Conhecendo o Jardim

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Chapter 1

Narrador


É difícil acordar todas as manhãs sem sua avó por perto. Sem o cheirinho do café fresco, o barulho da chaleira chiando, a luz da sala acessa e a televisão ligada no mudo. Jo Yuri realmente sente saudade de sua avó.

A decisão tomada pela garota fora muito difícil, mas necessária: teve de levar sua avó, Jo Yunhee, à um asilo. Yuri insistiu que ela ficasse, mas Yunhee a disse que estava na hora de ela começar a viver por conta própria, afinal, Yuri se tornara uma adulta há 2 anos.

Contra sua vontade, Yuri levou sua avó até asilo escolhido pela mais velha, que alegou estar indo para o local para seu próprio bem estar e que estaria pagando suas próprias despesas, porém tudo com uma condição: Yuri deveria visitá-la ao menos 1 vez por semana. E assim ela cumpre a promessa feita a sua avó.


Jo Yuri 


Estou a caminho do asilo em que minha avó se encontra. Ainda é difícil acordar sem ela, sem o  típico som da chaleira chiando, mas logo irei me acostumar. Olho pela janela do ônibus, que como sempre está vazio, afinal, quem vai até um asilo situado na dita "zona rural", que está mais para arredores, de Seoul.

O trajeto é lindo, desde as verdes e floridas árvores anunciando a primavera até os pequenos arbustos. Minha avó tem um ótimo gosto.

O asilo, ou como prefiro chamar, casa de descanso para idosos, é novo, fundado há cerca de 3 anos. Mesmo que recente, o local é encantador, com enormes jardins, boa higiene, ótimo desenvolvimento de hobbies e lazer. Falando assim até pareço uma resenhista. Quando menos percebo, estou rindo sozinha.

Chego ao meu destino: o ônibus para em frente ao local. Encaro o grande casarão branco, com a placa escrito "Casa de repouso Novo Viver". O nome é bem genérico, ponto negativo na minha resenha mental. Entro no local, que cheira sempre a alguma flor, indo direto à recepção.

 - Yuri! — Diz a recepcionista. — Você sabe que não precisa mais passar aqui, pode ir direito ver sua avó.

 - Mesmo assim, gosto de seguir essa rotina, Chaeyeon. — Respondo com um sorriso no rosto, e Chaeyeon sorri de volta.

 - Nesse caso, um instante. — Chaeyeon dá uma pausa curta, pigarreia e volta a falar enquanto mantém um semblante sério e profissional.  — Bem-vinda, no que posso lhe ajudar, Jo?

 - Muito obrigada. Por favor, onde se encontra Jo Yunhee? — Pergunto entrando na brincadeira de Lee.

 - No jardim, como de costume. — Diz Chaeyeon. — Algo a mais?

 - Hm... Obrigada! — Dou uma pequena pausa. — E... me promete que jamais irá falar assim comigo novamente? — Digo brincando, e ela deixa sua característica risada escapar.

 - Claro, pode deixar! — Responde Chaeyeon entre risadas.

Sorrio para Chaeyeon, logo indicando que estou indo ao encontro de minha avó, e ela sorri de volta. Faço o caminho de sempre, passando pelos corredores com bolinhas coloridas, fora o branco há mais 12 cores espalhadas pelo casarão, mas todas se fazem presentes nos corredores. Passo pela grande porta de vidro que dá acesso ao jardim, logo enxergando minha avó e uma garota acompanhando-a. Vou em direção à ambas.

 -... e então eu disse para ela que jamais deveria fazer aquilo de novo, porque... — Yunhee se pronunciava, parando assim que nota minha presença. — Yuri! — Ela se levanta da cadeira branca e vem em minha direção, abraçando-me.

Retribuo o abraço. Ah, como é bom estar nos braços de minha avó. É como dizem: o abraço de quem você ama, e que te ama de volta, é o melhor lugar no mundo. Assim que minha avó desfaz o abraço, noto o olhar da outra garota sobre mim. Conheço cada funcionária do local, mas nunca a vi antes. Ela parece tão jovem e tão... tão carismática e energética.

 - Você veio aqui a dois dias atrás, mas já senti saudade. — Diz minha avó em tom zeloso enquanto fixa seu olhar no fundo de meus olhos.

 - Vó, você deveria voltar lá para casa então... — Respondo.

 - Jo Yuri, já conversamos sobre isso. — Ela responde, mudando de tom. — Por favor, mudemos de assunto. Como está passando os dias? Arranjou um emprego? Ou quem sabe um... — Minha avó se aproxima de mim, cochichando em meu ouvido. — namoradinho!

 - Vó! — Exclamo em surpresa. — "Jo Yunhee, nos já conversamos sobre isso". — Imito sua frase recente, e ela cai na gargalhada junto a mim. Percebo que a garota no fundo tenta esconder suas risadas. Ela emana um ótima energia, consigo sentir, por mais que ela esteja um pouco longe de mim. Eita, estou realmente parecendo com minha avó.

 - Yena. — Diz minha avó, e a garota que se encontrava com ela vem em nossa direção. — Essa é minha neta que tanto lhe falei, Yuri.

 - É um prazer lhe conhecer, Jo Yuri. — Yena reverencia em minha direção. — Me chamo Choi Yena. — Sua voz é doce, marcante e animada.

 - Por favor, sem formalidades, Yena. — Respondo sorrindo. A energia dela realmente contagia. — Você é nova aqui, certo? — Yena assente com a cabeça, sorrindo de a ponta a ponta.

 - Nako teve que ir visitar sua família no Japão, aparentemente seu avô morreu. — Minha avó se pronuncia. — Nisso apareceu Yena. — Ela aperta as bochechas de Yena, fazendo com que ela pareça com um pato bochechudo.

 - Então você adotou mais alguém como neta? Bom saber. — Respondo em tom cômico, e todas rimos da situação.

Conversa vai, conversa vem, até que Yena se pronuncia.

 - Se me permitem, estou indo, para dar mais espaço para às duas. — Diz ela.

 - Não, fique, por favor. — Respondo. Mas... como? Foi totalmente inconsciente, não pensei na ação.

 - Fique! — Súplica minha avó.

 - Se esse é o caso, que tal uma volta pelo jardim? — Sugere Yena.

Eu e minha avó assentimos, logo perambulando pelo jardim. Minha avó acabou por nos ensinar sobre cada flor do local, seus prós e contras, suas energias, o que significam. Yena estava claramente impressionada com o conhecimento de minha avó, uma viciada de carteirinha em botânica.

Nos sentamos no banco em baixo de um pinheiro, várias pinhas espalhadas pelo chão, desenhando sobre o verde gramado. O sol se põe a nossa frente; o tempo passou rápido, como sempre.

 - Melhor eu ir. — Digo assim que checo meu relógio, já são 18:40.

- Fique mais um pouco, por favor. — Minha vó pede, apoiando seu braço em meu ombro.

 - Estarei de volta daqui 2 dias, prometo. — Respondo. Então indo em direção a minha avó, a dando um abraço de despedida. Relutante, desfaço o abraço. — Tenha que ir, se cuida.

 - Foi bom te conhecer, Yuri. — Diz Yena sorrindo enquanto olha no fundo dos meus olhos.

 - Digo o mesmo. — Respondo. — Por sinal, cuide bem da minha avó. — Abano para elas, e Yena faz um certo com a mão, então me direciono à porta de vidro, voltando ao casarão.

Passo pela recepção, encontrando Chaeyeon mais uma vez.

 - Já está de saída? — Pergunta.

 - Sim, mas volto daqui 2 dias, como sempre. — Respondo. — Se cuide, Chae.

 - Você também, Yuri.

Saio do local, chamando um táxi para voltar para a cidade... Lá se vão cerca de 5 mil wons, ao menos bem gastos.

Sigo meu dia com minha rotina de sempre: fazer nada enquanto encaro o celular. Peço uma comida do meu restaurante preferido. Passa-se um tempo e me deito em minha cama, encaro o teto.

 - Um dia bem gasto. — Digo para mim mesma.

Encaro o teto pensando em assuntos aleatórios, até que caio no sono por volta das 22:14.

Até que um barulho me desperta: a notificação vinda do desconhecido.

Garden Of Glass | YulyenOnde histórias criam vida. Descubra agora