Capítulo 3: A Caçadora de Duas Cabeças

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Ah, o grandioso portão de Niátama. Famoso por seu nome, suas histórias e seus mitos. Popularidade essa que não ficou presa somente à cidade de Seskriv, mas também já foi disseminada no continente inteiro. Afinal de contas, é um monumento que aprecia nada mais, nada menos, que um Titã do Plano Espiritual.

Os titãs são figuras mitológicas conhecidas por guardarem essa realidade paralela e proteger contra pessoas má intencionadas. Afinal de contas, dizem que quem morre, um dia acorda nesse lugar. Um espírito recém chegado não pode fazer nada de mal, claro, mas não posso dizer o mesmo de quem nunca morreu.

Dentre os titãs, acho que Niátama é a mais conhecida. Também, facilmente memorável. Imagine uma criatura enorme e quadrúpede de pescoço alto, pelagem comprida e com duas cabeças. Ela é uma das guias para almas novas, ajudando elas a encontrarem seu caminho para uma nova vida após a morte. Daí vem sua altura. Ao mesmo tempo, atua como a juíza final do tempo de vida de alguém, e é daqui que vem suas duas cabeças: Com uma cabeça, pensa e com a outra, caça.

...Mas isso são especulações. Não posso dizer com certeza de que isso tudo seja verdade. Afinal, como posso garantir algo que é passado, de boca em boca, por mais de milênios, tenha se mantido autêntica?

Por outro lado, contarei uma história que sei ser verdade.

Falo do Conto de um príncipe chamado Leonardo.

Leonardo era o filho mais velho de uma nobre família, encarregado de continuar as tradições reais e herdeiro de um trono. Seu irmão mais novo, infelizmente, era incompetente e nem interesse tinha pelo trilhar de um verdadeiro líder. Por outro lado, sua irmã era a melhor irmã que alguém podia ter. Ambos se ajudavam na tarefa de praticar o bem e eram igualmente dispostos a ajudar o reino. Ela chamava-se Isabela.

Certo dia, Isabela teve que liderar uma coleta de recursos especiais. Tratava-se de uma tarefa simples, mas ela não voltou. Leonardo não é do tipo que fica desesperado, mas aquilo não parecia ser motivo para não se preocupar no mínimo, bastante.

Armou-se de uma espada e um escudo, montou numa dynolua e saiu imediatamente na direção que a irmã teria ido. Normalmente avisaria os pais, mas não havia como esperar mais.

Por certo tempo, a dynolua trotou sob a neve do inverno, por entre os troncos de coníferas. De repente, ele chega num grande portão cercado por muralhas. Guardando a estrutura, estava um velho com um cajado que pegava fogo. O fogo, misteriosamente, brilhava azul.

Leonardo, intrigado, se aproxima do senhor, que sucintamente, fitava-o mal-encarado.

- Pare! - Grita o velho, espalhando saliva pelo chão. O príncipe desacelera, intimidado, e o senhor lhe pergunta - O que vens a fazer do outro lado deste portão?

- Venho em busca de minha irmã, que se perdeu por estas bandas - Declara Leonardo - Creio que, como herdeiro do trono e protetor de minha família, preciso resgatá-la. Penso que ela pode ter seguido por este caminho, através deste portão.

O velho, após escutar, olha para a chama com olhos semicerrados. De mesmo modo, volta a encarar o jovem.

- Nobre jovem, através deste trilhar, encontrarás nada além de morte! - Clamou o velho aos céus, batendo seu cajado contra o chão - Veja isto! A chama que carrego! Ela brilha a cobalto! Sabe o que significa?

- ...Não?

- Significa que Niátama assiste seu caminho...

Niátama era um nome familiar, tão familiar quanto nós mesmos conhecemos, mas não sabia o que a chama tinha a ver com isso. O que quer que fosse, não se contraria os ideais de um titã.

Denrise: A Pródiga Acovardada e a Cidade SecretaOnde histórias criam vida. Descubra agora