Nico
Escuridão, dor, agonia, ódio, tristeza, tudo isso me rodeava enquanto eu corria desesperado pelo fundo do Tártaro, fugindo a todo custo daquela horda de criaturas abomináveis. Algumas delas pediam-me para me juntar a eles, pois eu era tão tenebroso quanto o resto daquele lugar. Outras diziam que eu era tão inútil que mal serviria de lanchinho. Eu não sabia o que era pior. Criei uma distração para eles e me escondi em uma fenda no chão. Eu ofegava com o ar ácido dali. Mal conseguia respirar. Vozes, sussurros e ecos tentavam, e quase conseguiam, distorcer a minha mente e me enlouquecer. Meu passado voltava a tona sempre que eu parava e meu corpo aos poucos se adaptava ao pior lugar possível. Eu realmente estava virando um monstro. Sentia minha alma se esvair do corpo ao correr e tinha que me esforçar para mantê-la no lugar certo. Como pude achar que era imponente ali também? Eu era só mais um verme a morrer naquela merda! Senti meu corpo convulsionar, minha respiração engatar, meus olhos revirarem apesar de não ver nada. Outro ataque de pânico. Eles eram frequentes e já quase me mataram de fato.
Mas senti meu corpo ser abraçado, um calor familiar me rodear. Um sussurro, só que agora amoroso, carinhoso e confortável, deslizava por meus ouvidos. Eu reconhecia a voz. E o cheiro. Eu sabia quem era e perguntei aos deuses, às Parcas ou a quem mais pudesse me ouvir, o que eu fizera para merecer alguém tão amável ao meu lado. Encontrei sua mão e segurei. Com o braço disponível, retribuí o abraço. Fechei os olhos e senti as lágrimas. O sussurro se tornou mais vívido e minha visão foi clareando. Notei que estava em seu colo. O chamei, mas minha voz estava baixa e rouca, como se eu tivesse gritado muito. Não duvidava que talvez eu o fizera.
W:- graças aos deuses, Nico! Olha pra mim! Você tá melhor? Tá tudo bem?
N:- o que houve?
W:- você começou a gritar desesperado, ainda inconciente. Em seguida parou de respirar. Meus deuses, Nico, por que não me disse que tinha crises de pânico?!
N:- eu, só, eu não sei, fiquei com medo de dizerem que era drama e me mandarem ficar quieto.
W:- Nico, isso é um pensamento antiquado, hoje em dia se sabe que a ansiedade é um problema psicológico. Você não tem que ter medo de me dizer algo ok? Não vou revelar nada seu sem sua permissão. Pode confiar em mim, está bem?
Sorri, nunca alguém me tratou tão amavelmente.
N:- eu confio, Will. E...
W:- e?
N:- eu acho que... Olha, só, não se afasta de mim por isso?
W:- nada vai me afastar de você Nico, eu juro pelo Estige.
Engoli em seco com a sua fala. Um juramento pelo Estige é muito sério e se for rompido... F*deu.
N:- ok... Eu acho que, te amo. Tipo, no sentido romântico da coisa.
Me encolhi e baixei a cabeça, com medo. Mas ele levantou meu queixo e me beijou. Na boca, claro. Era meu primeiro beijo, nunca havia feito isso. Fiquei acanhado de início, mas fui me deixando levar. Só paramos quando precisamos de ar. Quer dizer, quando ele precisou porque eu consigo prender o fôlego por até dois minutos, mais ou menos. É muita coisa pra um ser humano ok?
W:- Nico... Namora comigo?!
Ri
N:- olha, acho que já deixei óbvia minha resposta.
Will me abraçou e beijou de novo.
N:- podemos só, assim, deixar a relação um pouco... Hã, discreta?
W:- quer guardar segredo? Se quiser, podemos. Me recuso a te pressionar.
N:- ok, eu quero. Mas não vai ser por tanto tempo. Ti amo mio sole.
W:- eu também te amo, meu anjo.
N:- Will. Eu posso, hã, te contar a minha história?
W:- é claro que sim meu anjo.
Narrei cada coisa (vulgo merda) que já me aconteceu. As vezes minha voz embargava, em trechos como a morte de Bianca. Tive uma crise de choro muito forte depois de falar tudo. Mas depois do choro, veio o alívio: eu tinha alguém com quem contar para tudo. Alguém que me amava, aceitava, respeitava e admirava independente do meu passado, das minhas escolhas ou das minhas condições psicológicas. Me amava por ser quem eu era e estava disposto à me tornar seguro. Alguém para me consertar em todos os sentidos.
Por fim, o cansaço psicológico me venceu, e pedi a Will que ficasse comigo enquanto dormia. Ele aceitou de bom grado, dizendo que amava ver o namorado dele dormir. Senti que Will fazia carinho em meus cabelos durante o sono, que sussurrava palavras de amor, carinho e ternura em meu ouvido, que me protegia de um mal intangível.Acordei do melhor sono da minha vida ainda com Will ao meu lado. Ele estava com uma xícara de café em uma mão enquanto a outra segurava a minha.
W:- bom dia honey.
N:- bom dia sole.
W:- dormiu bem?
N:- você nem imagina o quanto. E você?
W:- acordei não faz muito, e tive uma noite de sono espetacular, agarradinho no meu namorado!
N:- você está adorando empregar esse termo para se referir a mim né?
W:- muito! Vou te trazer um café reforçado, você comeu muito pouco ontem.
Will me deu um selinho e saiu. Suspirei que nem um idiota e admito, me orgulhei disso. Porque eu sou um idiota apaixonado e correspondido, um sonho difícil de realizar. Nós ainda teríamos que enfrentar situações azedas no caminho, mas eu me lembro do que Eros me disse (mesmo que eu o deteste, não posso tirar a razão dele), sobre que, para chegar ao lado doce do amor, precisamos passar pelo mais complicado e difícil primeiro. Eu vou fazer o que for preciso para amar Will sem fronteiras. Nem que eu tenha que reviver cada trauma, superar cada momento do meu passado e curar cada ferida e cicatriz da minha alma, eu estou disposto à tudo por ele.
W:- aqui seu café meu amor!
Meus pensamentos fluíram tão bem que nem percebi que ele havia entrado. Will havia trazido um capuccino, waffles em forma de coração, um sanduíche bem farto e uma salada de frutas. Quando vi a comida, percebi que meu apetite, à muito perdido, havia retornado, fazendo meu estômago roncar como não fazia há mais de um ano.
W:- no que tanto pensava que estava com aquela carinha boba?
N:- adivinha.
W:- hum... Não sei.
N:- em você!
W:- own, eu mal saí meu anjo, já pensando em mim?
N:- eu vou grudar em você pior que um carrapato nos próximos meses, me aguarde!
W:- mal posso esperar!
Caí de boca na comida, Will aprovou meu apetite melhorado e prometeu me levar pra passear onde eu quisesse. Escolhi ir para a praia, era o lugar mais vazio pela manhã. Ele entendeu o recado e me fez pôr um casaquinho, pois a maresia era gelada de manhã. Ele parecia uma mãe preocupada, ri com o pensamento. Mas uma recordação de ontem estragou meu dia. Hans... Droga, o acampamento deve me odiar agora!
W:- aquele puto está onde merece, meu amor. Você só fez o que muitos outros já queriam fazer tem muito tempo.
Olhei para ele, sentido meus olhos levemente arregalados.
W:- sei que estava pensando em Hans, e acredite, até Quíron pareceu aliviado sabendo que ele morreu. Você não cometeu nenhum erro quanto a isso, bebê. Fica tranquilo, ninguém aqui te odeia. Muito pelo contrário!
Ele me deu um beijinho no rosto, seguido por muitos outros. Ouvir aquelas palavras vindas dele era tão reconfortante... Acho que eu mesmo não conseguiria manter nossa relação em segredo. Ele era tão hipnótico, tão estupidamente sedutor e fofo... A, que caralho! Eu não sei como descrevê-lo, eu só sei que parece bom demais pra ser verdade!
A partir daquele dia, fui do Tártaro ao Elísio em um pulo...Teremos extra ❤️❤️❤️
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Aqueles três dias ❤️
FanfictionNico di Ângelo, o tão temido filho de Hades, está em condições precárias em relação a sua saúde. O primeiro a notar, é claro, é o doce, gentil e amável curandeiro e líder do chalé 7, Will Solace. Por isso, Nico terá que passar três (maravilhosos) di...