Deixei as lágrimas caírem sobre meu rosto, molhando minhas bochechas e embaçado minha visão.
Não sei porquê mas estou tendo um ataque.
Por quê? Nada de ruim aconteceu, nada, foi um dia bom. Eu me dei bem na prova de redação, passei o dia com meu namorado e os meus amigos incríveis. Então por que? Por quê?
Voltei a chorar.
Fynn me disse que eu deveria ligar para ele toda vez que eu me sentisse assim, mas simplesmente não consigo.
A música Can I Call You Tonight? soou pelo quarto. Observei a tela do meu celular aparecer escrito "amor" acompanhado de um coração vermelho. Como ele sempre sabe as horas certas de ligar?
Atendi.— Alô?
— Nossa, que voz de choro — disse ele, o que me fez rir entre as lágrimas. — Você estava chorando?
Balancei a cabeça mas lembrei que ele não conseguia me ver, então depois de alguns soluços eu respondo um "sim".
— Eu estou indo aí.
— O que? — me assustei. — Fynn, já é quase duas horas da manhã, você não pode...
— Posso sim — interrompeu. — Já estou chegando, me espere, amor. Eu te amo.
Antes que eu pudesse dizer "eu também te amo" ele desligou. Rapidamente, eu já comecei a me sentir melhor.
Depois de alguns minutos, meu celular brilhou de novo, mas dessa vez com uma mensagem.
Abre a porta para mim
Sai do quarto com cuidado, desci as escadas e tentei abrir a porta sem fazer barulho nenhum. Quando Fynn me viu, ele imediatamente me abraçou. O abracei de volta. Eu não estava mais chorando a essa altura.
Fechei a porta e subimos em silêncio para o meu quarto.— Então, o que aconteceu?
— Sei lá — dei de ombros. — Eu sempre tenho esses ataques do nada.
— Sabe, eu nunca perguntei antes — disse ele, enquanto brincava com os meus dedos. — Por que você tem depressão? Alguém te fez mal?
— Na verdade não, eu sempre tive uma vida "perfeita" — respondi, tentando pensar em tudo que eu já tinha vivido. — Nunca tive amigos antes mas minha mãe e minha irmã sempre me trataram bem. A morte do meu pai me abalou, mas nem tanto. E agora as coisas estão melhores, tenho amigos finalmente e você.
Ele sorriu e me beijou rapidamente.
— Então se não é a morte do seu pai, o que você acha que é?
— Bem, eu me arrisco a dizer que é de família — engoli em seco. — A minha vó se matou quando era mais jovem, eu nem cheguei a conhecer. Ela se pendurou com uma corda no ventilador de teto do próprio quarto, minha mãe que a achou. Até hoje ela tem problemas com isso, esse é um dos maiores motivos de eu nunca ter de fato me matado. Não queria que a minha mãe tivesse que viver tudo de novo.
— É de família, mas tudo bem — Fynn parou de brincar com os meus dedos e apertou minhas duas mãos bem forte. — Vamos superar isso juntos, você não vai acabar como a sua vó, nunca.
— Bem, as coisas têm ido bem, já faz um tempo que eu não me corto e nem sinto vontade.
— Então já é um avanço.
— Fynn.
— Sim?
— Eu amo você, muito, obrigado por tudo.
— Não precisa me agradecer — ele me beijou. — Eu também amo você.
Deitamos na minha cama aos beijos e aos poucos adormecemos abraçados.
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Alô?
RomanceMorgan Thompson é mais um adolescente da cidade de Picton na Nova Zelândia que cansou da vida, literalmente. Então, em um dia de coragem, ele finalmente decidi que vai colocar um fim em tudo e sentir-se em paz. Ele escreve a melhor carta de suicídio...