Agricultor

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                          EM, 11/11/75

Coitado do meu chapa. O negócio é duro pra daná.
Machado, enxada, foice e facão, instrumentos do seu labutar.
Começa o trabalho bem cedo, até a noite chegar.
Em casa, lava os pés, fuma um
cigarro, pega a viola, passa a cantar.
Rima pra lá, rima pra cá; o corpo cansado, suado, mal lavado, só pede pra repousar.

Enfrenta a noite em sono, depois de gracejos bobos fazer.
Topa uma cama de vara ou tábua sem colchão.
Nela estira o corpo cansado, pelo trabalho danado, de um dia de labor.
O sono amigo apanha o coitado e lhe dá compensação, pois o amanhecer o espera, pra de novo começar.
Assim é o seu viver, vai pra lá e vem pra cá.

Sábado é dia de feira, atrela a cangalha
ao lombo do burro, põe os panacuns, carga
pra vender, e alimento da feira trazer.
No mercado, tudo seu é barato, não tem valor.
Pouca cousa pode comprar pra trazer. A mulher
e os filhos o esperam, olhos sumidos a distância,
o espera até chegar, quase sempre chega tarde,
cansado, suado, molhado com um cigarro a fumar.

Walsimar Brandão

FIM

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