Eu queria saber sobre a Carla. Nada demais, só queria saber se ela estava bem. Minha irmã já conversava direito comigo, mas eu ainda via um pouco de receio no olhar e em algumas falas dela. Era como se ela esperasse que a qualquer momento eu fosse ter uma crise de ciúme, brigar com ela e desapontar mais uma vez. Nós estávamos indo bem, então não quis correr o risco de estragar. Eu nunca tinha feito nenhuma pergunta sobre a Carla. Nunca tinha pensado em conversar com ela. Nunca imaginei que ela fosse entrar na minha cabeça. A Aline ia perceber na hora que tinha alguma coisa diferente.
A semana foi passando, e, conforme a imagem e o cheiro da Carla ficavam cada vez mais distantes, parecia que o pensamento nela só aumentava. Eu não gostava de ir a shows, só que aquele festival tinha me marcado. Na quinta-feira à noite me peguei procurando na Internet quando teria o próximo festival ou show de alguma dupla sertaneja que eu gostasse. Está certo que eu nunca gostei de sertanejo e nem tinha uma dupla ou cantor preferido... Mas talvez eu ficasse feliz em assistir a um show de uma dupla em específico, da dupla que eu conhecia a maioria das músicas que tocou no festival... Que por coincidência era a preferida da Carla. Era só uma coincidência.
Claro que era só isso.
Na sexta-feira nós tivemos uma aula extra de matemática até mais tarde. Cheguei em casa exausto e conversei com a minha mãe quando passei pela cozinha. Ela sabia que eu não estava exagerando, então me deu o resto daquele dia de folga. Me aconselhou a descansar e a cochilar um pouco. Eu realmente queria descansar, mas minha cabeça estava muito cheia para dormir. Tomei meu banho e passei no quarto da minha irmã. Ela estava na escrivaninha, mordendo a ponta da lapiseira enquanto lia a apostila do colégio.
- Boa tarde! Tô atrapalhando? – Perguntei da porta.
- Oi! – Ela estava tão concentrada que tomou um susto com a minha voz. – Não! É até bom... - Ela jogou a lapiseira em cima da apostila e recostou na cadeira, esticando as pernas. – Eu já não aguento mais isso!
- Dizem que na faculdade é pior. – Comento ao me sentar na poltrona. Pela foto que vi na apostila, ela estava estudando sobre alguma Revolução. O professor de História Geral era um senhor bem legal, mas, na hora da prova, ele costumava pegar pesado.
- Também falam que no trabalho é pior ainda! – Ela revirou os olhos. – Sério, será que ninguém nunca parou parar pensar que conforme a gente avança deveria melhorar? Eu já não aguento a escola! Como vou aguentar algo pior e depois um pior ainda!? – Ela reclamou.
- É a vida! – Sorri.
- Não entendo! Acho que noventa e cinco por cento dos alunos não gostam da escola, pelo menos não da parte de passar a manhã inteira estudando na escola e depois a tarde inteira em casa... Como ninguém conseguiu ou não quis encontrar uma forma de tornar o próximo passo melhor, e não pior?
- Talvez não tenha como... Ou talvez a gente é que tenha que mudar a forma de pensar. – Sacudi os ombros. Ela resmungou e começou a mexer no celular.
- Aline! – Ouvimos nossa mãe chamando da cozinha. – Vem aqui!
- Já volto! – Ela levantou. – Não vai embora, não. Vai ser bom conversar um pouco para distrair a minha cabeça! – Ela sorriu.
- Tô aqui te esperando! – Retribui o sorriso, feliz por estarmos bem.
Eu gostava muito da minha irmã e queria fortalecer a amizade que nós tínhamos. Apesar de termos comportamentos bastante diferentes, ela era tão cabeça-dura quanto eu. Eu não podia negar que eu era cabeça-dura. Sim, eu era! Era bastante... E nisso a minha irmã era igualzinha a mim.
Olhei para cima da escrivaninha e vi que ela tinha deixado o celular. Ele estava aceso, então ela não tinha bloqueado ao sair do quarto. Me virei para a porta, que estava aberta, mas não ouvi nenhum som. Ela ainda devia estar na cozinha. Se eu fosse rápido eu conseguiria fazer o que veio a minha cabeça sem nenhum problema. Era a única chance que tinha. Eu não sabia a senha do celular dela, assim como ela não sabia a do meu. Eu tinha que aproveitar aquela chance. Era tudo ou nada.
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A Melhor Amiga da minha Irmã
Teen FictionCaio é solteiro e tem certeza de que está muito longe de se apaixonar. Ele é extremamente ciumento com a irmã, mas já a fez perder várias amizades por ficar com essas meninas sem querer nada sério. Para a Aline só sobrou uma amiga, a melhor amiga! A...