- mas eu não vivo de verdade a quase 5 anos.
W:- então já está na hora de recomeçar!
N:- se a paz for mantida, seria uma boa.
W:- sabe, eu achava que você era mais irritadiço, mas você parece tão calmo...
N:- depende do momento. Agora, com você aqui, conversando comigo, eu me sinto melhor, mas sozinho...
W:- então companhia te faz bem?
N:- faz. Faz bem pra qualquer humano. Até onde eu sei, eu não sou sub-humano, mas sinceramente? Tem muita coisa que eu não sei.
W:- e se você for sobre-humano?
N:- não me parece uma possibilidade.
W:- mas tecnicamente é! Afinal, todos os semideuses são sobre-humanos.
N:- pensando por esse ângulo, é verdade.
W:- mas ainda podemos nos considerar humanos. Então, pronto para mais um dia?
N:- uhum.
W:- vamos dar mais uma volta?
N:- pode ser.

E, assim, levei Nico para a praia, depois para os campos de morangos, e por fim ao anfiteatro.
W:- ei Nico, por que você não canta um pouco?
N:- a não Will, por favor, não!
K:- eu ouvi uma proposta do Nico cantar? Canta Niquito, por favooooor!
E graças a minha irmã e alguns outros presentes no lugar, convencemos Nico a cantar pra nós!
Ele cantou firework da Katy Perry, e Get Lucky, da Daft Punk


Estávamos todos chorando de emoção, era lindo.
W:- bem otimistas esses músicas, você está melhorando, Lorde das Trevas!
Nico deu um sorrisinho acanhado, sem jeito com o elogio. Aaa, eu preciso desse homem pra mim meu santo Apolo! Ele tava todo coradinho meus deuses que fofo!
?:- é, cantou bem mesmo, peste!
Todo mundo ficou alerta, ninguém tem o direito de chamar o Nico de peste, ainda mais na minha frente! Até que localizamos o autor do xingamento: devia ser um filho de Ares, levando em conta os músculos, usava a camisa do acampamento, um jeans azul escuro, tênis velhos e gastos brancos, tinha olhos azuis doentios, cabelo preto e seboso, a pele era meio queimada de sol. Mas o pior de tudo: ele tinha uma bandana com uma suástica nazista amarrada no braço. Ele estava parado na entrada do anfiteatro, de braços cruzados e escorando o peso em uma das pernas.
W:- quem e você? E quem te dá o direito de xingar alguém?
H:- meu nome é Hans, e a parte de xingar? Bem, só estou apontando erros como essa bixinha aí.
Nico se encolheu, e todos nós começamos a rosnar para esse tal Hans.
W:- escuta aqui, se te incomoda, vaza! Ninguém vai lamber esses seus tênis encardidos! Deixa o Nico em paz!
H:- deixa de ser idiota, esse é o tipo de pessoa que merece o extermínio! Ele não é como eu, ou como você.
W:- por favor, me digam que ele não me comparou consigo mesmo!
H:- devia agradecer, você é loiro, de olhos azuis e é alto. Um ariano, ué! Não somos como esse tampinha alí.
W:- trata de calar a sua boca antes que eu não responda por mim!
H:- hã hã, você não tem chance contra mim cara. Só faz como eu e o mundo um dia fica livre dessas coisas nojentas.
Eu queria ter feito algo, mas eu fui impedido pelo próprio Nico. Ele me olhou passando uma mensagem silenciosa:"deixa isso comigo”.
N:- você sabe a ideologia que prega? Sabe como funcionava o nazismo? Ou o fascismo? Quantas pessoas morreram em função desses ideais? Quais eram os objetivos de Hitler ou de Mussolini? As crueldades cometidas contra milhares de pessoas? Tudo isso por serem diferentes? Não Hans, você não tem ideia. Mas vai ter. Eu garanto!
Nico pronunciou cada palavra com ódio absoluto, e Hans estava claramente se borrando de medo, mas tentava ao máximo disfarçar.
H:- há, e o que você pode fazer contra mim, resto de aborto?
Admito, eu estava explodindo de raiva desse puto!
N:- eu? Nada, imagina... Mas não posso falar por meus iguais, não é?
H:- c-como a-ass-ssim?
De repente, o chão rachou, e uma dúzia de almas agoniadas e uns 7 zumbis saíram dela. Todos aqueles mortos começaram a cercar Hans, os fantasmas sussurrando frases humilhantes e opressoras direcionadas ao semideus, enquanto os cadáveres lhe agarravam e açoitavam com chicotes de couro muito velhos, mas ainda bastante úteis considerando as marcas que ficavam pelo corpo do desgraçado. Hans gritava horrorizado, mas o grito aos poucos se tornou um sussurro indistinto clamando por piedade.
N:- desculpa.
O sussurro de Nico foi quase tão baixo quanto o de Hans. Ele olhava para a carnificina que havia causado, mas estava chorando litros. As desculpas foram para Hans. Nico não queria fazer aquilo. Mas sabia que era necessário, e ser justo era da sua natureza. Hans foi arrastado para o Mundo Inferior, e o chão foi novamente selado. Nico desabou, e não só seu corpo, mas seu coração também. Corri e o peguei no colo. Levei-o o mais rápido possível para a enfermaria. Tratei seu desgaste com néctar e uma cantiga curativa. Assim que me certifiquei de que estava estável, me sentei ao seu lado. Os antes presentes no anfiteatro vieram e perguntaram se ele estava bem. Eu disse que ele iria ficar e os dispensei. Segurei sua mão e entrelacei nossos dedos. Nada me faria abandoná-lo, nunca!

Aqueles três dias ❤️Onde histórias criam vida. Descubra agora