Capítulo 4 - Um refúgio... E a vida continua?

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Estamos do lado de fora. É estranho, porque apesar do sol brilhar forte há um vento fresco pelo deserto. Wes está a certa distância, seu sorriso brilhante é contagiante e me atrai como um imã. Então eu caminho em sua direção, sorrido como uma boba. Caminho, caminho, caminho... Não o alcanço!

O vento fresco fica frio e pesado, uivando entre nós enquanto o brilho do sol é rapidamente engolido pela escuridão. Então eu começo a chamar por ele, mas nem mesmo ouço minha própria voz, gripo mais alto e mais alto... Não sai som algum, há somente o vento uivando melancolicamente. No céu escuro, as estrelas começam a girar em direções diferentes e a distância entre mim e Wes só aumenta.

Estico-me, forço-me a correr, mas é como se o chão nos puxasse em direções opostas! Então uma nuvem de poeira surge do nada engolfando Wes e seu sorriso. E depois ela vem na minha direção, violenta, respingando gotas vermelhas em mim, e o uivo do vento torna-se um grito escandaloso.

O grito dela.

Estridente. Irritante. Assassino.

Abro os olhos para a claridade que atravessa o teto do meu quarto, estou ofegante, já é dia. Olho em volta para ver que estou sozinha e me sinto bem e mal ao mesmo tempo. Ouço novamente a voz dela ralhando e tapo meus ouvidos. "Isso já deveria ter acabado. Eu já estou acordada". No entanto as reclamações persistem. "Tem algo errado!".

Puxo a cortina da porta como uma criança que espera encontrar o monstro no guarda roupa. Aaron está dormindo recostado na parede do lado de fora. Então a escuto de novo. Salto por cima de Aaron para não acordá-lo e disparo pelo corredor. Se ela está dando bobeira pelas cavernas é porque quer mesmo ser morta, farei um favor a ela.

Sigo até a cozinha. Chegando lá a voz estridente faz meu olhar voar direto para o forno detrás do balcão. O corpo pequeno move-se com ar soberano, ao que parece ela está discutindo com Rebecca sobre acender o forno.

– Eu não vou comer esse pão duro. Se tem mingau pré-preparado, eu quero mingau. Sai da minha frente, eu não tenho medo do seu tamanho nem da sua cara feia!

– Não! Não é permitido acender o forno durante o dia. Regra de segurança.

– Danem-se as regras de segurança! – Ela empurra Rebecca com violência e, mesmo com Paige a segurando pelo braço, ela o puxa de supetão. Ela é violenta demais para uma Alma, violenta demais até mesmo para uma humana.

– Você não tem querer algum aqui! – Grito e só então elas pareceram notar minha presença. Ela se vira com um olhar de desprezo na minha direção. Fico chocada. Ela é humana. – O quê?!

– Lily! Você está... – Paige vem até mim, segura minha mão com ternura - ...Gelada!

– Quem... Como... O que significa isso?! – Digo apontando horrorizada para a mulher.

– Peg a salvou. Ela extraiu a Buscadora e Lacey despertou. – Paige diz com a voz gentil. Não tem nenhum efeito sobre mim, continuo me sentido... traída?

– Ela devia estar morta!

– Lily, não foi a Lacey quem...

– Foi. Foi sim! Como eu vou conviver com essa... Figura assombrando essas cavernas? Peregrina não devia!

– Ainda bem que aquela parasita é bondosa demais. – Ela diz com a voz transbordando repulsa e maldade.

– Não a chame assim! Como pode? Por mais que tenha sido um erro, ela salvou você!

– Não fez mais que a obrigação. Eu precisava disso. Não suportava mais ficar lidando com aquela mente obstinada pela paz mundial, por "consertar os desvios de Peregrina", aquela lacraia incapaz e fraca que gritava desesperadamente para que eu sumisse.

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