A Teoria do Buraco Negro

O misterioso Buraco Negro Emocional

— Seokjin, o que é um buraco negro? — Minha mãe me perguntou, enquanto eu puxava o Odeng pela coleira para darmos um passeio. Revirei meus olhos.

— Mãe, eu já disse que quem sabe sobre essas coisas são os físicos teóricos, eu sou engenheiro! — bati a porta, arrastando meu poodle toy para fazer suas necessidades numa das ruas mais pacíficas de Seoul.

Mas para falar a verdade, eu sabia exatamente a definição de um buraco negro. A teoria diz que quando uma partícula carregada é sugada por um buraco negro, sua informação deixa um rastro, uma impressão para trás.

Às vezes, eu penso sobre muitas outras coisas na física, muitas outras teorias e leis, penso sobre o quanto elas se parecem com a vida e no quanto todas as coisas no universo partiram da observação de determinados fenômenos. Quando algo acontece em nossas vidas, deixam um rastro, principalmente uma mágoa, não importa a profundidade do corte, a cicatriz sempre será uma lembrança viva do acontecimento passado, acho que assim como outras coisas podem ser aplicadas ao cotidiano, isso também pode. Na realidade eu tento a todo momento trazer as coisas baseadas em estudo para a vida cotidiana, fiz isso durante os meus cinco anos de engenharia, me ajudaram a entender melhor os cálculos.

Eu sempre fui muito bom em humanas, principalmente em coisas que tinham a ver com se expressar, expressar quem nós somos, nossos sentimentos e desejos, nunca fui muito bom em guardá-los, não sei até que ponto isso é um problema, mas se fossem me caracterizar como algo, diriam que eu sou extremamente transparente; é bom, não acredito que sentimentos devam ser liberados até certo ponto, não gosto de coisas rasas, o que eu gosto mesmo é de transbordar.

No entanto, quando o meu pai morreu por causa de um ataque cardíaco enquanto eu ainda estava no terceiro ano do ensino médio, minha mãe sentia tanta falta dele que me obrigou a fazer a faculdade de Engenharia. Ele era engenheiro, um brilhante engenheiro por falar nisso, minha mãe não me obrigou, ela só disse que eu deveria ir, eu não aguentava mais vê-la tão triste; no fundo, eu sentia que iria orgulhar ela se o fizesse, então fiz. No começo não era muito a minha praia, não entrava em minha cabeça, mas com um pouco de determinação, lembrando que minha mãe precisava disso e eu também eu fui, me esforcei verdadeiramente e as coisas se ajeitaram.

Eu sempre tive esse desejo de deixá-la orgulhosa, na escola as melhores notas eram minhas, eu sempre ficava em primeiro lugar e vê-la sorrindo para mim era a melhor coisa em minha vida. Bom, algumas coisas nunca mudam.

Me formei em engenharia e logo fui chamado para trabalhar com Engenharia aeroespacial pela Faculdade de Tecnologia de Seoul, por causa de minhas boas notas, eu nunca a vi chorar tanto e repetir “Seu pai ficaria tão feliz se estivesse aqui”. Me doía ouvir isso, não pelo peso que obviamente aquilo trazia, e sim porque eu sabia que ela sentia tanta falta de meu pai que nem mesmo a minha presença poderia substituir. Ninguém substitui ninguém na vida de outra, são amores diferentes, essa é verdade.

No entanto, as coisas foram se ajeitando, eu lhe dei um cachorro, o qual ela pôs o nome da comida favorita do meu pai, continuei em casa com ela porque não queria deixá-la só e nem ela mesma queria isso e a gente foi seguindo, levando a vida como pôde até aqui. Não reclamando, na realidade a minha vida é ótima.

Levei o cachorro de volta para casa e peguei a bolsa de lado que levo para a faculdade, saindo de casa enquanto minha mãe estava na cozinha, dançando ao som de Frank Sinatra e cozinhando Japchae para o jantar. Eu realmente gosto do Japchae dela, eu gosto de qualquer um, mas a forma como ela faz é extraordinária. Nunca entendi como as mães conseguem tornar qualquer prato absurdamente mais gostoso ou tornar o gosto diferente, apenas por ela ter feito. Fico desacreditado.

Inclusive, a música que ela estava dançando, era o cantor favorito do meu pai, uma vez que ele era americano e adorava aquele jazz antigo. Coloquei para tocar no carro enquanto estava dirigindo também.