Aquele foi o momento onde tudo fez sentido, uma janela aberta do saber o que estava acontecendo naquela semana, foi um choque de alívio e de tristeza. Quando tudo encaixou-se, tudo quebrou-se. Não sabia o que fazer ou falar, apesar de não estar diretamente na conversa, ele apenas falou ao meu lado, mas não para mim. A semana estava estranha, nossos papos não duravam nem um segundo, estava grosseira com minha amiga que recentemente descobri que, apesar do jeito que tratava-me, ela apenas queria ser sincera comigo, ela não queria fingir pra mim e por isso disse-me que fui sua melhor amiga.
Falei com uma pessoa que confio e sinto completa liberdade de dizer sobre mim à ela. Ela disse que ele era de lua, ou seja, cada dia tá alguém, como todos nós. Digo, claro que eu sabia disso, mas ouvir dela me aliviou. Eu não consigo confiar totalmente em mim, então ter uma segunda opinião é sempre melhor.
Mas voltando ao ponto, ele guardou segredos de mim, claro que é total liberdade dele, ele quem cuida da vida dele e não precisa tirar satisfação comigo, mas é que aquilo não era normal conosco. Eu senti como se não fosse confiável, como se eu não realmente fosse alguém única; alguém substituível. Então, as paranoias começaram, ele sabe que eu superei o que houve, certo? Ele sabe que mudei e até sinto-me rejuvenescida? Ele sabe que não o amo mais daquele jeito? Por quê ele está afastando-se de mim? Estávamos bem, MUITO BEM.
Os pensamentos começaram... Estamos em um karaokê? Vamos cantar agora? Eu não posso, eu vou errar; essa novidade ainda não me desceu, não posso ficar aqui, por quê tudo parece diminuir? Por quê não consigo respirar?
Digo que vou embora. Sem resposta. Digo novamente mais alto. Ninguém ouve. Desisto e começo a sair de lá. Ele nota, ele pergunta o motivo e eu apenas aponto para meu celular, não digo nada e ele entende. Foi uma mentira sem precisar falar, só tinha que sair de lá.
Começo a andar, angústia no coração. Ele não confia em mim, como não notei antes? É por isso que tudo estava tão estranho. Tudo parecia tão bem, eu estava bem e aceitando o fato de que não o amo mais como antes.
De um tempo a outro, quando pude voltar a fincar os pés no chão, era tarde demais. Estava na esquina da rua, a noite silenciosa era perturbadora, bares abertos e homens a solta. Mas estava sozinha. Cada carro que passa, meu coração disparada; será hoje que serei sequestrada? A inquietação era tão intensa quando o medo, o medo de ser atacada e feita de comida servida aqueles que encaravam-me.
Era difícil controlar meus pés que queriam dali correr, desejei voltar pra onde estava e aguentar a dor de não ser quem diziam que eu era. O medo e anciedade estavam em seu auge, até que notei que não havia mais ninguém na rua, não tinha certeza se era a realidade ou uma ilusão, porém não aguenrei mais e corri. Corri como se minha vida dependesse daquilo, dei um grito e quando voltei a consciência, não me arrependi daquela loucura toda. Desse ato que eu não parei de fazer, fez sentir-me a liberdade.