"Você voou com as asas do meu coração e me deixou sem vôo." - Terri Guillemets
22 de julho de 2012.
Oi.
Eu nunca sei como começar, tem dias que são mais fáceis, outros mais difíceis. Hoje está terrível, Brooke. Eu não sei porque, mas as vezes eu preciso de uma pausa, sabe?
É como imergir depois de um tempo embaixo d'água, mas é tão estranho. Porque quando mergulho eu estou na nossa história e quando decido imergir, tudo continua sendo você.
Eu não quero falar de você hoje, nem pensar em você, mas sua presença está em cada canto, preenchendo minha vida por completo. Nada é mais a mesma coisa, eu não sinto mais a vida em minhas veias sem o seu sorriso.
Hoje está nublado, Brooke.
Eu não gosto desses dias, quando eu era pequeno mamãe dizia que não iriamos sair porque poderia chover e eu também nunca gostei de chuva.
Estava chovendo quando caminhamos em direção ao túmulo da minha única irmã.
Lembra quando eu disse que não podiamos sair em dias de chuva? Ela saiu, Brooke. Saiu e nunca mais voltou, eu a perdi para sempre e nunca senti dor pior que essa.
-Querido, vem aqui. -Minha mãe me chamou, e não sei ao certo o porque mas meu coração já etava me avisando que não seria uma coisa boa.
Eu me sentei a frente dela e o silêncio a seguir foi um dos mais doloros de toda minha vida, então vieram as palavras e elas não melhoraram em nada.
Em alguns momentos da vida é normal que se pergunte porque certas coisas acontecem, eu me perguntei isso por muito tempo.
-A sua irmã... Ela foi morar lá no céu, meu amor. -Os olhos da mamãe brilhavam como nunca antes. Era pura tristeza, repletos de lágrimas que ela estava tentando segurar.
-A maninha nunca mais vai voltar, mamãe? -Ela balançou a cabeça, prendendo os lábios entre os dentes. Ela me colocou em seu colo, me abraçando apertado, as lágrimas molharam meu rosto.
Estava nublado aquele dia.
E nos dias seguintes choveu muito.
Depois disso foi só eu, meus pais passaram a brigar constantemente e se sepraram e eu não tinha mais minha confidente e melhor amiga, eu vi minha família ruir, Brooke. Eu descobri que amor não sustenta tudo, porque por mais que meus pais se amassem, era difícil demais para eles lhe dar com a dor, eles atacavam um ao outro porque agiam como um animal quando está ferido.
Minha irmã me dizia que a coisa mais preciosa que tinhamos era o coração, que lá era o lugarzinho de guardar pessoas importantes. Eu lembrei disso quando coloquei a flor branca sob seu túmulo, todos os anos eu vou até lá, deixo uma flor branca, sento e falo com ela.
Conto sobre como a mamãe está melhor.
Como o papai parece feliz agora.
Sobre a faculdade, o trabalho.
E sobre você.
Eu fui até lá semana passada e quinze anos depois eu só consigo pensar em como poderia ter sido se ela não tivesse saido de casa aquele dia, ela poderia estar aqui comigo, sentada ao meu lado.
Ela adoraria você
e depois te odiaria.
E eu diria a ela que não adianta, porque as coisas são assim, as vezes da certo e outras não. Que por mais que seja difícil, você foi a melhor parte da minha vida, os capítulos mais importantes você é a protagonista, nos mais alegres você é a mocinha e nos mais tristes a vilã, que o fim dessa parte não é tão incrível mas que eu não as apagaria se tivesse essa opção, porque amo cada parte.
Existem pessoas como a minha irmã, que acreditam no amor, que acredita que ele pode mudar e melhorar qualquer coisa, Brooke. Que seu coração é o mais importante, que você deve cuidar das pessoas que ama mesmo ferido.
E existem as que são como meus pais, que percebem que não é o suficiente, que ataca depois que é machucado. Exatamente como você faz, para se proteger, não deixa ninguém chegar perto o suficiente para tentar consertar o que está quebrado por ai.
Eu aprendi desde muito cedo que coisas ruins acontecem com todo mundo, Brooke, mas que você não é obrigado a ser ruim por isso. Você pode ser bom, pode escolher ser do tipo de pessoa que cura e não das que machucam, já tem demais dessas pessoas. Elas estão espalhadas por ai, são como seus ex namorados, são como você.
Eu me lembro vagamente do sorriso da minha irmã. Ela era a melhor irmã mais velha do mundo. Amanhã ela faria trinta anos, provavelmente faríamos uma festa, eu diria que ela está velha, provavelmente já teria sobrinhos.
Tudo o que eu queria era que ela estivesse aqui amanhã, mas é impossível.
Eu queria que você também estivesse aqui amanhã, porque qualquer dor parecia mais suportável ao seu lado, mas estarei sozinho, irei ligar para os meus pais e mamãe vai chorar como todo ano, enquanto papai vai dizer que sente muito e ficar em silêncio.
Dias nublados, nunca são bons,
eles até parecem dias legais,
para assistir série e tomar chá
até perder alguém
e então passam a ser tristes.
Não há nada pior do que isso, mas quase tão terrível quanto é saber que alguém foi embora, minha irmã não teve escolha, você sim e você sabe o que é descobrir que foi deixado.
E eu estava do seu lado, era tudo
até que, de repente, não era nada.
É isso que me sinto, absolutamente nada, isso era absolutamente difícil todo ano, mas esse parece absolutamente terrível, eu nunca pensei que fosse possível sentir tanta dor, Brooke.
Eu fecho os olhos e vejo ela e quando os abro, é você.
Parece sonho e realidade.
Eu entendo que ela não possa estar aqui comigo, mas você, acho que nunca vou entender. Acho que esse é um dos problemas do primeiro amor, eles te marcam para sempre.
Não consigo falar muito hoje, Brooke. Eu gostaria que você estivesse aqui. Eu quero simplismente parar, de pensar em você, sentir você, amar você.
Mas você é tudo.
Eu te amo por ser tudo,
e me odeio por te deixar ser tudo.
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Ruptura
Short StoryEu já havia ouvido milhares de histórias de amor, mas nunca pensei que viveria uma, mas quando meus olhos encontraram os seus naquele bar, aquela noite, tudo meu se transformou em completamente seu. E talvez isso aqui não seja uma história de amor...