Realidade

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Eric havia sido levado para o orfanato da Paróquia Bom Jesus, lá os padres, freiras e reverendos cuidavam da educação dos órfãos. Conforme os anos passavam as crianças eram adotadas, exceto Eric, não era como se ele tivesse esperanças. As outras crianças o desprezavam e ele era o único que não dividia o quarto, ocupava o quarto no último andar que tinha fama de ser amaldiçoado.

Além disso, por causa de suas habilidades especiais ele conseguia ver a verdadeira forma dos padres e das freiras: monstros horrendos, com várias marcas negras pelo corpo, bem diferentes das de Eric, eram como chagas abertas, fediam. A paróquia era povoada de injustiças e iniquidades, padres maltratavam as crianças, Eric havia apanhado uma centena de vezes. A noite era possível ouvir gritos e ranger de dentes e correntes, boatos sobre a paróquia ser amaldiçoada se espalhavam.

O que Eric sabia era que o prédio originalmente não era uma igreja, mas ele não sabia o que havia antes de tudo. Toda a informação era controlada, a igreja sempre foi boa em alienar as mentes das pessoas.

Sete anos se passaram, Eric estava para completar doze anos e caminhava para mais um dia de aulas. Era química, ele vestia um jaleco de mangas compridas. Ele se sentou na última bancada, era comum ele se isolar, sabia que as outras crianças o evitariam de qualquer forma.

Os outros alunos adentraram o laboratório, todas em silêncio, os padres eram muito rigorosos, só era permitido conversar em trabalhos em dupla e no intervalo. O professor chegou, era um reverendo de aparência carrancuda e doentia.

- Muito bem seus vermes, em cada bancada existe uma folha com instruções e ingredientes para um experimento, uma curva de solubilidade. A cada pergunta que me fizerem desconto um ponto da nota de vocês. A atividade será em dupla, apontou para um trio de garotas que sentava na frente, indicou uma delas com a cabeça:

- Você, levante-se, vai fazer a atividade com ele – indicou a bancada onde Eric estava – Agora.

A garota era Lúcia Torres, uma garota de cabelos ruivos presos em tranças, rosto com muitas sardas e olhos verdes. Era baixinha e rechonchuda, tinha uma expressão amável no seu rosto, ela se levantou imediatamente e foi em silêncio para a bancada ao lado do garoto. O coração dele dava solavancos, ele não sabia como agir perto de garotas.

- Comecem.

Eric tomou a folha e começou a ler rapidamente, olhou algumas páginas dos livros e entendeu como fazer, a menina apenas observava com um olhar meio perdido.

- É bem simples de fazer, se quiser eu posso fazer sozinho, assim você não precisa...

- Não preciso o que?

- Interagir comigo.

- Olha eu sei o que as pessoas dizem sobre você, mas eu não acredito em coisas sobrenaturais, então não me importo em interagirmos.

Eric olha por um instante sem acreditar no que vê, será que realmente alguém ali iria trata-lo como um ser humano normal, sem desprezo, julgamentos? Parecia uma situação irreal.

- Certo, você é boa em química?

- Não muito.

- Tá legal, eu entendi como fazer, você se importa em apenas seguir minhas instruções?

- Tudo bem.

- Tá legal, primeiro eu preciso que você use a bureta e separe 10 ml de álcool, em seguida vamos começar a aquecer esse líquido aqui...

Eric dava instruções sem deixar de colocar a mão na massa. Cerca de meia hora depois eles haviam terminado o experimento, obtiveram nota máxima, pois não perguntaram nada. Depois de poucos minutos o sinal tocou e eles estavam liberados para o intervalo.

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⏰ Última atualização: Jul 12, 2020 ⏰

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