Bianca
Mari - Bi... - Ela falou quando todos se aproximaram da nossa mesa.
O tom de voz era quase um pedido de desculpas, mas por mais que eu quisesse olhar pra ela eu não conseguia desviar os olhos do homem que me olhava completamente sem graça. Era uma situação fudida, mas não era culpa de nenhum de nós. Nem da Mari por ter escolhido o mesmo restaurante que a gente, nem do Caio por ter decidido se mudar pra California e nem do meu querido marido, que decidiu escolher o dia de hoje pra ser uma pessoa legal e agradável. O silêncio estava me matando, mas eu simplesmente não conseguia dizer nada.
Josh - Vocês querem se sentar com a gente? - Ouvi ele dizer.
Era nítido que ele estava se esforçando mais do que nunca e eu simplesmente não conseguia retribuir o esforço.
Mari - A gente não quer atrapalhar. - Mesmo sem olhar pra ela, eu sabia que ela estava forçando um sorriso.
Josh - Tenho certeza que a Bianca vai adorar. Ela já deve estar de saco cheio de me ouvir falando. - Brincou.Mesmo com a brincadeira e por mais que todos tivessem feito um esforço pra ao menos sorrir, a atmosfera não tinha ficado menos sufocante. Pelo menos não pra mim. Eu quase podia sentir o ar do lugar indo embora. Lucas foi o primeiro a puxar uma cadeira ao perceber que Josh estava firme e forte na ideia de tentar ser uma pessoa agradável pelo menos durante o jantar. Antes que todos pudessem sentar, eu consegui finalmente tirar os olhos do Caio quando ouvi uma vozinha me chamando.
Mel - Mamãe! - Ela gritou antes de pular no meu colo.
Mel estava rindo, completamente alheia à tudo que estava acontecendo. Por um segundo, me permiti ser como ela e sorri de volta pro meu raio de sol.
Eu - Oi, minha filha.
Era a primeira coisa que eu falava desde que o Caio entrou pela porta do restaurante. Minha voz saiu um pouco falha, mas ninguém pareceu notar.
Mel - Amigo. - Falou e apontou pra um garotinho que brincava no parquinho.
Eu - Você fez um amiguinho, Melzinha? - Perguntei animada e ela assentiu com a mesma animação.Não demorou nem dois segundos pra ela pular do meu colo e ir de volta pro parquinho, me fazendo lembrar que eu ainda tinha algo pra enfrentar. E que, por mais que eu quisesse, não dava pra ser como a Mel e ficar alheia à tudo.
Eu - Então... - Comecei.
Eu não sabia muito bem o que falar, mas eu precisava falar algo.
Eu - Algo deu errado no jantar, eu assumo? - Forcei o maior sorriso que consegui.
Puxei a mão do meu marido e coloquei por baixo da minha em cima da mesa. Por uma fração de segundos, vi que os olhos do Caio foram pra nossas mãos entrelaçadas.
Soph - Caio deixou a Isa cozinhar... Sabe como é, né?
Isa - Já falei que a culpa não foi minha.Isso bastou pra abrir a conversa e o clima melhorou um pouco. Eu e Caio continuávamos calados e dessa vez não nos atrevíamos a olharmos na direção um do outro.
Josh - E o que fez você se mudar de novo, Caio?
Assim que ouvi a voz de Josh se referir à Caio, fiquei tensa. Meu corpo todo gelou e meu olhar foi de encontro ao dele. Ele parecia relaxado e apavorado ao mesmo tempo. Era como se Josh não fosse o problema dele.
Caio - Oportunidade de trabalho que não pude recusar. - Deu de ombros.
Josh - Então não foi por vontade própria? - Ele usou o tom de pergunta, mas pareceu mais como uma afirmação.
Caio - Sempre bom ficar perto da família e dos amigos, mas não... Eu não pretendia voltar. Pelo menos não agora.
Josh - Algum motivo especial?Josh estava fazendo perguntas demais e eu não sabia dizer o motivo. Eu não tinha medo que Josh descobrisse tudo que vivi com o Caio, eu tinha medo de ter que desenterrar coisas que eu enterrei bem fundo. Caio me olhou brevemente antes de finalmente responder a pergunta.
Caio - Sim, alguns motivos em especial. Nada que venha ao caso agora. - Desconversou.
Josh - Temos que fugir dos nossos demônios, eu concordo. Apesar da minha mulher viver me dizendo que deveríamos é enfrentá-los. Sabe como é, né? Psicóloga. - Sorriu, me abraçando de lado.Todos da mesa forçaram um sorriso, menos eu e Caio. Estamos fugindo de alguns demônios há anos porque simplesmente tem algumas coisas que não vale a pena enfrentar.
Caio
Porra. Porra. Porra.
Eu seria capaz de usar todos os palavrões nesse momento. Nem com mil anos afastado eu conseguiria me preparar pra entrar nessa porra de restaurante e olhar enquanto Josh esfrega a Bianca na cara de todos e a filha linda deles corre pelo parquinho. Tenho quase certeza que isso pode ser considerado tortura. Mari ficou apertando minha mão embaixo da mesa durante todo o jantar, mas nada seria capaz de tirar o peso das minhas costas nesse momento. O peso de todas as dúvidas que eu venho enterrando por anos e que Isabelle ajudou bastante a desenterrar hoje à tarde.Eu - Com licença. - Falei, chamando a atenção de todos. - Vou lá fora pegar um ar. - Disse antes de me levantar.
Abri a porta do restaurante e senti o vento bater na minha cara. Porra, eu estava sufocando lá dentro. Parecia que minha roupa tinha diminuído três números e iria me apertar até me matar. E ela parecia tão perfeitamente plena. Ela não tinha uma mecha do cabelo fora do lugar. Vestida naquela porra daquele vestido vermelho que parece que foi desenhado pra se ajustar as suas curvas. Aquele sorriso doce que vi ela direcionar pra sua filha. O cabelo caindo perfeitamente pelas costas. E a porra da mão entrelaçada no idiota do marido perfeito. Eu sabia que morar aqui não ia ser fácil, mas eu não achei que um simples encontro seria tão difícil. Tem tanta coisa que parece querer pular da minha garganta. Tantas frases presas na minha mente. Mas eu preciso ficar quieto. Eu prometi que estaria torcendo pela felicidade dela de longe e não que iria surgir do nada pra tentar acabar com a família perfeita que ela conseguiu criar.
Mari - Sufocando lá dentro?
Me assustei com a voz dela e me virei. Minha irmã mais nova me olhava como se ela quisesse me abraçar, mas não sabia se deveria.
Eu - Impossível respirar.
Mari - Você não é o único.Não sei qual motivo Mari tinha pra querer sair de lá de dentro, mas também não quis perguntar. Nada disso era problema meu.
Mari - Se você quiser ir embora...
Eu - Não. - Interrompi. - Isso não vai dar certo, Mari. Por quanto tempo eu vou continuar sumindo?Me fazer essa pergunta agora era quase uma piada. Eu nunca deveria ter sumido.
Mari - Vai ser difícil.
Eu - Porra, sem dúvidas. - Admiti. - Vai ser o inferno.
Mari - Pelo menos você não vai estar sozinho. - Falou pegando em minha mão.
Eu - Nunca estive. - Sorri.Quem diria que um dia a Mariana seria a pessoa que me consolaria por causa da sua melhor amiga de infância. Os papéis realmente se inverteram.
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A amiga da minha irmã
Roman d'amourParte 2 de "O irmão da minha amiga". O tempo passou, mas Bianca nunca parou de se perguntar como teria sido se ela soubesse perdoar na época. Como fazer pra matar as borboletas que insistem em brotar no estômago quando os olhares se cruzam? Como ig...