O Curioso Caso da Regressão de Idade - Parte I

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Xie Lian perambulava na volta para casa quando encontrou uma pilha de sucata e não resistiu, teve que se abaixar para ver se garimpava algo interessante. Numa cesta ao lado de uma residência rústica, havia algumas cerâmicas quebradas, uma chaleira, estatuetas de bronze e até um ferro de passar. Reuniu todo o conteúdo em sua bolsa qiankun e sem perder mais tempo, cruzou o caminho que levava à Cidade Fantasma.

Hua Cheng já o esperava em sua câmara privada, devidamente banhado e vestido. Esparramado na enorme cama de dossel de cortinas vermelhas, ele o observava se livrar de camadas e mais camadas de roupões empoeirados, enquanto o ouvia tagarelar sobre seu dia. Xie Lian descartou a pilha de roupas sujas e se virou:

- Vou só tomar um banho e já venho deitar.

- A água está quente, gege – Hua Cheng o informou, um sorriso preguiçoso nos lábios – Esquentei assim que avisou que estava vindo.

Xie Lian sorriu. Às vezes achava que o marido o mimava sem necessidade, mas hoje, cansado e dolorido após um dia de trabalho pesado, apenas poderia agradecê-lo por ser sempre tão atencioso. Um banho quente e logo estaria novinho em folha! Sendo assim, ele desapareceu atrás do biombo e entrou na água fumegante dentro da banheira. Soltou os cabelos, lavando-os para tirar a sujeira dos campos de lavoura e esfregou seu corpo com a barra de sabonete. Porém, não permaneceu muito. Não queria deixar Hua Cheng esperando. Estava tarde e Xie Lian desconfiava que uma vez que deitasse, não demoraria a adormecer.

***

Na manhã seguinte, Hua Cheng despertou primeiro e achou estranho o volume pressionado contra seu peito. Parecia de alguma forma... menor? Abriu o olho, ainda sonolento e o que viu fez com que ficasse sem palavras, completamente atordoado. O que diabos, era aquela criatura tão pequena em seus braços?! Como havia se enfiando em sua cama? Onde é que estava Xie Lian? O que...

- Mamãe... tá frio...- uma vozinha infantil reclamou, voltando a se espremer com vontade de encontro ao corpo maior. Hua Cheng congelou.

O que era aquilo? Um fantasma perdido? Como foi capaz de invadir a Mansão Paraíso?! Espera... Ela chamou pela mãe. Será que essa também estava morta? Perguntas e mais perguntas pipocavam na mente do Rei Demônio. Ele estava a ponto de soltar os cachorros e procurar culpados quando respirou fundo, forçou-se a se acalmar e com extremo cuidado, tentou se afastar da pequena coisa adormecida. Mas, quem sabia que no momento em que conseguiu se desprender dos bracinhos macios, a criança acordou e o encarou, seus olhos castanhos claros se arregalando. Antes que tivesse tempo de contê-la, ela já estava gritando a plenos pulmões e Hua Cheng, alarmado, tapou os ouvidos.

Como algo tão pequeno podia gritar tão alto?

- Fantasma – Hua Cheng usou seu melhor tom ameaçador. Não funcionou – Pare de chorar! Acha que quero ficar aqui com uma criança birrenta? Vamos, levante da cama! Vamos procurar sua mãe. Ela deve estar aqui em algum lugar.

Assustado, o menino que aparentava mais ou menos seis anos se encolheu todo na cama. Lágrimas manchavam seu rostinho redondo. O coração de Hua Cheng se apertou. Não deveria ter sido tão ríspido assim. Era só uma criança... Ei, espera! Ele não se parecia demais com...

- Sua Alteza? – ele chamou, aterrorizado por um instante. Não podia ser, podia? – Sua Alteza, o Príncipe Herdeiro de Xian Le?

- O senhor me conhece? – o mini Xie Lian o encarou, desconfiado – Onde está mamãe e papai? Que lugar é esse?

Hua Cheng resmungou um palavrão e imediatamente se arrependeu, querendo se estapear com força. Criança ou não, não deveria se comportar daquela forma perto de seu amado. Ele não merecia.

Pequeno PríncipeOnde histórias criam vida. Descubra agora