The Haunted Boy

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𝑨𝒗𝒊𝒔𝒐: Este capítulo pode conter gatilhos, por retratar uma experiência traumática e de quase morte na visão de uma criança apesar de não ter conteúdo muito explícito. Caso não se sinta confortável com este tipo de conteúdo pule a primeira parte da narrativa e comece a ler a partir do "Flashback off" obrigada!

𝑻𝒆𝒂𝒎

𝐄u tinha seis anos quando me afoguei na piscina, seis anos quando senti como seria morrer lento e dolorosamente e eu tinha seis anos quando ao invés de perder a vida naquele dia eu perdi minha mãe.

𝑭𝒍𝒂𝒔𝒉𝒃𝒂𝒄𝒌 𝒐𝒏

𝑻𝒆𝒂𝒎 [𝑺𝒆𝒊𝒔 𝒂𝒏𝒐𝒔]

Eu estava brincando na beira da piscina, estava apenas com os pés na água enquanto brincava colocando o barquinho na água, quando o mesmo foi um pouco mais longe o que exigiu com que eu me inclinasse mais para frente para pega-lo fazendo com que consequentemente eu caísse na piscina. Mamãe sempre disse que a piscina era mais funda do que parecia, ela sempre dizia que se eu entrasse meus pés não tocariam o chão, eu sempre pensei que seria boa a sensação, de boiar na água como o barquinho, sem que os pés tocassem o chão, mas não foi. Papai sempre dizia que nadar era fácil, eu só precisava de foco, mas ele nunca realmente tinha tempo para me ensinar e mamãe não sabia nadar, acho que foi por isso que ela ficou apenas observando eu me afogar. Muitas vezes eu imaginei como seria ser um peixe, respirar embaixo da água, eu sempre pensei que seria incrível, mas não foi, era na verdade assustador a falta de ar e a água entrando em meu pulmão e sempre que eu tentava ir para superfície em busca de ar era como se a água me puxasse logo de volta para baixo, acho que afinal de contas a água também gostava de mim.  Eu nunca tive medo de morrer, eu nem sequer pensava nisso, mas naquele momento eu  tive, porque morrer afogado seria doloroso demais e eu não gostava da dor. Eu pensei em rezar enquanto me afogava, mamãe sempre dizia que ajudava, mas eu não conseguia me lembrar da oração, então pensei que talvez Deus não me ajudaria por isso e ele não ajudou, talvez não soubesse nadar como a mamãe. Foi papai que me salvou, me lembro de ver o rosto dele antes de tudo ficar escuro, papai realmente era bom em nadar, talvez eu devesse rezar para ele na próxima vez.

Mamãe abandonou a mim e papai depois do ocorrido, ela disse que não estava preparada para ser mãe e o ocorrido era a prova disso, eu a disse que a perdoava e que estava tudo bem, disse que  papai poderia a ensinar a nadar, mas ela foi embora mesmo assim. Papai disse que ela não estar pronta para ser mãe foi uma desculpa para nos abandonar e eu acreditei já que ela arranjou outra família. Quando eu chorei de noite e disse para o papai que queria que a mamãe voltasse ele me ensinou uma coisa “Desejar mais do que se tem apenas traz a dor de não ter esta coisa Team.” Acho que ele estava certo, porque pensar na mamãe doía, doía muito, então eu parei. Papai me ensinou a nadar e quanto mais o tempo passava melhor eu ficava, apesar de a água ter me tirado a minha mãe foi ela que me aproximou do meu pai e foi ela que me ofereceu conforto, então eu prometi ao papai que eu seria um nadador muito bom um dia, eu seria o melhor, mesmo que sempre que eu fechasse os olhos eu sentisse a água invadir os meus pulmões, quando eu estivesse de olhos abertos eu faria questão de segurar a minha respiração e nadar na mesma água onde eu me afogava durante o sono, eu prometi ao papai que se azul fosse tudo o que eu tivesse, eu me acostumaria com ele, porque papai dizia que só enxergava o cinza e ele disse que isso o matava por dentro, então eu me contentei com o azul, porque eu preferia as lágrimas ao nada que ao papai o cinza proporcionava.

𝑭𝒍𝒂𝒔𝒉𝒃𝒂𝒄𝒌 𝒐𝒇𝒇

Assim que cheguei no meu quarto eu pude me deixar jogar na cama e reviver cada momento com Win, cada toque de sua mão na minha pele e o suave toque dos seus lábios com o meus. A sensação de o ouvir dizer aquelas palavras doces me faziam sorrir e naquele momento a água não parecia tão azul, tudo se tornou roxo ao o ouvir dizer  “você está preso comigo Team.” e o beijo que veio logo a seguir. E por mais que eu ainda estivesse com medo, eu não pude fugir, eu não queria fugir, então eu deixei que as coisas acontecessem, apenas deixe que as cores se conhecessem.

Mas ao me deitar para dormir tudo ficou friamente azul e eu sentia a água gelada adentrar os meus pulmões, eu tentei pensar em Win, mas só fez com que as palavras de meu pai ecoassem pela água em que eu me afogava, então eu acordei e eu tentei resistir, eu tentei fugir enquanto aquela frase ecoava em minha cabeça “Desejar mais do que se tem só traz a dor de não se ter essa coisa Team.”. Eu desejava mais, eu desejava Win e eu sabia que isso era errado, mas daquela vez eu não conseguia ouvir nada além da voz de Win dizendo. “Você está preso comigo Team.” Então quando me dei por mim eu estava na frente da porta dele enquanto ele me encrava confuso e sonolento.

— Eu posso dormir com você? — Ele não responde, apenas abre espaço para que eu entre, eu o faço e coloco minha mochila em um canto e me deito na cama de Hia que fechava a porta e ia na minha direção fazendo o mesmo e me encarando enquanto eu encarava o teto.

— Não consegue dormir? — Aceno com a cabeça. — Você  pode me dizer  o porquê se quiser.  — Eu me viro e o encaro e olhando em seus olhos eu não pode fugir do sentimento de segurança, então eu o contei, contei tudo e ele apenas ficou lá escutando tudo enquanto acariciava minha mão, ele não me interrompeu nenhuma vez ou me encarou diferente da maneira que me encarava antes.

— Ela ainda me liga as vezes, mas eu nunca atendo o que é estranho já que por muito tempo tudo o que eu queria foi que quando eu o telefone tocasse fosse ela ligando. — Eu digo encerrando a história.

— Talvez você não esteja preparado para ouvir o que ela tem a dizer ainda.

— Talvez. — Fica um silencio entre nós, eu encaro as mãos de Win que estava acariciando a minha enquanto eu contava tudo, ele não a soltou nem por um segundo. — Você não soltou a minha mão. — digo quebrando o silêncio. — E continua me olhando da mesma maneira que antes.

— Você achou que isso mudaria? — Concordo ainda olhando para nossas mãos. — Você é o único que foge aqui Team.

— Hooy como você pode me provocar até em um momento como esse. — resmungo e ele ri soprado. — Hia..?

— O que?

— Eu tirei nota máxima na prova.

— Por que isso do nada? — Eu o encaro.

— Você pode me levar em um encontro? — Ele sorri e acena positivamente.

— Apenas me diga quando e eu te levo em algum lugar legal. — Eu aceno positivamente.

— Hum... Win? Eu posso te abraçar? — Ele concorda e se aproxima e abraça minha cintura enquanto eu fechava os olhos e com o calor de Hia e sua respiração batendo em meus cabelos eu adormeci.

E naquela noite a água fria não entrou por meus pulmões e me afagou em sua agitação, quando eu fechei os meus olhos, naquela noite nos braços dele eu entendi porque vermelho era a cor mais quente.

The Blue on your RedOnde histórias criam vida. Descubra agora