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O almoço de domingo na casa dos Cabello era de lei. Mesmo com Camila morando em seu próprio apartamento, Sinuhe sentia que o cordão umbilical não tinha sido cortado por completo, e por vinte e três anos, sentia a constante necessidade de ter sua filha mais velha junto à caçula em seu casulo, movida por sua superproteção com cada uma de maneira proporcional. Seu marido, no entanto, conseguia administrar sua proteção com a ânsia em ver sua filha conquistar os sonhos em que almejava, bem como a conquista pelo legado que ele julgava que ela merecia. Alejandro sempre fora mais próximo da filha, o estilo "paizão", e isso influenciou na maneira como Sinu conseguiu se adaptar a cada passo para longe que sua filha começou a dar à medida em que ia crescendo.

O apartamento de Camila veio a ser adquirido com seu esforço após estágios em sua área e uma ajuda de seus pais. Aos vinte, ela morava sozinha, embora jamais tivesse deixado de frequentar seu ponto de refugio todo santo dia; Sofia era seu maior apego, e por mais que tivessem uma diferença de idade, estar com sua irmãzinha era o seu maior prazer de vida, antes mesmo de viajar. A pequena contava os dias da semana para o domingo chegar, e ela finalmente ver sua Kaki de novo para falar sobre sua escola, seus pets ou qualquer coisa que a faça ter a atenção da irmã o tempo inteiro. Por essas e outras, Sofi era seu maior tesouro. E elas se amavam de uma maneira inexplicável.

Após matar a saudade de sua família e passar um bom tempo com sua irmãzinha ouvindo como ela tinha aprendido a fazer trança no cabelo de sua mãe – e servindo de cobaia também, após fazer doce para elas e após finalmente conseguir fazer a irmã dormir de puro cansaço decorrente da corda que estavam pulando, Camila sentiu-se preparada para falar com seus pais a respeito da nova viagem que faria – uma tarefa que requeria muita conversa. Sua maneira de amansá-los foi explicando os números cujos sua última livestream havia atingido. Inevitavelmente, ela teve que desembuchar seus planos.

– Deserto? – Sinuhe exclamou. – No Chile? Você está louca?

– Mamá, você vai acordar a Sofi! – Disse ela, olhando diretamente para a escada. – E sim, é no Chile.

– Você está louca, Camila? Você nunca foi para algo fora de trilha, nem tão longe assim. – Continuava no mesmo tom. – América do Sul é repleta de animais selvagens, você não saberia passar nem mesmo dois dias lá!

– Mamá, eu sei o mínimo de sobrevivência para esse tipo de situação, e não é como se eu fosse cair de um avião e estar sem mantimento algum. – Olhou nos olhos da mãe, que permanecia a negar com a cabeça. – Além do mais, eu vou com as meninas, eu vou estar em segurança!

– Você fala como se a Dinah fosse alguma guia turística. – Disse a mais velha, já impaciente. – Alejandro, faça alguma coisa, sua filha ultrapassou os limites agora!

– Papá, quantas viagens eu não já fiz? – Ela praticamente suplicava para o chefe da família, que ainda não tinha falado nada. – Até pra África do Sul eu já fui! E lá é muito mais perigoso...

– Sinu, nossa filha já é adulta... – Ele olhou para a mulher, que negou com a cabeça. – Ela não vai estar sozinha, vai ser uma viagem curta e ela não vai se afastar das trilhas, não é, Camila? – Olhou para ela, tentando intimidá-la. Camila sabia que teria de aceitar as condições do pai para que pudesse viajar sem precisar esconder de sua mãe.

Camila suspirou. É obvio que suas intenções eram ir o mais distante possível, já que era lá onde se encontrava seu novo foco. Então, para seguir seu pequeno teatro – e se sentindo extremamente culpada por isso, ela fez uma cara de lamento e suspirou, parecendo não totalmente satisfeita.

– Tudo bem. – Disse baixo, forçando um desânimo. – Eu vou ao menos poder passar duas semanas?

– Duas? – Sinu elevou a voz em surpresa. – De maneira alguma!

Jauregui - Cubami  |  CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora