Depois de explorarem o arsenal, Xie Lian e Hua Cheng se despediram de Mei Nian Qing e subiram para sua câmara privada. Ambos se banharam e fizeram uma pequena refeição no quarto antes de se renderem à preguiça. A criança, como já era de se esperar, não queria dormir, por isso ficou brincando com seus brinquedos enquanto Hua Cheng lia. Vez ou outra, o Rei Demônio recebia mensagens na matriz de comunicação privada. Como chefe da cidade, era comum ouvir os mais diversos relatórios de seus lacaios, ainda que ninguém percebesse.
Já que nos últimos dias negligenciou uma parte de suas responsabilidades, Hua Cheng tentava compensar o tempo perdido. A boa notícia é que não havia ocorrido nenhum fato ou problema realmente notório, apenas pequenas disputas nas fronteiras, suspeitos agindo no mercado, algumas tentativas de fraude na Toca do Jogador... o usual. A má notícia é que mesmo usando sua influência como um Supremo, ele não encontrou nada consistente a respeito da maldição que afligia seu marido. Continuavam andando em círculos desde o maldito começo e isso o frustrava demais. Odiava se sentir de mãos atadas.
He Xuan acreditava que o problema maior se devia à perda da memória e não a reversão da idade, por mais preocupante que esta última fosse. Segundo ele, a intenção do inimigo era clara: livrar Xie Lian de todas as lembranças relacionadas a Hua Cheng. O fato da idade ter regredido tanto podia ser um mero descuido, um efeito colateral. Quem sabia?
O que os dois concordavam é que o príncipe foi amaldiçoado com a finalidade de atingir Hua Cheng. Afinal, não era segredo nenhum que Xie Lian era seu ponto fraco.
- Grande gege, por que usa isso? - a vozinha de Xie Lian chamou sua atenção de volta à realidade e Hua Cheng encerrou a comunicação na matriz. Voltaria a falar com Água Negra mais tarde.
- Isso o quê?
- Isso aí - Xie Lian apontou para o rosto do outro, que enfim entendeu a que ele se referia.
- Não tenho um dos olhos, Sua Alteza - ele respondeu, sincero. Preferiu poupá-lo dos detalhes, no entanto, uma vez que história não era das melhores - O tapa-olho impede que as pessoas vejam e se assustem.
- Posso ver?
- É feio demais - explicou a ele, paciente - Não é algo adequado aos olhos de Sua Alteza.
- Não parece feio - o menino contrapôs, ficando de joelhos na cama e chegando mais perto. Estavam frente a frente agora - Cicatrizes são como troféus de batalha, grande gege! O mestre sempre diz.
Xie Lian fez uma carinha séria tão fofa que Hua Cheng não resistiu a apertar uma de suas bochechas. Nunca pensou que encontraria alguém mais encantador que o seu marido, até conhecê-lo em sua versão criança e se apaixonar perdidamente.
- O que mais seu estimado mestre diz, hm? - ele continuou a conversa, interessado, seu braço direito descansando de maneira descontraída sobre um dos joelhos.
- Não vou contar - Xie Lian negou, cruzando os bracinhos - Você não me deixa ver.
Sério que ele ia mesmo o manipular tão fácil? Aparentemente sim. Hua Cheng suspirou, derrotado. Não conseguia negar nada àquela criança.
- Tudo bem, vou te mostrar - não fazia ideia por que ele estava tão curioso, mas já que ele queria tanto assim ver, que seja. - Mas não vale se assustar, tá bom?
- Somente crianças bobas se assustam. Já sou grande.
Hua Cheng riu antes de se mover e desamarrar com facilidade seu tapa-olho. No entanto, não abriu o olho. Quis poupá-lo do susto, afinal de contas não estava exagerando quando afirmou que era assustador. Duas cicatrizes pálidas se estendiam ao longo da borda inferior onde unhas afiadas uma vez perfuraram a pele. Na pálpebra, a evidente concavidade denunciava a falta de um globo ocular.
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Pequeno Príncipe
FanfictionNuma manhã comum, Hua Cheng desperta e faz uma descoberta no mínimo, chocante: em vez de Xie Lian, há uma criança aninhada em seus braços! Sem saber o que fazer, ele se desespera; por mais que pense, não sabe como, nem por que chegou àquela situação...