Capítulo 13

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A primeira coisa que Fynn fez ao entrar no meu quarto foi me puxar para um abraço de urso. Estava apertado demais porém era de um abraço daqueles que eu precisava. Às vezes a gente realmente só precisa de um abraço.
Quando nos afastamos, ele retirou meu moletom e depois a minha camiseta, me deixando nu, mas não porque ele estava me vendo sem camisa, mas porque ele conseguia ver os cortes nos meus dois braços e na minha barriga. Ele não parecia assustado mas eu estava, porque nunca parei para analisar meus machucados, eu apenas os fazia. Percebo que agora tinha centenas dele.
Fynn segurou meu braço, tocou nos machucados e com muita calma abaixou a cabeça e beijou as feridas. E, como resultado, eu comecei a chorar porque... você já se sentiu tão amado assim?
Ele deu um sorriso de lado e me abraçou de novo, mas dessa vez menos apertado. Afundei minha cabeça em seu peito e ele realmente não parecia se importar se eu estava encharcando sua camiseta com lágrimas. Fynn colocou uma das suas mãos no meu cabelo e acariciou, como se eu fosse um cachorro, gato, como preferirem. E, às vezes, ele deixava alguns beijos no topo da minha cabeça. Nenhuma palavra saia da boca dele, mas todos aqueles gestos já me faziam me sentir melhor e pela primeira vez na vida eu entendi a frase "gestos valem mais do que palavras" porque falar qualquer um fala, não é? Qualquer um fala um "eu te amo" mas Fynn diz isso sem precisar abrir a boca e bem, isso só me deixa mais apaixonado por ele.
É claro que eu prefiro ter atendido o celular e escutar o "alô?" dele do que ter metido uma bala na minha cabeça.
Quando eu já estava mais calmo ele fechou a porta do quarto e caminhou comigo até a cama. Tudo isso sem se afastar de mim. Fynn se deitou no colchão da cama e me fez deitar em cima dele, o que não era uma ideia ruim já que a cama não é muito grande para dois, porque é de solteiro.

- Você não tinha um trabalho de biologia pra fazer? - perguntei, de repente, me lembrando de ter visto ele e a garota Barbie no Fiat vermelho. - Com aquela Lily.

- É uma longa história - riu. - Você deve saber que a Lily é irmã da Charlie e a família delas é toda preconceituosa.

- Eu não sabia.

- Bem, então, quando estávamos no caminho para a biblioteca da cidade eu comecei a dizer o que ela poderia fazer, dividindo o trabalho, sabe? - balancei a cabeça e ele continuou: - E nesse momento ela me olhou incrédula e disse "você é negro então deveria fazer tudo sozinho." Como se eu fosse um escravo.

- Meu Deus, sério?

- Seríssimo - bufou. - Então eu parei o carro e falei para ela descer que eu faria o trabalho todo sozinho.

- Por que você fez isso? - perguntei. - Deveria ter dado uma lição de moral pra ela!

- E quem disse que eu não vou dar? - ele sorriu. - Eu vou fazer o trabalho sozinho mas eu não vou colocar o nome dela, só o meu e depois explicar a situação pra professora no dia da entrega.

- Espera, então ela...

- Sim, vai ficar com um zero bem redondo.

Automaticamente, comecei a rir sem parar.

- Não acredito, Fynn! Você é incrível!

- Eu sei, obrigado.

Quando me acalmei da risada, resolvi perguntar:

- É a primeira vez que você sofre racismo?

- Não, mas eu sei lidar com eles - deu de ombros. - Fogos no racistas e essas coisas, sabe?

- Sei.

Comecei a rir de novo, ainda não acreditando no que Fynn tinha feito. Bem, a garota Barbie mereceu.

- Morgan?

- Sim?

- Eu queria te beijar agora - senti meu rosto esquentar. - Será que eu posso?

Tirei minha cabeça do seu peito para conseguir ver seu rosto e sem pensar duas vezes o beijei. Foi um beijo um tanto desajeitado mas também o melhor que eu já tive.
Fynn me pegou pela cintura e então agora ele estava em cima de mim. Voltamos a nos beijar e quando paramos ele sussurrou um rápido "eu te amo" e eu tentei responder um "eu também te amo" o mais rápido possível.

- Podemos fazer uma promessa? - Fynn perguntou, segurando uma das minhas mãos e me lembrei que ainda estava sem camiseta. - Pode tentar não se cortar mais?

- Fynn - mordi o lábio inferior. - Eu não sei se...

- Vamos fazer assim - ele me interrompeu. - Toda vez que sentir vontade de se machucar me ligue que eu venho correndo, tudo bem?

- Tudo bem.

Fynn abriu um dos seus melhores sorrisos e colocou a cabeça em meu peito. Eu resolvi acariciar seus cachos, como ele estava fazendo comigo e às vezes também deixava um beijo entre eles. Seu cabelo era bem cheiroso.

- Fynn, obrigado.

- Pelo que?

- Por me amar e por ter ligado aquele dia.

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