Numbers - 396/ HIATUS

Capítulo Um

Seus pais já haviam por tantas vezes lhe orientado a despeito de sua veia investigativa, ou como eles docemente apelidaram "necessidade compulsória de ser uma sabe-tudo", e ela neste exato momento, se arrependera amargamente de não os ter escutado ao menos naquela vez.

Deveria ter notado por si mesma que, talvez, realmente fosse uma verdadeira loucura se envolver em uma investigação sobre a Mercile ou qualquer outra causa que a associasse a ONE e, instintivamente ,a colocasse contra a empresa asquerosa. Estava agindo como aprendeu a ser durante toda sua vida, lutando por uma justiça e igualdade que acreditava veemente, mas agora, ali naquele momento, desejou ser menos altruísta e um pouco mais egoísta. Levando em conta que quem estava amarrada e drogada na parte de trás da porra de uma Kombi era ela, Aileen podia ser dar esse pequeno luxo.

Nunca havia visto um Nova Espécie, sequer havia chegado próximo dos muros de Homeland, mas comprou a luta deles e se tornou uma defensora porque era certo, porque era a atitude mais efetiva que podia ter tomado e se tornou uma espécie de "denúncia anônima" da Mercile nos jornais da Califórnia, mas daquela vez seu anonimato não a protegeu.

Aileen queria se encolher como uma pequena bola e se esconder de tudo e de todos, estava tentando levar seus pensamentos para longe, mas sempre teve problemas com ansiedade e logo uma enxurrada de pensamentos ruins afundava qualquer onda positiva que visse a ter. Tinha certeza que se não estivesse drogada estaria tendo uma crise de pânico, mas só conseguia piscar os olhos e sua visão logo se tornou embaçada pelas lágrimas.

Ela podia ser o que fosse, podia ser uma jornalista que ia a fundo trabalhando com a investigação de figuras poderosas e perigosas, mas sempre se sentiu segura, nunca puderam lhe ameaçar porque nada sabiam sobre ela, nunca havia enfrentado um risco real. Seus pais eram imigrantes escoceses super protetores com a filha única, então ela sempre foi uma garota reclusa em seu quarto com seu mundo vivendo ao alcance de seus dedos, talvez por isso tenha escolhido ir a campo na sua profissão, queria viver, ter experiências e não suposições de como tudo seria. Ainda sim, ela nunca havia sido machucada e se sentido tão assustada como se sentia agora.

Queria dizer que fez a forte, que agiu com indiferença que lutou ,e até teria tentado por um instinto básico de sobrevivência, mas a droga que a deram a deixou com controle apenas sobre suas pálpebras e até seus pensamentos estavam mais lentos. Não teria vergonha de implorar por sua vida, numa tola tentativa de apelar a uma misericórdia que não viria dos caras que a levavam, mas a esperança era a última que morria, que fosse piegas, mas era tão sincero.

- O que você acha que o doutor vai fazer com ela?- um dos caras a olhou, ele ainda usava a máscara preta que lhe cobria o rosto e só deixava espaço para olhos azuis perversos e uma boca fina de sorriso cruel.

- Não sei.- o cara ao volante disse e ela sentiu seu corpo ser jogado para o canto devido a uma curva brusca e logo começar a chacoalhar, pareciam ter entrado numa estrada de terra.- Você não vai lá atrás.- a mesma voz fria soou e Aileen teria se encolhido se tivesse controle das suas habilidades cognitivas,  quando viu o cara no banco do passageiro se inclinar para passar para a parte de trás do veículo, no local em que ela estava.

- Ah qual é Jim?! Ela não vai fazer nada, não consegue nem falar, o doutor nem vai saber.- ele se forçou mais uma vez para a parte de trás e o outro cara segurou o braço dele com força.

- Não porra! Ele vai saber se você fizer sujeira.- a voz do motorista aumentou um tom, já irritado com a insistência do parceiro.

- Eu não vou gozar dentro e posso limpar ela depois.- As lágrimas turvaram completamente a visão de Aileen e ela gritou e lutou contra as amarras em seu subconsciente, mas na realidade a única coisa que conseguia fazer era apertar os olhos com força e fingir que nada daquilo estava acontecendo.