Coração curado [Concluído]

Coração de ritmo perfeito

"Se você não tem coragem, confie
Tudo se tornará ontem de qualquer maneira"
BTS - Tomorrow

Existem momentos na vida nos quais temos a rara oportunidade de aproveitar nossos sentidos em todo seu potencial. Tudo em mim ficou incrivelmente desperto, automaticamente atraído pela pessoa cujo rosto eu nem via, que mexia o corpo em uma maestria perfeita, justa, incrivelmente calculada e fluida, ao passo em que seguia o ritmo frenético de uma música antiga e muito popular.

O pulsar de meu coração não demorou a se sincronizar com a batida da música e com o ritmo da dança que eu assistia, atenta a cada mínimo movimento. Era como se o órgão central do meu corpo, responsável por bombear o sangue que me mantém viva, tivesse me abandonado para servir a ele.

A pessoa, que presumi ser um homem - uma vez que o moletom largo e o capuz na cabeça não me deixaram ter certeza -, deu um giro triplo em torno do próprio eixo, jogou as pernas no ar tendo como apoio apenas uma palma da mão plantada no chão, se levantou com um salto para trás e ficou na vertical novamente. Eu estava boquiaberta, todas as articulações do meu corpo já doíam por ele e aquele espetáculo solitário ainda nem tinha acabado.

Acredite se quiser, mas ele deu um salto mortal e aterrissou, emendando o movimento em outro passo de dança que jogava as pernas para frente e depois para o lado, uma de cada vez. Quase comecei a acreditar que não era mais uma dança e sim um artifício mágico que fazia com que eu ficasse presa ali. Eu estava cativa.

A música terminou e ajoelhando-se no chão ele findou a coreografia. Não fui capaz de me conter diante daquela maravilha. Tomada por uma energia dinâmica e solar, me pus a aplaudir com toda a intensidade de minha surpresa e admiração, esquecendo que eu era uma estranha ali e não a platéia de um show.

Ele se assustou e imediatamente virou a face para mim, me olhando com os olhos arregalados.

Senti-me envergonhada por ter invadido seu espaço pessoal e visto o que não era de minha alçada, mesmo assim continuei aplaudindo porque ele tinha desperto em mim uma vontade incontrolável de adorá-lo e amá-lo até minha morte.

Sim, ele. Era mesmo um homem. Pude ver completamente seu rosto quando ele abaixou o capuz, claramente mais calmo por ver apenas uma jovem parada na porta e não um bandido ou um monstro.

Não tenho pesar algum ao dizer que ele não fugia à regra geral daqueles que moravam ali. Era um homem bonito. Tão estonteante que me fazia ter vontade de desviar o olhar, como se eu estivesse mirando o próprio sol.

Ele sorriu largo e seus olhos pequenos, perfeitamente equilibrados na face estreita, ficaram mais apertados. As maçãs do rosto se sobressaltaram dando ao jovem um ar tão incrível quanto aquele inicial, de quem estava realmente cansado pelo esforço físico. E depois dessa inesperada mudança para o estado luminoso, aquele homem que era praticamente uma estrela nascida para estar no centro de uma galáxia, rodeado por planetas e afins, ficou sério.

Se antes eu não conseguia lidar com sua luminosidade, a partir daquele instante eu não soube o que fazer diante daquela expressão naturalmente sexy que a natureza tinha colocado ali por conta própria.

Foi incrível quando tive noção da quantidade de vezes que meus sentimentos já tinham mudado desde que eu tinha pousado meus olhos sobre ele. Aquele homem me controlava sem intenção, pelo simples fato de existir ali.

É a isso que chamam de carisma e presença? Creio que são armas mais poderosas que bombas.

— Quem é você? — A fala dele era ligeiramente afobada e alta.

— Sou sua serva. — Respondi a primeira bobagem que veio na minha mente.

Coloquei ambas as mãos no rosto quando percebi o disparate que tinha dito, porém logo tratei de me fazer de louca e fingir que nunca tinha dito aquilo, afinal ele tinha reagido com um "o quê?", o que na minha mente era uma nova oportunidade.