Capítulo 9

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|Igor|


No dia seguinte...
Acordei morrendo de dor de cabeça e com tudo girando. Por algum motivo eu estava na casa do Pedro e não tinha ninguém no quarto. Levantei para ir ao banheiro e depois fui procurar alguém. Ao chegar na sala, vi os meninos na mesa comendo e conversando. 
- Bom dia Bela Adormecida! – Lucas debocha. 
- Bom dia. – falo curto e grosso enquanto sento na mesa para tomar meu café. – Porque eu tô aqui e não em casa? 
- Por vários motivos né? Mas basicamente você passou bem mal ontem e ainda ficou chamando a Liz e pedindo desculpas pra ela, sendo que ela não estava lá. Vomitou horrores também. 
- Faz sentido agora a minha ressaca. 
- E você ainda brigou ontem, tipo de sair no soco. – eu paro e tento lembrar disso – Com o Bernardo inclusive, por causa da Liz. 
- Meu deus do céu, eu tinha esquecido disso. – digo esfregando a mão no meu rosto. 
- Mas porque você fez isso cara? – a pergunta do Pedro me fez lembrar de todos os detalhes de ontem, tudo que o Bernardo me disse, minha briga com ele e a discussão com a Liz. 
- Meu deus do céu! – faço uma pause imaginando tudo – Eu sei que eu não deveria ter feito isso mas cara, aquele idiota mereceu. E mereceu muito. 
- Só porque ele tá ficando com a Liz? Depois diz que não gosta dela... – quando o Lucas disse meu coração acelerou de uma maneira que nunca vi na vida. 
- Não cara. O Bernardo teve a coragem de dizer na minha cara que só se interessou por ela por "vingança" e ainda disse que ela "dá pro gasto". Acho que isso é motivo suficiente pra espancar ele. – encaro os dois. 
- Nossa, sabia que ele era babaca mas não tanto. – o Pedro diz. 
- Eu ainda tenho que falar com a Liz, preciso tentar explicar isso pra ela. – os meninos e olham. 
- Cara, acho melhor você não falar com ela não... ela saiu bem brava ontem depois de falar com você. Ai, mas sinceramente... pra mim, ela é patética. Você tava defend...
- Para Pedro. Ela tá cega por causa desse cara e também nos afastamos muito desde que ela disse que estava afim de mim. Eu vou tentar ajudar e conversar com ela, porque gosto dela... – percebo o que eu digo e paraliso – Digo, como amigo, irmão até. – eles se encaram. – Vamos esquecer isso, por favor? 
Continuo tomando meu café da manhã, pego um remédio para dor de cabeça e enjoo, na esperança de que isso passe. Reflito bastante sobre como vou falar com a Liz e tentar alertar ela, não quero que ela sofra, quero protegê-la. 
Não demoro muito para voltar pra casa, afinal hoje tinha almoço de família. Chego e vou direto falar com a minha mãe. 
- Ei mãe. – dou um beijo nela – Cheguei. 
- Oi filho, bebeu ontem né? Por isso dormiu no Pedro. 
- Ah mãe, não muito. Você sabe que me controlo. Relaxa! – eu realmente não sou de beber, passar mal e tudo mais. Me controlo bastante em relação a isso porque acho ridículo pagar esse papel. 
- Tudo bem, mas da próxima volta pra casa direto ok? Vai tomar um banho e se arrumar porque o almoço de hoje é com a Ângela, vem os três. 
- Pera, a Liz vem? – digo surpreso. 
- Vem né. O motivo desse almoço é só por conta de vocês. Algum problema? 
- Como assim por conta de nós? E não, sem problemas, é que ontem discutimos. 
- Ué, vocês são amigos, é natural que os pais se aproximem. Isso não aconteceu ainda mas estou tentando por sua causa. – ela se aproxima e me dá um beijo na testa – Mas porque discutiram? 
- Ela tá ficando com um garoto retardado, idiota e babaca, que eu nunca gostei por sinal. Ontem ele fez uma parada e eu fui obrigado a bater e socar ele. 
- Meu filho, você não pode sair batendo nos outros não. Eu sei que você é apaixona... 
- Ah pronto, mais uma pessoa que vem com isso de "ah porque vocês gostam um do outro". Mas não, somos amigos a sei lá oito anos? Óbvio que eu vou proteger e cuidar dela, somos praticamente irmãos. 
- Nossa, tá bom. Desculpa. É que pra mim é bem nítido isso, achava até que vocês ficavam escondidos. 
- Meu deus mãe, não. A gente não fica, para com essa neurose ok? Vou tomar meu banho, tenho que conversar com a Liz mesmo. Que horas eles chegam? 
- Daqui a 30 minutos. 
- Tá, vou correr pra me arrumar. 
Passo no quarto e falo com meu pai só para avisar que cheguei. Em seguida, entro no banho e vou me arrumar. 
Durante o banho fico pensando em como todos sabiam ou imaginavam que eu sinto algo pela Liz e eu não imaginava, nem passava pela minha cabeça na verdade. Sempre a considerei como minha melhor amiga, sempre compartilhei todos os segredos e toda a minha vida pra ela. Mas nunca percebi o que eu sinto. Nesse momento eu estou apaixonado por ela. Completamente. E me dói saber que ela está sendo enganada por outra pessoa e que eu não posso fazer nada pra impedir isso. 
Enquanto tenho essas minhas reflexões, ouço a campainha tocar e acelero o banho. Coloco uma blusa que a Liz me deu e passo seu perfume predileto. Saio do meu quarto e vou em direção à sala. 
- Oi Ângela, tudo bem? 
- Oi meu querido, vou bem e você? 
- Também. – respondo indo em direção ao Roberto, pai da Liz – Oi Roberto! E o Senhor, vai bem também? 
- Sim, meu filho. – ele responde me dando um abraço. 
- Ué, cadê a Liz? – a Ângela e o Roberto se entreolham. 
- Ah, ela não quis vir... disse que vocês brigaram ontem. Ela está bem triste. – quando ela responde, bate um sentimento de culpa. 
- Posso ir lá? Queria conversar com ela. 
- Claro! – Roberto responde. 
- Mas vai rápido filho, e traz ela junto ok? – minha mãe responde. 
- Pode deixar, galera. Volto já. 
Saio de casa e pego o elevador. Esse momento até chegar no andar parece uma eternidade, o que me deixa super nervoso. Fico pensando e pensando no que devo dizer a ela, não sei se peço desculpas ou insisto em alertar ela. A Liz não merece esse cara, merecia alguém que cuidasse dela. Tipo eu. 
Depois de horas praticamente naquele elevador, meus pensamentos são interrompidos quando a porta se abre. E surpreendentemente a vejo toda arrumada esperando o elevador. 
- Ah, oi. 
- Oi – ela diz seca. 
- Vim aqui pra conversar com você. Queria me resolver com você, não gosto de brigar. Também vim te buscar para o almoço. – soltei um riso fraco. 
- Ah, não quero conversar sobre ontem. Nem me resolver com você. 
- Como assim Li? 
- Não me chama assim. 
- Que? Como assim "não me chama assim"? Tá maluca? 
- Maluca eu? HaHaHa – ela ri forçadamente – Desculpa, mas quem perdeu a cabeça ontem e arrumou briga não fui eu. 
- Oh me desculpa se quando eu já estava indo embora seu namoradinho veio me falar besteira. E mais, me desculpa se eu fiz aquilo pra te proteger. 
- Não preciso que tomem conta de mim. 
- Ah, te garanto que sim. Você é tão burra que prefere acreditar naquele idiota que você conheceu não tem nem um mês do que no seu melhor amigo que você conhece a oito anos. – nesse momento já estamos no corredor berrando um com o outro. 
- Mas ele nunca me iludiu, nunca me fez sofrer. E ainda está me fazendo esquecer você. 
- E quando eu te fiz sofrer Liz? Pelo amor de deus. Sempre te considerei a minha melhor amiga, quase irmã. Sempre te protegi de tudo, te aconselhei, cuidei de você. 
- Quando eu era apaixonada por você. 
- Era? 
- Sim, eu era. E é justamente por conta desse lugar que você me colocava de apenas irmã, amiga que me doía. Eu queria ser mais que isso, mas você nunca enxergou isso. 
- E agora a culpa é minha que você sentia algo por mim e eu não correspondia? Além do mais eu nem sabia disso, nem imaginava que você poderia sentir algo por mim. 
- Mas eu sentia. 
- Tá, Liz. Mas o que isso tem a ver agora? Até agora não entendi, porque eu não posso te chamar de Li? 
- Porque eu não quero mais. Não quero mais você na minha vida. Nos últimos tempos, nossa amizade tem me feito muito mal. Imaginar algo entre nós tem me feito muito mal. 
Eu fico sem palavras naquele momento. Como ela consegue agir assim? E ainda mais dizer isso na minha cara? Isso é a maior falta de consideração comigo, com a nossa amizade e com tudo que eu e ela já vivemos juntos. 
Meu humor e aminha feição mudam rapidamente depois de ouvir as coisas que ela disse. Não vou cobrar nada dela. Só consigo sentir raiva. 
- Cara... então não conta comigo pra mais nada ok? Se você quer que a nossa amizade acabe, o problema é seu. Só não esquece que eu te avisei. 
Aperto o número do meu andar e assim que as portas se fecham, eu desabo em lágrimas. Como ela pôde fazer isso? Logo agora que eu me dei conta dos meus sentimentos e estava até disposto a tentar algo.

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