O Dia.

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{24 de setembro de 2016}

– Eu sinto muito, Wei Ying, eu sinto muito. — A voz de Wen Ning, que ecoava em minha frente, quase que desaparecendo. Minha visão parecia embasada a cada segundo que se passava, eu dava passos lentos para trás, meus olhos marejados e meu coração se apertava em minha caixa torácica.

– Você se enganou, A-Ning, diga-me que se enganou, diga-me que não é o mesmo Lan Wangji, o mesmo homem com quem me casei, o mesmo que buscaria nosso filho comigo daqui a 5 horas, Wen Ning eu estava contando os segundos para isso, você precisa dizer que é mentira e que ele vai passar por essa porta daqui a 20 minutos, irá me abraçar e me olhar com o sorriso que sempre me deu. Wen Ning...

Cada uma de minhas palavras saíam embrulhadas perante as lágrimas e soluços que eu dava. Não queria acreditar. Depois de tantos anos, justo quando eu estava feliz ao lado de quem eu amava mais do que tudo nesse mundo, ao lado de quem sempre confiou e acreditou em mim. Lan Wangji estava morto e eu sozinho. Novamente.

A-Ying, a pancada foi forte, é difícil falar isso a você, mas ele não resistiu e sequer chegou ao hospital, eu lamento de verdade.

4 anos.

Eu repetia em minha cabeça que a esse ponto, não prestava mais atenção na voz grave do mais novo.

4 anos de casados. 9 anos juntos. E ele se foi. Ao menos me deu adeus.

Em um impulso, sem pensar duas vezes, com as mãos semi–serradas, meu pé se ergueu empurrando a mesa de centro que havia na sala, quebrando o vidro e o vaso de flores, o líquido transparente em meu copo se derramou pelo chão e os cacos quase viraram pó. Um grande arrepio percorria meu corpo, meu estômago se revirava, a dor em minha cabeça se tornara mais forte, o olhar de Qing sobre meu corpo se tornou triste, junto ao de Ning. A palma das minhas mãos suavam e ficaram ainda mais molhadas quando tocaram meu rosto.
Cada momento, beijo, toque, abraço, olhares, palavras, agora se tornaram lembranças, às quais nunca irei me esquecer, às quais passarei para meu filho. Nosso filho.

As horas passaram, Qing buscou SiZhui comigo, o pequeno ainda era um bebê. 1 ano, apenas. Eu ainda tentava digerir as palavras que Ning tivera e dito mais cedo, olhando o pequeno sorriso de A-Yuan — Lan Zhan iria adorar ensiná-lo... Sim! Ele iria... — No percurso, eu imaginava como minha vida seria perfeita se ele não tivesse ido embora poucas horas atrás, cada imagem que se passava em minha mente, me destruía cada vez mais. — Lan Zhan, volte para mim, eu busquei nosso filhote, o mesmo que nós escolhemos juntos, o mesmo que se agarrou em sua perna, você lembra? — Um breve sorriso tomou minha face com meu pensamento besta, por um instante, achei que ele podia estar me vendo em qualquer lugar da terra... E talvez sim, ele realmente podia estar me vendo, eu não sei como funciona essa coisa de além da morte.

O enterro chegou e lá estava eu, ver seu corpo pálido e fraco me desligava do mundo, sua aparência extremamente bonita e ajeitada, pela primeira vez, estava completamente perdida, a coloração labial já não existia mais e foi aí que a ficha caiu, eu já havia chorado a noite toda, nenhuma lágrima saía, meus olhos custavam a piscar, parecia que eu tinha desaprendido a respirar. Seu irmão, Xichen, no final do enterro me entregou uma pequena caixa de veludo azul e branca. As cores do nosso casamento.

– Wei Ying! — Eu estava prestes a ir embora. — O meu irmão... Bem, ele pediu para que eu passasse os áudios para as fitas. — Ele riu baixo por um tempo curto. — Disse que era uma surpresa para você, eu me questionei por um tempo sobre as fitas, afinal ninguém mais usa walkman.

Eu peguei a caixa de veludo com as mãos trêmulas, em cima, em cores douradas, a frase "Para meu único e grande amor, Wei Ying", então eu finalmente sorri.

Obrigada, Xichen, sou grato a você e eu lamento por isso. — O olhar rolou até o chão, os sentimentos de Xichen eram parecidos.

Lembro-me de passagem que no outro dia eu me acordei, meu corpo doía e minhas olheiras gritavam.

"São quatro horas da tarde. Pela nossa rotina, que eu me lembre, nesse horário ele estaria chegando do trabalho e eu chegaria daqui a uma hora. Ele iria me receber na porta de casa e falar a mesma frase de todos os dias durante os exatos 4 anos de casados:

– Wei Ying, eu estava contando cada segundo para a sua chegada.

E então ele me beijaria delicadamente, mesmo depois de uma briga boba, não importa o que acontecesse ou quanto tempo se passasse, ele estava lá me esperando. Mas hoje não é um dia qualquer e creio que nos próximos dias, todos serão iguais a este."

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{24 de setembro de 2020}

4 anos se passaram. SiZhui está na escolinha e eu... Bom, sentado na mesa do meu escritório. Ao lado do meu computador, há uma foto minha e de A-Zhan com SiZhui nos braços, foi no dia em que o vimos pela primeira vez. Como sempre, eu sorri olhando para o retrato. O tempo passou rápido, A-Yuan está com 5 anos já e eu beirando os 30... Céus, parece que foi ontem.

No carro, enquanto eu e o pequeno voltávamos para casa, com o olhar inocente e duvidoso, Yuan olhava para a janela do carro, paracia pensar em algo.

– Querido, diga ao papai, no que tanto pensa? — Seu olhar se voltou para mim e por longos segundos ele me observou, eu manti meu sorriso, mesmo que aquele dia pesasse sobre mim.

– Papai... Por que eu não tenho uma mamãe? — Eu engoli um seco, sabia que logo isso viria a tona, mas ainda não estava preparado. — Hoje na escola, eu vi várias crianças com suas mamães e papais, então... Uma delas falou que era engraçado eu não ter uma.

– SiZhui, assim que chegarmos em casa, vou lhe mostrar algo, tudo bem? Quanto aos deboches das outras crianças sobre esse assunto, falarei com a diretora. Não é engraçado não ter uma mamãe ou outro papai, entendeu? Jamais liguei para comentários desse tipo. — De relance, vi o pequeno assentir com a cabeça e o silêncio tomar conta. Assim como toda a semana, eu pegaria as fitas deixadas por Lan Zhan junto com o walkman e iria escutá-lo, cada palavra e respiração que agora, se tornaram inexistentes.

𝗥𝗘𝗦𝗧𝗔𝗥𝗧 - Foɾᥱʋᥱɾ... Mყ.Onde histórias criam vida. Descubra agora