O Curioso Caso da Regressão de Idade - Parte II

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Hua Cheng e Xie Lian jantaram na tranquilidade de sua câmara particular. Um servo trouxe dois pratos de macarrão e alguns legumes grelhados, além de doces especialmente preparados para o menino. Após o término da refeição, Hua Cheng se divertiu assistindo Xie Lian perseguir Ruoye; a faixa de seda serpenteava ao redor dele formando arcos e outros desenhos no ar, um espetáculo de se ver!

As gargalhadas do príncipe ainda eram a melodia preferida de Hua Cheng. Ele sentia que poderia passar tranquilamente a vida assim, vendo-o correr de um lado a outro, rindo como se nada de ruim existisse no mundo. Sem que percebesse, o aperto em seu coração diminuiu, substituído por uma crescente e irresistível ternura. Observar Xie Lian feliz e cheio de energia era mais que uma simples distração; era um verdadeiro bálsamo para a alma!

Por um momento, teve medo que ao regredir, a saúde dele fosse de alguma maneira afetada, assim como foi sua memória. Por essa razão, quando desconfiou que poderia ser o real alvo daquela maldição, ficou possesso, insano de tanta culpa.

Podiam atingi-lo como quisessem, Hua Cheng não se importava, nunca fugiu de uma boa luta. Mas usar Xie Lian?! Era inaceitável, imperdoável! Baixo demais.

Seu marido não merecia. Era a pessoa mais gentil, mais bondosa e altruísta que já conheceu. Se existia alguém que era digno de amor, felicidade e de tudo o que havia de melhor, era Xie Lian. Não era justo que fosse punido só por ter tido o azar de se apaixonar pela pessoa errada.

- Não vai se safar dessa, grande malfeitor! – Hua Cheng foi arrancado de seus pensamentos pela voz empolgada do menino, que agora segurava E-Ming.

O Rei Demônio ficou de pé na mesma hora.

- Sua Alteza, é melhor não brincar com isso – ele avisou, aproximando-se. E-Ming girava o grande globo ocular vermelho como se estivesse em frenesi. Hua Cheng, apreensivo, temeu pelo pior.

Para a surpresa de ambos, a cimitarra amaldiçoada emitiu uma luz forte por alguns segundos e em seguida, encolheu-se até atingir menos da metade do tamanho original. Xie Lian deixou escapar uma expressão encantada de admiração. Hua Cheng, contudo, abaixou-se ao seu lado e encarou E-Ming.

- Se machucá-lo vai tomar mais que uns tapas, ouviu? – ele ameaçou, estreitando o olhar. E-Ming, amedrontada, se tremeu inteira na mão de Xie Lian.

- Grande gege, não fale assim. Ele vai ficar triste – o menino então acariciou o cabo de prata da cimitarra, que fechou o olho numa espécie de lua crescente invertida. Hua Cheng bufou, mas não disse mais nada. Pelo visto, seu dispositivo espiritual gostava de Xie Lian até em sua versão criança.

Quem poderia culpá-lo? O pequeno era uma graça!

Não pressentindo qualquer intenção maligna, Hua Cheng recuou. Ele novamente se sentou na cama e atento, continuou assistindo.

– Farei com que pague pelos seus crimes! – o pequeno príncipe empunhando a mini E-Ming, num golpe ainda meio sem jeito, passou a atacar o inimigo. Ruoye como sempre muito ágil, se esquivava sem dificuldades.

Hua Cheng irrompeu em palmas a fim de incentivá-lo. Dava para ver que a postura não era das melhores e que se Ruoye quisesse, facilmente o derrubaria, mas ainda era fofo demais!

Ouvindo os ruídos e falas características da disputa, Chuva de Sangue Atingindo Uma Flor se viu cada vez mais rendido. Ficou tão entretido que por pouco quase não viu o momento em que Xie Lian tropeçou na barra de seu robe e perdeu o equilíbrio. Quase, porque foi rápido e o acudiu antes que o menino se esborrachasse no chão.

- Cuidado, Sua Alteza! – Hua Cheng se apressou a dizer enquanto o segurava. Foi quando percebeu a maneira envergonhada com a qual o Xie Lian o encarava e não resistiu à beijar o topo de sua cabeça.

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