Amicus curiae

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Jimin

Park Jimin era um jovem de vinte e cinco anos que frequentemente se vestia como se ainda estivesse na adolescência. Não podia evitar; era algo que fazia parte de seu estilo. (E no final das contas quem é que poderia dizer quando a adolescência realmente havia acabado para alguém antes dos trinta?). Bermudas caqui, blusas com estampa – muitas com estampa de super-herói – e um piercing prateado na orelha esquerda, era assim que ele andava. Ele era um garoto calmo, um tanto calado e sentimental até demais.

E, quando se falava sobre Jungkook, as coisas dobravam de tamanho.

Ele foi o primeiro namorado de Jungkook, e vice-versa, isso é um fato muito importante sobre ele, tão real e descritivo dele quanto o fato de ele gostar de chá gelado ou o de que só dorme com todas as luzes desligadas; as primeiras experiências que teve com Jeon Jungkook, lá por volta de doze ou treze anos, foram inesquecíveis e por muitos anos ele as tem guardadas.

É ruim quando a gente vai se esquecendo, é mesmo. É como se as lembranças que mais nos explicam, mais nos fazem entendíveis para o mundo, ficassem cada vez mais distantes e inalcançáveis, até o ponto em que você não consegue mais colocar em palavras o que você viveu e, portanto, se torna impossível para qualquer pessoa entender o que isso significa para você. Você como indivíduo só se torna entendível para você mesmo, ás vezes nem isso.

Era assim que Jimin se sentia quando se lembrava do tempo que namorou Jungkook. Era um cenário distante e desfocado, mesmo que tivesse o brilho forte de uma estrela cadente. Quanto a memórias de quando ficaram apenas amigos, ele tinha aos montes, algumas tão significativas quanto, mas não tão reconfortantes.

Um episódio específico nunca saiu de sua memória.

Era véspera de feriado, iriam para a Casa do Lago na manhã seguinte. Como eram novos demais e ainda não podiam ficar sozinhos (para a irritação de Jungkook), dois empregados ainda iam com eles para limpar as besteiras que faziam e ficar de olho neles. Eles os chamavam de Tio Kim e Tia Yooa, e eram bem legais.

Quanto a pais? Nem se ouvia falar neles se você não quisesse levar uma resposta estúpida de Jungkook.

O fato é que, nessa noite antes de irem para a casa, Jimin e Jungkook estavam se falando ao telefone, como quase sempre faziam a noite, pois havia virado costume. Essa também é quase uma cena palpável para ele: Jimin deitado na cama com as pernas na vertical apoiadas na parede, com o celular no ouvido e o olhar perdido no teto.

– Os garotos vão trazer algo para amanha? Eu tenho que trazer também? – Ele perguntou em certo momento, um tanto apreensivo. Ir até a Casa era uma atividade recentemente criada, e ninguém ainda estava muito acostumado àquilo, embora achassem o auge da diversão.

– Não, não precisa – ouviu a voz do outro no auto falante – Só esteja pronto umas dez horas que a gente vai passar aí pra te pegar. Vou fazer questão de você ser o primeiro, não importa se a casa da sua mãe é lá do outro lado da cidade.

Jimin riu, todo afeiçoado.

– Você puxa muito meu saco, viu?

– Eu existo pra isso. Juro, existo para isso.

Um suspiro, vindo de Jimin, e o sorriso que essa fala lhe proporcionou começou a murchar. Ele estava escutando sua irmã no outro quarto enquanto ela ria. Ria alto de uma série que ela não o deixava assistir junto com ela, e isso o fazia ficar furioso naquele tempo.

– O que foi, pequeno? – Jungkook perguntou.

– É a Hyojung... Ela tá assistindo aquela série, Friends, sabe qual é? Ela não me deixa assistir, diz que eu sou muito novo...

Quem matou Jeon Jungkook?Onde histórias criam vida. Descubra agora