Promessas de um Amor

A história não contada

As viagens com essa runa nunca são suaves, sinto como se tivesse entrado em um túnel colorido e na velocidade da luz, e nessa mesma velocidade sinto ser jogada para fora do túnel. E para o meu azar cai naquela lama em frente do portão de entrada de Zeniba, tudo está igual, a pequena estrada, o portão de entrada e as árvores em volta. Quando paro de olhar ao redor vejo uma lamparinazinha vindo em minha direção pulando

-Estou me sentindo no filme da Bela e a Fera - Falo enquanto limpava minha roupa - Você pode me levar até a porta da casa da Zeniba, por favor?

A pequena lamparina faz um sinal, como se fosse um aceno de confirmação e sai pulando na frente

Ao começar a andar, sinto o frio vento da madrugada e me arrependo por ter tirado aquela blusa rosa, começo a vasculhar a bolsa que estava carregando e encontro aquele casaquinho de flanela que tinha trago de casa. Ao vestir sinto o cheiro do sabão em pó que minha mãe usava para lavar as roupas e no mesmo instante começo a sentir saudades de casa, já estou aqui a semanas, sei que no mundo normal não passaram de algumas horas. Mas como é que meus pais estão? Será que minha mãe me ligou alguma vez e eu não atendi? Será que eles já voltaram e acham que estou desaparecida?

Fico tão envolta nos meus pensamentos que acabo tropeçando na lamparina que tinha parado de pular e ficou parada em frente a porta da casa de Zeniba.

-Finalmente em um lugar seguro, né? - Falo olhando para a lamparinazinha

E como se estivesse me respondendo, ela dá um pequeno pulinho

-Então vamos lá

Respiro fundo e sigo até próximo a porta

- TOC TOC TOC

~ silêncio ~

-TOC TOC TOC

-QUEM É? - Disse uma voz lá dentro

-Chihiro! Lembra-se de mim? - Respondo, com a porta ainda fechada-

-Chihiro? - Respondeu enquanto abria a porta lentamente-

-Sim, vim aqui uma vez a muito tempo atrás

-Chihiro! Sim, claro, claro, me lembro, por favor minha querida entre, aqui fora está muito frio

Ela vestia uma roupa dormir, uma espécie de camisola ou algo parecido, e usava uma echarpe por cima dos ombros, seu cabelo estava amarrado em um coque bagunçado e estava com uma cara de quem acabou de acordar

Logo assim que entrei, Zeniba trancou a porta e fez uma espécie de encanto, o que me deixou muito curiosa

-Não imaginei que você demoraria tanto para vir, e não imaginei que viria nesse horário, quer um pouco de chá?

- Sim, por favor, me desculpe por vir tão cedo, mas não tive outra opção. E como a senhora sabia que eu viria?

- Não se faça de desentendida - deu um risinho- Haku me contou, é claro

- Tenho minhas suspeitas que esse garoto é um grande fofoqueiro- Disse rindo-

-Não tenha dúvidas- Respondeu rindo- Mas bom, não acho que você veio só para tomar chá, ou estou enganada?

-A princípio, era só para tomar chá mesmo, queria te fazer uma visita, mas desde que voltei para o mundo dos espíritos tenho tido sonhos estranhos, e no primeiro dia que eu cheguei aqui Haku precisou literalmente sair correndo para resolver alguns assuntos, e não tive tempo para saber sobre o que se tratava, fiquei na casa de banhos e por fim acabei de desentendendo com a Yubaba - Falo enquanto Zeniba estava preparando o chá-

-Quando Haku disse que você viria, ele me pediu para que eu te explicasse as coisas que você tivesse dúvida, acho que a principal é sobre esse assunto que ele foi resolver né? Depois conversamos sobre as outras coisas, tudo bem?

-Sim!

-Preciso que você mantenha isso em total sigilo, pouquíssimas pessoas sabem disso, ó céus, por onde começar - Falou enquanto coçava a cabeça

-O assunto é tão sério assim? - Pergunto preocupada

-Você não faz ideia, é um assunto envolve pessoas perigosas e até mesmo a morte de pessoas importantes da corte - Os olhos de Zeniba pareciam vazios e tristes

-Estamos correndo grande perigo Chihiro, você não faz ideia, e o pior é que convivemos com esse perigo iminente a muitos anos, mas só agora percebemos.

- Zeniba, por favor, me diga o que está acontecendo- disse segurando a sua mão

-Querida, você nunca achou estranho o rei Taishou nunca ter tido filhos? Ou nunca ter se casado? Vivemos numa monarquia, isso não é natural aqui. As pessoas se casam e tem filhos para deixarem herdeiros paras as próximas gerações, mas Taishou não fez nada disso, mesmo quando ainda era um príncipe, há muitos anos atrás ele se negou a se casar com as pretendentes que lhe eram apresentadas. Ele simplesmente não podia se casar com alguém que ele não amasse, ele era apaixonado por outra pessoa.

-Outra pessoa? Quem? Eu conheço essa pessoa?

-Essa pessoa era Yamato, quem acolheu Haku, por isso os dois amaram tanto Haku, era como se ele fosse o filho do coração deles, a herança de todo aquele amor. Taishou e Yamato foram um casal por muitos anos, a mais anos do que eu consigo me lembrar, mas nunca permitiram que eles se casassem e eles acabaram escondendo o seu amor de todos, ao menos era isso que pensaram

-E por quê não deixaram eles se casar?

- As pessoas da antiga corte odiaram a ideia, desde sempre trataram Yamato com desprezo e frieza, na intenção de afasta-lo de Taishou. Quando ele foi eleito a Conselheiro do rei, os ataques pioraram

-Meu Deus! Você acha que mataram Yamato para separá-lo do rei Taishou?

- Não só como acho, como tenho certeza. Yamato foi envenenado e não foi um veneno comum, conheço muitos feitiços, e posso te afirmar que o jeito que Yamato estava, ele foi envenenado e usaram um feitiço para mascarar o veneno.

-Zeniba, você já contou isso para alguém? Tenho certeza que o rei iria te ouvir caso você tentasse contar para ele

-Quando Yamato adoeceu, Haku pediu para que eu fosse vê-lo para tentar ajudar ele a melhorar, e no mesmo instante, pude perceber que era algum encantamento e disse isso ao rei, mas a princípio ele não acreditou, precisei rastrear o feitiço para que ele acreditasse, mas o rastreio demora muito tempo e Yamato estava muito doente, infelizmente não consegui fazer um antídoto a tempo, e quando finalmente terminei o rastreamento não havia mais ninguém naquela caverna - Disse com lágrimas em seus olhos -

-Não se culpe Zeniba, não tinha como você prever que estava sendo chamada para algo tão sério, muito menos que uma magia de alto grau estava sendo usada, não se culpe

-Chihiro, só descobrimos que era uma magia por causa do meu encantamento de rastreamento, me dediquei a ele por muitos anos, não conheço ninguém que tenha essa habilidade, mas quando eu mais precisei, ela não me serviu de nada, Yamato era meu amigo, pai do menino que você ama, e eu não consegui fazer nada para ajudá-lo, tem ideia de quanto isso me perturba? Todas as noites penso em como poderia ter evitado tudo aquilo

Abracei Zeniba, e foi um abraço pesado, dava para sentir todo o sofrimento e culpa que ela sentiu por todos esses anos, e que sentiria por todos os outros anos que viria e infelizmente só pude compartilhar da sua dor, não sabia como eu poderia ajudá-la

-Querida, vá tomar um banho enquanto eu vou arrumar a cama para você dormir

Concordo com a cabeça, e sigo em direção ao banheiro, ao me despir percebo como o meu corpo está machucado e com hematomas devido toda aquela luta que tive na casa de banhos, parecia que tinha saído de uma grande briga de rua, meu corpo estava dolorido e com hematomas de todas das cores possíveis

-Não é momento para se preocupar com isso - Digo a mim mesma-

Ao sair do banho, me despedi de Zeniba, e vou em direção ao quarto para me deitar na cama, e a única coisa que eu consigo sentir naquele momento é paz, depois de semanas, encontro a paz que precisava para conseguir ter uma boa noite de descanso, devido ao cansaço acabo dormindo rapidamente