POV'S IRENE
São oito e doze da manhã, e o jardim do colégio está repleto de alunos, assim como os corredores. Procurando por um sala vazia, e não muito distante do refeitório, observo a janela das salas de aula, até que encontro a sala de música. Ela não possuía janelas, apenas a porta central, que sempre estava fechada, no intuito de "conter" todo o barulho que os alunos produziam quando tinham aulas de música.
A porta parecia ser feita de ébano, e a maçaneta era de cor dourada, mas não era extravagante ou chamativa demais. Ao abrir, adentrei o local em silêncio, e o som do piano chegou aos meus ouvidos. Meu olhar logo encontrou uma garota de madeixas escuras, sentada em um banco, em frente ao instrumento musical. Suas mãos se moviam com extrema rapidez, e seus lábios avermelhados como morangos estavam entreabertos.
Era Kim Yeri.
Fazendo o mínimo de barulho, sentei-me em uma das cadeiras do local, e permiti-me apreciar o agradável som. Fiquei ali, por alguns minutos, apreciando a música, da qual nem sabia o nome, mas que já fazia meu coração acalmar, e dançar no ritmo das notas que eram tocadas.
A Kim é uma garota incrível, que não se permite abalar pelos comentários egoístas, e que surpreende a todos com o tamanho talento que tem para tocar piano, mesmo possuindo uma triste limitação. Yeri é deficiente visual — em outras palavras, cega —, mas jamais desistiu de seu sonho, ou de seu belo dom.
— Bae Joohyun? — indagou a mais nova, que não havia sequer se movido, pois continuava tocando a bela música. Senti meu coração disparar, como ela sabia que eu estava aqui?
— Oh, olá, Yeri... Desculpe se te incomodei estando aqui. — falei, e a mais nova apenas sorriu, e parou de tocar.
— Venha aqui, eu não mordo. — disse, e fez com que uma pequena gargalhada escapasse. Caminhei até ela, e ao chegar, sentei-me em uma das cadeiras. A Kim voltou a tocar, e as notas tinham uma harmonia ainda maior.
— Como sabia que eu estava aqui? — perguntei, permitindo que a curiosidade tomasse o meu corpo. O som do piano não estava tão alto quanto antes, o que facilitava a comunicação entre nós duas.
— Você é a única do colégio que usa esse perfume, além de que suas madeixas exalam um aroma de menta. — respondeu, e tive a vontade de fazer trezentas perguntas, mas também de dizer que eu a admirava.
— É muito difícil? Tipo, acompanhar as aulas, se deslocar pelo colégio...
— No início era difícil, mas não tanto. Eu nasci sem conseguir enxergar, e isso, de certa forma, é melhor do que perder a visão ao longo da vida.
— Como assim?
— Pense comigo. — a mais alta falou, parando de tocar a música ainda desconhecida, logo virando para mim. — Eu nasci sem enxergar, então, para mim, conseguir ver as coisas ao meu redor não me faz falta, porque eu não conheci a sensação de ver. Porém, para alguém que se acostumou a ver tudo à sua volta, mas que perdeu a visão durante a vida, será mais difícil se adaptar, porque tudo muda para ele. — e então, pude entender um pouco da realidade em que ela vivia.
A garota voltou a tocar, e observei suas mãos se movimentando. Eram movimentos singelos e rápidos, seus dedos sempre encontravam as teclas certas com uma facilidade surpreendente. Às vezes, suas unhas batiam nas teclas, e produziam um leve barulho, mas que não era alto ou agoniante.
Algo naquela música que Yeri tocava me parecia familiar. Talvez a música fosse muito famosa, talvez a Kim já tenha tocado ela em alguma apresentação, mas eu não conseguia me lembrar o nome. Vi algumas partituras sobre uma das cadeiras, e então caminhei até elas. Fui observando, uma por uma, porém, só enxergava diversas coisinhas pretas espalhadas pelos papéis, e as mesmas estavam sobre cinco linhas, como se indicassem onde cada uma deveria estar. Minutos e mais minutos se passaram, até que o sinal tocou. Yeri arrumou suas coisas, e fomos juntas até a porta e, antes de caminharmos para direções opostas, a garota deu fim a minha dúvida, dizendo:
— O nome da música é "O Lago dos Cisnes".
E então, a Kim andou para longe, e meu olhar a seguiu até onde conseguiu. Um pequeno sorriso tomou meus lábios, e então, lembrei-me de onde conhecia tal música.
Seulgi tocou esta música em uma apresentação de artes do colégio.
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O Rosto Do Amor [❀] Seulrene
Fiksi PenggemarSeulgi desejava encantar-se com a beleza de Irene, mas a prosopagnosia a impedia de fazer isso. Joohyun desejava tocar a mais bela estrela, para que parasse de se perguntar se elas realmente existiam, mas a mesma não percebia que o astro mais brilh...