6-A Terceira Linguagem do Amor: Receber Presentes

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Estudei antropologia em Chicago. Devido às detalhadas etnografias, visitei pessoas fascinantes por todo o mundo. Estive na América Central onde pesquisei as avançadas culturas dos maias e dos astecas. Cruzei o Pacífico e analisei as tribos da Melanésia e Polinésia. Estudei os esquimós das vegetações das tundras, ao norte; e os aborígines ainos do Japão. Examinei os padrões de cultura relativos ao amor e casamento, e descobri que em cada cultura, o ato de dar presentes faz parte deste processo.
Os antropologistas, em geral, são apaixonados pelos padrões culturais que distinguem as culturas e eu também o sou. Será que o ato de presentear é uma expressão fundamental de amor que transcende barreiras culturais? Será que a atitude de amor está sempre acompanhada do ato de conceder? Essas perguntas são acadêmicas e de certa forma até filosófi- cas, mas a resposta a elas é sim. Podemos inclusive notar uma profunda implicação prática nos casais norte-americanos.
Fiz uma viagem antropológica de campo à ilha de Dominica. Nosso propósito era estudar a cultura dos índios do Caribe. Foi nessa viagem que conheci Fred. Ele não era do Caribe, mas um jovem negro de 28 anos. Perdera uma de suas mãos com uma dinamite, em uma temporada de pesca. Devido ao acidente teve de abandonar sua carreira de pescador. Ele possuía muito tempo disponível e eu apreciei o fato de poder contar com sua companhia. Passamos muitas horas juntos e conversamos sobre sua cultura.
Em minha primeira visita à sua casa, ele me perguntou:
— Sr. Gary, o senhor aceitaria um suco?
Ao que aceitei prontamente. Ele, então, virou-se para seu irmão mais novo e disse:
— Pegue um suco para o senhor Gary.
Seu irmão deu-nos as costas, saiu de casa, subiu em um coqueiro e trouxe um lindo coco verde em suas mãos. Fred recomendou-lhe que o abrisse. Com três rápidos movimentos de faca seu irmão furou-o, e fez uma abertura triangular na parte de cima.
Fred entregou-me o coco e disse:
— Aqui está seu suco.
O líquido era esverdeado mas eu o bebi assim mesmo, todinho! Eu o tomei porque sabia que aquele fora um ato de amor. Eu era seu amigo e eu sabia que ali só se oferece suco aos companheiros.
Ao final de algumas semanas, quando já se aproximava minha hora de partida daquela pequena ilha, Fred deu-me uma última prova de seu amor. Era uma enorme concha em espiral, que ele mesmo havia tirado do oceano. Tinha uma camada que, de tanto ser friccionada pelas rochas, lembrava, ao toque, uma seda macia. Ele me disse que aquele objeto encontrava-se naquelas praias há muitos anos e gostaria que eu o levasse como recordação daquela bela ilha. Ainda hoje, quando olho para aquela concha, quase posso ouvir o som das ondas do Caribe. Porém, ela é mais do que uma recordação das praias de Dominica; é uma demonstração de amor.
Um presente é algo que você pode segurar em suas mãos e dizer:
"Ele pensou em mim!" ou, "Ela se lembrou de mim!"
Antes de comprarmos um presente para alguém, pensamos naquela pessoa. O objeto em si é um símbolo daquele pensamento. Não importa se foi caro ou barato. O importante é que ele seja a prova desse desejo. E não é somente a intenção em nível da mente que se conta, mas o pensamento demonstrado de forma concreta através de um presente que se torna uma expressão de amor.
Muitas mães contam histórias de que seus filhos trouxeram-lhes flores do quintal como presente. Elas se sentem amadas, mesmo que seja uma simples flor do jardim delas que não gostariam que fosse apanhada. Desde muito pequenas as crianças sentem-se inclinadas a dar alguma coisa a seus pais, e isto é uma boa indicação de que dar presentes é fundamental para o amor.
Presentes são símbolos visuais do amor. A maioria das cerimônias de casamento inclui dar e receber alianças. A pessoa que realiza a cerimônia diz:
"Estas alianças são os sinais visíveis dos elos espirituais que unem estes dois corações em um amor que nunca terminará". Isso não é uma simples retórica. É a expressão de uma significante verdade — os símbolos possuem valores emocionais. Creio que isso pode ser bem exemplificado quando, perto da desintegração de um casamento, marido e mulher deixam de usar suas alianças. Esse é um sinal muito nítido de que o casamento está em sérios problemas. Certo esposo me disse o seguinte:
"Quando ela atirou sua aliança contra mim e saiu cega de raiva batendo atrás de si a porta da casa, tornou-se evidente que nosso problema era seriíssimo. A aliança ficou no mesmo lugar onde foi jogada durante dois dias, porque eu não me abaixei para pegá-la. Quando finalmente a apanhei, caí em um pranto convulsivo."
As alianças são um símbolo do que o casamento deveria ser. Porém, aquela colocada na palma de mão dele, e não no dedo dela, funcionava como um lembrete visual de que aquele casamento desmoronara-se. A aliança solitária provocou profundas considerações e emoções naquele marido.
Símbolos visuais de amor são mais importantes para uns do que para outros. Por esse motivo, existem os que após se casarem nunca mais tiram a aliança; porém, também há alguns que nem chegam a usá-la. Essa é outra evidência de que as pessoas possuem linguagens do amor diferentes. Se receber presentes é sua primeira linguagem do amor, então você dará enorme valor à aliança recebida e usá-la-á com grande orgulho. Ao longo da vida, outros presentes também serão motivo de grandes emoções. Você verá neles expressões de amor. Sem lembranças como símbolos visuais, o amor do cônjuge poderá até ser questionado.
Existem presentes de todos os tamanhos, cores e formatos. Alguns são caros, outros baratos. Para aquela pessoa cuja primeira linguagem do amor é receber presentes, o preço pouco contará, a menos que haja uma enorme discrepância entre o que se deu e o que se poderia oferecer. Se um marido milionário concede regularmente à sua esposa presentes de somente um dólar, ela poderá questionar se aquela é realmente uma expressão de amor. Por outro lado, quando as finanças da família são reduzidas, um presente de um dólar significará tanto quanto um outro de um milhão de dólares.

As Cinco Linguagens do Amor - Gary ChapmanOnde histórias criam vida. Descubra agora