CAPÍTULO I

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Era uma manhã gloriosa e eu estava correndo. Os primeiros raios de sol do dia batendo no meu rosto. Uma pasta com o meu currículo descansava em uma mão e o meu café da manhã em outra. Quando eu estava quase entrando em uma empresa para realizar a bendita entrevista de emprego, eu esbarrei com um homem, a pasta voou para um lado e o copo de café voou para o outro. Só o copo mesmo, porque o café todo ficou no meu sobretudo.

— Caralho, lavei isso ontem. — Gritei.

— Minha nossa, você está bem? — O homem perguntou, preocupado. Não havia um pingo de café sequer em seu terno. Ele era muito sortudo, ou eu que era muito azarada?

— Estou ótima, — Falei indicando o estrago. — o meu ex-futuro-chefe está lá em cima esperando a funcionária mais perfeita e bem vestida do mundo, e eu estou aqui toda esculhambada e além disso atrasada.

O cara fez uma careta e juntou a pasta com o currículo do chão. Ela havia voado quase três metros de distância, bem que poderia ter sido eu a voar até a puta que pariu.

— Me desculpe, quanto a...

— Tenho que ir, valeu, estou saindo. — O interrompi, não estava disposta a perder nem mais um segundo.

Saí correndo novamente até a recepção, falei o meu nome e a recepcionista, uma loira oxigenada, disse que eu deveria esperar, pois o chefe havia saído.

— Chupa. — Para quem pensou que estava terrivelmente atrasada...

Depois de 10 minutos, porém, eu já estava desgostosa com a demora. Depois de 20 minutos, eu já estava bufando. E depois de 30 minutos, eu já estava xingando o cara de todos os palavrões que conhecia.

Então quer dizer que eu acordei o galo levantando as 5 da manhã, para chegar aqui e o filho da égua atrasar horrores para me atender?

— SN. — Chamou a recepcionista depois de 40 minutos.

— Até que fim, minha filha, que demora, esse homem estava fazendo o que, cagando?

A mulher pareceu ficar surpresa com a minha pergunta natural, pois sua boca se abriu em um círculo perfeito. Ela se ergueu da cadeira, e pediu para segui-la.

Entramos em um elevador e fomos para o último andar.

— Puta merda. — Falei ao ver o luxo do lugar. Era chiquíssimo, só a maçaneta da porta provavelmente custava um rim.

A recepcionista se despediu com um sorriso e eu entrei no escritório onde faria a entrevista. O chefe estava sentado, não consegui ver seu rosto, pois ele se encontrava de costas para mim, admirando a vista da cobertura.

— SN, não? — Perguntou ele.

— Sim, eu mesma.

— Então, o que você diria ter a oferecer a nossa empresa? — Ele rodou a cadeira para me olhar, porém se desequilibrou e caiu de cara no chão.

— Ai.

Tentei segurar o riso, mas não consegui. Soltei uma risada escandalosa e sem querer imitei um porco asmático.

— Minha nossa, você está bem? — Perguntei, ainda rindo.

Quando o chefe se reergueu pude ver seu rosto. Era o homem com quem havia me esbarrado anteriormente. Fiquei tão vermelha quanto molho de tomate.

— Droga, você não vai me contratar nem a pau, não é?

— Em momento algum eu disse isso. — Ele respondeu com uma expressão de dor. — Irá depender de seu desempenho e suas qualificações.

— Ah.

— Então, sente-se. — Ele indicou a cadeira e eu sentei. — Bem, o que você, SN, diria que pode oferecer a essa empresa?

— Ah... — Olhei para ele, olhei para vista atrás dele, olhei o hamster em uma gaiola sob a cômoda, e depois voltei o olhar para o meu colo. Puta merda, o que eu poderia oferecer a ele? — Bem... — Pensei em tudo que eu fazia de bom além de comer e dormir, mas não encontrei outra coisa útil para àquela situação. — Eu ofereceria meus serviços. — Aquilo soou mais como uma pergunta do que como resposta.

Ele estreitou os olhos, estudava-me fria e calculistamente.

— Mas se o senhor duvida disso... — Tirei uma carta da manga. Quer dizer, não exatamente uma carta, nem tirei exatamente da manga. Na verdade era a pasta que eu tinha e eu a tirei da bolsa. — Aqui está. — Estendi a pasta para ele.

Ele abriu e leu o currículo dentro dela, que tinha um total de zero qualificações. Depois, passou a ler o segundo papel e teve especificamente a reação que eu esperei: Arregalou os olhos, escancarou a boca e me fitou.

— UMA DÍVIDA DE CINCO MIL REAIS?

— Sim, se o senhor não acha que irei trabalhar como uma condenada para pagar isso, está redondamente enganado.

— Está contratada!

Comemorei dando pulinhos na cadeira.

— Seja bem vinda a nossa empresa, SN, eu me chamo CEO, — Ele estendeu sua mão e eu a apertei. — espero que tenhamos uma boa relação profissional, e que você consiga pagar esse horror de dívida.

— Agradeço.

Porra, eu tinha um emprego!

A SN e o CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora