você pode me pagar outra coisa

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Eu quero peidar. Mas, droga, Wooseok está ao meu lado e eu não quero que ele sinta o cheiro. Se não tivéssemos comido tanto assim, provavelmente eu não estaria em maus lençóis. Mas, oh, a vida nem sempre é como nós queremos e já tem mais de meia hora que eu estou segurando a bufa e rezando a qualquer santo aí que não haja uma explosão interna por conta dos gases. Onde tem um banheiro nessa joça?

— Você já está saindo? — o rostinho lindo e maquiado desse demônio maravilhoso me olha através do espelho, logo quando ele me vê prestes a sair do camarim. Ele está organizando os últimos detalhes para aparecer na TV.

— Preciso ir ao banheiro — explico sorrindo nervoso e ele aquiesce num movimento da cabeça.

Aperto os passos para fora daqui e começo a ir atrás de qualquer banheiro, mesmo que seja feminino. Que diferença vai fazer? Se elas começarem a gritar, eu provavelmente gritarei um "miga, a gente gosta da mesma fruta!" Não é como se eu fosse dar uma de tarado, até porque nem gosto de mulheres. Mas, ok. Não achei o banheiro e é melhor eu peidar lá fora do que aqui dentro.

Encostado num beco, solto todos os gases guardados no meu inventário e me questiono se alguém escutou ou sentiu. Bem, agora está na mão do vento, tomara que ele me ajude. Amém. Vou comprar um suco de pêssego para mim, porque eu aprendi essa palavra nova e estou feliz da vida para repeti-la inúmeras vezes.

Eu não paro de repetir a palavra pêssego pelas ruas enquanto caminho com minha garrafinha bonita em francês. Quando entro de volta no camarim de Wooseok, abro meu suquinho enquanto assisto-o conversar com uma moça em francês. Era para eu ter trazido o iPad. Enfim, não dá pra fugir do idioma mesmo.

— Ei, eu também quero suco! — Wooseok exclama ao virar-se para mim, após a saída da moça.

— Ok, eu posso te pagar um de pêssego — sorrio. Desencosto-me da parede. Eu estou bem louco para repetir a palavra outra vez. Ninguém me segura, estoy feliz.

— Não, eu quero que você me pague outra coisa... — seu olhar muda de repente. Eu me engasgo e tusso sem parar, buscando apelo nas paredes ou em qualquer coisa a qual possa me aguentar inclinar-me involuntariamente diante da desgraça que me ocorreu.

Namoral, se eu não morrer agora, eu sou definitivamente imortal. Ah, qual é! Ele falou que quer que eu lhe pague outra coisa... Outra coisa... O que seria essa coisa? Desculpa, eu frequentei a escola no ensino médio e tive de lidar com piadinhas maliciosas todo santo dia, você acha que eu não saquei essa? Com certeza foi proposital. Com certeza foi.

Será que é assim que vai ser meu pagamento dessa viagem? Será que ele vai me pedir para pagar um [...] como pagamento de tudo isso que ele está me proporcionando? Agora o medo bateu.

— Credo, você tem uma terrível mania de se engasgar com tudo — vem ele comentar, trazendo, prestativo, um guardanapo para limpar o que pus para fora.

— Por que será? — resmungo para mim mesmo e empurro-o de volta para a cadeira onde sentara-se outrora.

— Que disse? — seu olhar ferve o meu.

— Nadica de nada, docinho. Quer que eu te pague o quê mesmo? — eu quero rir, mas senti a mão Deus no meu ombro e sua voz dizer "pare, filho"

— Eu quero um cupcake e um suco de frutas vermelhas para avermelhar um pouco mais os meus lábios — ele fala isso logo no instante em que está hidratando os lábios com um produto chique. Eu quero tirar isso da sua boca com a minha.

— Volto já — aviso de antemão e dou no pé.

Volto apressado, com medo de que talvez tenha começado. Ele come o cupcake rápido e bebe o suco mais rápido ainda. Ele tem razão, seus lábios ficam bem mais avermelhados que antes, embora eu queira dizer que ele não precisa disso para ser adorável.

— Obrigado, docinho — ele me dá um selinho gostoso e rápido. Meu coração ta todo fodido e lá vem essa.

— De nada — mordo meu lábio inferior para esconder a vontade de um replay e escoro-me na parede, desejando uma morte mais rápida e menos dolorosa que essa.

CAFÉ ET CIGARETTES | seungseokOnde histórias criam vida. Descubra agora