Capítulo 2

4 1 3
                                    

  O sol não deixava fixar seus olhos para frente, de vez em quando, abaixava a acabeça para que o chapéu protegesse sua visão, permaneceu assim até chegar bem ao centro do cemitério, no entanto após abaixar a cabeça e levanta-la novamente, avistou uma índia sentada ao chão com as pernas cruzadas, destacava-se seus longos cabelos negros, com poucas vestimentas e com o corpo pintado com uma espécie de tinta branca, que desenhavam figuras estranhas, seus olhos estavam fechados e de expressão serena, como se o calor não a incomoda-se.

Sua reação foi alcançar a pistola em seu coldre, havia índios na região, onde há um, sempre haveriam mais, mas mesmo sem ter nenhuma chance, não morreria sem lutar.

   Se aproximou de vagar, ao mesmo tempo posicionava o cano da arma na direção dela.

–  Você fala minha língua? – perguntou o viajante, ainda mantendo ela na mira da arma.

– Os mortos falam apenas uma língua, homem branco – respondeu a índia sem abrir olhos.

– Por favor! – continou o homem – meu cavalo morreu e tenho sede. Não quero lhe fazer mal, apenas seguir meu caminho até o forte onde estão mais homens brancos.

–  Não precisávamos de água aqui, muito menos de um caminho a trilhar, aqui é o fim de tudo – indagou a índia, abrindo seus olhos de vagar na direção do homem.

– Não precisam me atacar, não tive a intenção de entrar em solo sagrado.

–  Agora é tarde pra se lamentar – interrompeu a índia – a vida galopa rápido como o espírito do cavalo branco contra o vento, guiando as almas perdidas para o seu descanso e apagando os ratros do mal tempo, não existe remorso duradouro e nem perdão totalmente piedoso.

– Cancei de seu sermão sem sentido, vou atravessar e se tentarem alguma coisa, vou estourar seus miolos! – disse o soldado com um tom autoritário.

– Homem branco! Nunca chegará ao seu destino com vida – disse a índia antes de fechar seus olhos novamente e voltar a sua posição.

Os Abutres Voavam Em Círculos [Conto]Onde histórias criam vida. Descubra agora