Tudo termina em pizza

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    Os botões do controle em minhas mãos eram manuseados rapidamente movendo o carro vermelho pela pista de corrida do vídeo game, o som dos pneus derrapando pelo asfalto preenchia a sala.
    Eu estava tão concentrada no jogo que me assustei assim que ouvi o barulho repentino do aspirador de pó sendo ligado naquele ambiente, me fazendo perder o comando do carro e o mesmo capotar surgindo as palavras "game over" na tela da tevê. Olhei para a criatura que havia me feito perder como se fosse atacá-lo a qualquer momento, mesmo com os olhos fixos nele, ouvi sua risada assim que o aspirador foi desligado.

    - Ei!! Precisava ligar essa coisa justo agora que eu estava quase ganhando?!- Minha voz estava banhada em indignação.

   - Ah não faz mal, você ficou jogando isso o dia todo, deve ter até decorado as pistas do jogo - respondeu ainda com um tom de divertimento na voz. Cruzei os braços forçando a expressão mais irritada que eu consegui.

   - Fazer bico não vai mudar a verdade - Riu mais ainda se aproximando de mim e depositando um leve beijo nos meus lábios, porém não mudei minha expressão.

   - Não adianta tentar me agradar, sabe que não tem muita coisa que eu possa fazer e ainda estraga minha única distração.- Apontei meu pé enfaixado apoiado em uma almofada.
Por causa do incidente tive que fechar a galeria por algum tempo, consequentemente ficava o dia todo no tédio enquanto Nick cuidava dos afazeres domésticos.

    - Por que não termina de ler aquele livro que você vive reclamando de não ter tempo de terminar?- Apontou para estante de livros ao lado da tevê. O sorriso irritantemente lindo não saía de seus lábios nem por um decreto. Golpe baixo. Não vou conseguir ficar brava por muito tempo.

    - Já terminei.

    - Mas e....

    - Já terminei todos os outros também- Interrompi sua frase já sabendo o fim dela e dei um sorriso vitorioso.
- Até o meu? - perguntou sorrindo

    - Esse foi o primeiro, amor. - Retribui o sorriso.
Ele estreitou os olhos em minha direção e foi se aproximando novamente do sofá onde eu estava, uma vez que já estava ao lado do eletrodoméstico para continuar a faxina do apartamento. Quando parou à minha frente, me encolhi, não tinha pra onde correr e mesmo que tivesse, a lesão em meu pé me impediria de chegar muito longe. Mordi um sorriso que queria sair, eu sabia que ele tentaria fazer cócegas em mim sabendo que esse é meu ponto fraco. Milésimos de segundos depois, senti seus dedos mexerem-se rapidamente sobre minha barriga me fazendo rir no mesmo momento.

    - Não, não, não, pa...paraaaa - fui dizendo entre nossas risadas já sentido o ar se esvair dos meus pulmões.
Depois daí tudo aconteceu muito rápido, consegui segurar seus pulsos ainda gargalhando e quando ele tentou se levantar, tropeçou no tapete felpudo da sala levando nós dois ao chão.

   Quando caí sobre ele ainda riamos sem um motivo específico e eu ainda segurava seus pulsos. Rolei para o lado me deitando no tapete tomando cuidado para que eu não batesse meu pé em lugar nenhum piorando a situação, cair da escada já foi o suficiente.
Nicholas apoiou a cabeça na própria mão sustentada pelo cotovelo apoiado no chão se virando de lado e me olhando, o sorriso ainda não abandonava seu rosto deixando seus traços mais leves de certa forma. Desde o momento em que nos conhecemos, ele me ganhou com aquele sorriso em específico, era diferente dos outros, me passava tranquilidade, sempre me acalmou nos momentos tempestuosos que passamos.

   Ele analisava cada traço do meu rosto como se quisesse guardar cada um deles na memória, encarei seus olhos heterocromáticos, o verde predominava, porém observando com atenção pequenos pontos castanhos podiam ser vistos, mesmo sendo considerado um erro genético, ainda possuía uma beleza peculiar. Nunca me cansava de admirar aqueles olhos tão únicos.
Senti sua outra mão sobre meu rosto afastando alguns fios de cabelo dos meus olhos prendendo-os atrás da minha orelha, seu polegar fez um leve carinho em minha bochecha e a essa altura um sorriso bobo já dominava meus lábios.

    - Olha o que você fez, está atrapalhando minha faxina, honey - ri do apelido bobo, fazendo referência ao dia em que nos conhecemos.

   - Oh! Me desculpe, a madame já pode voltar a tirar o pó da casa - revirei os olhos de forma teatral e rimos mais uma vez.

    - Eu te amo, garota boba - Sussurrou colando nossas testas.

    - Também te amo - Não importa o que aconteça, mesmo em momentos tão simples como esse, os sorrisos estavam sempre presentes em nossos rostos.

    Como eu amava essa leveza, sempre foi assim, tudo tão natural, desde o começo da nossa amizade até o começo de um relacionamento amoroso, depois de tudo o que passamos juntos nem mesmo as discussões mais sérias podiam estragar isso, é aquele famoso ditado: No fim, tudo termina em pizza! E no nosso caso, seguíamos ele à risca.

Furta-corOnde histórias criam vida. Descubra agora