[0.3] - Os Sorrisos Falam

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POV'S IRENE

    Após o intervalo, pus-me a pensar em Yeri. Como ela conseguia ser tão independente? Talvez porque, por não conseguir enxergar, aperfeiçoou sua audição e seu olfato. Talvez porque ela seja mais inteligente que todos nós. 

    Na verdade, pode ser que talvez, apenas talvez, ela enxergue com o coração, e não com os olhos. 

    A professora Lee Chae-rin, que nos dá aulas de empreendedorismo, falava em um tom animado sobre o tema desta aula, que intrigou aos outros alunos, e que me deixou um tanto confusa — mas eu sabia, a culpa não era apenas do tema, era também da minha tremenda falta de atenção. O tema era: "os sorrisos falam". 

    A Lee tagarelava cada vez mais, e os outros alunos pareciam entender perfeitamente o que ela dizia, inclusive Seulgi, que está sentada do outro lado da sala, alternando seu olhar entre a professora e seu famoso caderno amarelo canário. Porém, eu não conseguia entender do que se tratava o que Chae-rin falava, era tão confuso e estranho, e isso me incomodava. Diferentemente de todos as outras aulas, eu estava dispersa, como se algo — ou alguém — retirasse toda a minha atenção. 

    Os minutos foram se passando, e o sinal estridente tocou. Os alunos, com pressa, arrumaram seus materiais, e foram ocupar os corredores. Porém, aguardei sentada em meu lugar, e esperei a professora sair da sala, para acompanhá-la. Fomos até o jardim, e após contar o ocorrido  — minha falta de atenção —, a Lee calmamente observou os arredores, logo encontrando uma criança correr animada pela calçada, ao lado de uma mulher mais velha. Discretamente, a mais alta apontou para elas, e indagou: 

    — Se aquela mulher, der um doce para a criança, o que ela provavelmente faria? 

    — Não sei, a criança pode não gostar de doces. 

    — Joohyun, não pense no improvável, pense no comum. —falou, e algo ali me incomodou: "pense no comum". Mas, por que pensar no comum? Ele é chato, entediante, repetitivo e sufocante. A graça está em pensar no improvável, no novo, no incomum. A graça está pensar em todas as possibilidades escondidas por trás das palavras. Porém, por um minuto, ignorei, e firmei-me ao comum. 

    — Ela agradeceria, ou iria sorrir, ou abraçaria a mulher mais velha. 

    — Perfeito. Já parou para pensar, que o sorriso da criança, poderia facilmente substituir o agradecimento e o abraço? Que ela pode expressar todos os sentimento que quer apenas movimentando os lábios? — pausou, e respirou fundo, logo voltando a falar, dessa vez, em um sussurro: 

    — Já parou para pensar, que um sorriso pode ensinar mais do que qualquer professor um dia conseguirá ensinar para seus alunos? — e então, com essa simples frase, Lee Chae-rin me ensinou tudo o que podia. Me explicou mais do que algo que foi dito na aula, pois ela me mostrou algo que vou levar para a vida, algo que faz parte de mim, e que jamais será esquecido. 

    Caminhamos em silêncio, mas uma dúvida acabara por me atormentar: qual o valor de um sorriso? 

    — CL. — chamei, e a mais velha sussurrou um "sim?" em resposta, mas seu olhar permaneceu fixo nas rosas do jardim. 

    — Qual o valor de um sorriso? — ao ouvir minha pergunta, uma baixa gargalhada escapou da Lee, que após pensar um pouco, respondeu: 

    — O sorriso não tem um valor fixo, ele varia de pessoa para pessoa. Mas, o que você acha? Qual o valor de um sorriso?

    Após pensar, senti minha mente se tornar um poço de confusão. Como uma simples pergunta poderia ser algo tão complexo? Era estranho pensar naquilo, pensar em responder algo tão diferente e difícil.

    — Eu não sei. — falei, e a Professora pôs uma mão em meu ombro, e paramos de andar. Ficamos frente a frente, e ela sorriu, logo dizendo:

    — Bom, esta é a sua tarefa de casa: encontrar, no meio de sua mente, o valor de um sorriso. Acha que consegue fazer isso? — perguntou, e agora, suas íris escuras possuíam um brilho único, que remetia a esperança e a pureza.

    — Consigo! — respondi em um tom alto e animado.

    Olhei para a professora Chae-rin, e vi que um sorriso lhe tomou os lábios, e então, encontrei ali uma frase que, em silêncio, gritava palavras de motivação e alegria.

    Era um sorriso que falava.

   Que falava gentilmente que eu conseguiria, que ela acreditava em mim. Que ela sabia, de alguma forma, que eu poderia surpreendê-la com minha resposta.

    Caminhei para longe da Professora, que foi até seu carro, enquanto eu permaneci no jardim, observando as rosas que haviam ali. Deitei-me na grama, e meu olhar se encontrou fixo no céu azul tiffany, e algumas nuvens brancas enfeitavam o mesmo. As aves levadas pelo vento se tornavam um belo contraste perante o céu, e o belo Sol e sua quentura, regiam a beleza da natureza. E eu sorri, e esse sorriso falava.

    Falava que eu poderia tocar o céu se meu coração acreditasse.

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⏰ Última atualização: Aug 11, 2020 ⏰

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O Rosto Do Amor [❀] SeulreneOnde histórias criam vida. Descubra agora