Capítulo 2 (Não sou mais criança!)

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Se passaram três meses, era outono e Bart precisava tomar uma decisão. 

      - Senhor, me dê um sinal, não posso continuar aqui, mas também tenho medo do que pode estar por vir! Exclamou Bartholomeu em sua oração.

Já era tarde, Bart deitou em sua cama, molhou as pontas dos dedos com saliva e, com cuidado, apagou a vela que melancolicamente iluminava o seu quarto e se pôs a dormir. Naquela noite, um sonho surpreendeu o jovem rapaz com respostas e certezas, ele sentava em sua cama e via centenas de anjos a sua volta e, na mão de um deles, logo a sua frente, em um pedaço de papel velho estava escrito com a letra mais linda e detalhada que ele já havia visto: 

"Somos muitos, você nunca estará sozinho. Quando precisar de ajuda, ouvirá a nossa voz!".

Era 7:00 da manhã e Bart saltou da cama tão eufórico que ouviu um "creck"... Era uma ripa de madeira da sua velha cama se quebrando, como a família era pobre, ganhava os móveis já usados de amigos e fregueses. Pedrina se admirou, pois o filho não acordava tão cedo em dias que não haviam vendas.

      - Algo leva o meu menino preguiçoso a levantar tão cedo? Viu algum passarinho verde na janela?

      -Mãe, preciso daquelas malas velhas que temos guardadas na garagem, a senhora me ajuda a limpa-las?

      -O quê pensa que vai fazer? É aquela velha história de sair pelo mundo em busca do tal sonho? Sou sua mãe e digo: NÂO! Gritou Pedrina, nervosa.

      - Mas mãe...

      - Você não vai sair assim pelo mundo, eu não vou permitir!

Bart se impôs e prontamente exclamou:

      - Mãe, eu não sou mais criança! Não serei para sempre seu bebê, no qual carrega consigo para onde bem entende. Eu cresci, mas acho que você nunca vai entender isso!

Nesse momento, os dois já estavam chorando. Pedrina abraçou o filho e disse:

      - Você vai, filho, mas saiba que sempre estarei aqui!

Francisco, que acordou com os gritos que ecoavam pela casa, ficou furioso, mas já não tinha volta, Bart estava decidido!

Antes de partir, haviam muitas coisas a se resolver, então Pedrina se prontificou a limpar as malas e Bart foi visitar os inúmeros amigos para despedir-se. Naquele dia muitas lágrimas rolaram, pois era querido por muitos, mas Bart precisava ser forte e encarou todas as fraquezas como força, para prosseguir.

Enfim em casa, já se findava o dia. Pedrina havia preparado um jantar especial de despedida, era arroz com brócolis e algumas batatinhas e ovos. Simplicidade era algo que não faltava na mesa da família Esposito (o sr. Francisco era filho de italianos, daí a origem do sobrenome), pois não tinham condições de nenhum tipo de fartura.

      - Fiz o que mais gosta, meu filho!

      - Como eu estava com vontade de comer seu arroz com brócolis, a senhora acertou em cheio!

Francisco ainda não estava conformado com a ideia da partida do filho, mas sua esposa o convenceu de respeitar a escolha do menino. Francisco era um homem carrasco, com típicos costumes italianos, rudes e grosseiros, além de a frustração de não poder andar afetar bastante o seu humor, mas ainda assim era mais calado, não usava suas palavras em vão.

Bart estava exausto, não havia mais energia para seque quebrar um graveto, pois, além de um dia cansativo, foi de tomada de muitas decisões difíceis, então nada melhor que uma boa noite de sono, mas dessa vez, tudo acompanhava a sensação de despedida. Pela ultima vez ajoelhou-se aos pés de sua cama e se pôs a orar, depois deitou-se apagou a vela e dormiu, e esse era o ultimo dia naquela casa, com sua família.

   - Acorda, filho! Já são quase 10 da manhã e ainda demos muito a se fazer.

Bart sentou na cama, espreguiçando-se e aos pés de sua cama já estavam todas as suas roupas, passadas e dobradinhas, prontas para ir às malas, não eram muitas, caberiam facilmente nas duas velhas malas. Naquele dia, tudo era diferente, Bart contava até os passos de sua cama para o banheiro, sua expressão estava diferente, no espelho rachado e cheio de manchinhas, ele percebia seus olhos brilhantes e sua testa franzida de preocupação.

O único dinheiro que tinha dava apenas para pagar o barco e sobrariam algumas moedinhas, então Bart pegaria o último barco daquele dia, que sairia as 5 da tarde. Enquanto Pedrina arrumava suas roupas, tentando encaixá-las na mala menor, o filho organizava os inúmeros folhetos na mala grande, não contendo assim as lágrimas em seus olhos. Ele não tinha tempo, mas queria ler cada cartilha antes de colocar naquela mala. 

Finalmente malas feitas. O almoço era a sobra do jantar do dia anterior, mas Bart sabia que seria o ultimo almoço em família. Conversaram, riram, choraram... Aquele começo de tarde ficou marcado na vida de toda a família. Todos estavam sensíveis, mas confiantes na capacidade de Bart.

Era chegada a hora da partida, naquela casa só se viam lágrimas. Todos estavam com suas melhores vestimentas, os pais o acompanharia até o local de partida do barco. Bart segurava as malas enquanto Pedrina levava Francisco em sua cadeira de rodas. A sirene do barco chegando nunca foi tão longa, era como se ela fosse uma faca, que cortava o coração de todos a cada toque.


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⏰ Última atualização: Jul 10, 2020 ⏰

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