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Aplico mais uma camada de gloss, quero meus lábios cintilantes para esta sexta feira. Meus olhos também brilham bastante ao espelho. O cabelo já com uma escova muito simples. A roupa padrão passada no ferro quente na noite anterior fica muito confortável em meu corpo. Eu não me incomodo com a blusa de botões com mangas e de listras de cores leves, e a saia evasê de única cor não é de forma alguma medíocre para mim.
As cores das roupas também são um padrão, azul claro e branco.

Penduro por fim meu crachá. A identificação é o mínimo dos solicitados. Um hospital daquele tamanho abriga muitos funcionários. Ocorrem os turnos e trocas, portanto é constante a apresentação, seja do sei nome ou sobrenome.

Olho-me pela última vez. Pareço bem simples e bem qualificada. Exatamente como o hospital gosta. Em oito meses já deu para reparar no estilo da unidade. Passo a mão singelamente no cabelo e saio do quarto segurando minha bolsa.

Antes de me dirigir para baixo e apanhar uma fruta para ir saciando minha fome até o hospital, entro no quarto de Agnes para me despedir. Me apoio no canto do berço e lá vejo como ela dorme profundamente. Ela é uma criança que é bem amiga do sono, desde bebê digamos. A boca levemente aberta demonstra o quão bom e profundo esta o sono em que ela embarcou. Me pergunto se ela já sonha, se sim, como desejo que sejam os sonhos mais graciosos que alguém possa ter.

Ela fica tão meiga e engraçada neste pijama de urso panda, por ser de calor, acaba sendo mais folgado e sutil. Fico pelo menos uns cinco minutos alisando suas bochechas fofas e seus pés macios. Sorrindo, com o inconsciente muito benevolente. Eu não sorrio atoa, eu tenho um motivo para sorrir diante dos meus olhos.

- Bom dia, pequena. Te amo. Até mais tarde. - Falo baixinho e vou saindo do quarto de costas. Sempre antes de sair gosto de guardar a imagem adorável dela.

Saio do quarto dela com o mesmo aperto no peito de todas manhãs, se fosse possível a levava comigo. Me dói saber que Gregory faz as coisas para ela apenas por mando meu, não por vontade própria. Chegando a cozinha, na geladeira esta pregrada uma das evidências das minhas denúncias. A lista de ocupações e afazeres com Agnes para Gregory se lembrar e realizá-las durante a minha ausência.

Se não fosse pelo home office imposto pela empresa, sei que ele não teria dificuldade nenhuma de colocá-la em uma creche integral. Ela é tão bobinha e serena. Mau começou a andar e falar. Eu pretendo colocá-la apenas em seus cinco anos completos. Três anos é muito pouco, ele sabe disso, mas não é apto a cuidar dela. Sua impaciência e ignorância não o permitem.

Pego a minha fruta e vou até seu escritório o avisar que estou saindo. A minha presença na soleira da porta não desperta sua atenção. Ele continua a olhar para o seu notebook, não importa eu e muito menos Agnes.
Fico o olhando para ver se ele vai ao menos erguer os olhos para me ver, mas não, o aparelho informático parece mais interessante do que eu.

Suspiro e vou me aproximando dele, levemente seguro seu rosto e dou-lhe um beijo leve de despedida.

- Bom dia, vou indo Greg. - Falo seu apelido carinho.

- Até. - Ele diz-me friamente. Suspiro.

- Você já tomou café ? - Tento puxar uma conversa, mas recebo a mesma resposta fria.

- Já. - Ele fala. Detalhe, em momento algum ele tirou seus olhos do notebook.

Eu novamente suspiro. Eu não perdi meu respeito e carinho por ele, foi ele sim que por mim perdeu. Eu não comecei a agir friamente e com antipatia, ele sim. De uns três meses para cá eu penso, que talvez eu tenha gostado de algo que eu mesma inventei em Gregory, pois ele não é e não vai ser presente e gentil nunca.

Mas eu sei que ele não ficou assim pela chegada se Agnes, ele ficou assim quando pedi-lhe um novo filho. Não estou errada quando digo que inventei algo bom nele para me apaixonar. Terrivelmente egoísta a ponto de não respeitar o sonho de uma pessoa. Nem ao menos uma justificativa basilar de que queria esperar por mais um tempo, algo que muitos tem em mente. Foi exatamente a ofensa e humilhação.

Não esqueço tão rápido os palavreados jogados contra mim. Ele sempre teve um jeito impaciente dentro de si, mas frio e mau educado estou conhecendo dentro destes meses. Meu irmão Ethan diz que é apenas um tempo para que as pessoas deixem suas máscaras caírem, ele já disse isso sobre Ethan.

A única gratidão que tenho por Gregory, é Agnes, o resto é um misto de preguiça e desilusão.
Sinto que o que me resta de consideração por Gregory vem de Agnes, apenas dela, de minha amada filha. Ele por si só, me esgota e me zanga. Seu papel está começando a se tornar irrelevante.

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⏰ Última atualização: Jul 12, 2020 ⏰

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