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A mesa posta fez com que meu estômago acordasse. Sem manter qualquer contato visual com sua mãe e sua prima, eu me sento na cadeira de madeira envernizada, me posicionando de frente para a mesa.

O silêncio pesava mais que o Titanic, ou até mesmo a terra já que o valor estimado da mesma é de 5,9 sextilhões de toneladas.

— Dormiu bem, menina? — A senhora sentada a minha frente indaga.

Encaro Renan por alguns segundos.

— Dormi sim. — Digo simples.

— Renan, você vai pro baile amanhã?

A prima do meu pretendente adentra a cozinha. Seu rosto estará maquiado, ela vestia um short branco e um top da Calvin Klein. Seus cabelos loiros e ondulados estavam ressecados, mas isto não atrapalha sua beleza.

— E isso te diz respeito? Toma vergonha, Ludmila. Eu já falei para você não ficar seguindo Renan — Marta dispara — isso aí é só Jesus na vida dele.

Não seguro e solto uma risada, atraindo olhares.

— Tá rindo, é? Vai pelas ideias dessa aí não — Renan diz, me entregando um pão de sal.

— Você também — Ela aponta para mim, antes de morder seu pão — espero que ele sossegue com contigo.

Ludmila caminha até a geladeira e apanha uma jarra com água, após despejar um pouco em um copo de vidro o sol invade a cozinha pela janela e rebrilha em sua água límpida.

— Essa aí é santinha demais — Dispara — Renanzinho gosta das malvadas.

— De Santa só tenho a cara, mesmo. — Retruco.

— Será mesmo? Isso só quem pode responder é o meu priminho. Fala tu, trem bala

Rolo meus olhos com sua provocação.

— Ela representa. — Renan anuncia.

A feição de sua mãe muda completamente.

— Olha, que você esteja tomando remédio menina.

A ignorância de Marta me irrita.

— Posso tomar remédio tal como seu filho pode usar camisinha. Esforço é para ambos. — Rebato na mesma ignorância.

— Renan não sabe cuidar bem da própria vida. — Ela diz. — imagine cuidar de um bebê.

— Ele sabe cuidar de um bebê sim, tia — Ludmila dispara.

Antes que eu pudesse dizer algo Renan toma a frente.

— Cala a boca, caralho. Só abre esse esgoto para soltar merda.

— Pode parar, Renan. Os dois, chega.

Marta diz e se levanta. Talvez ela já esteja acostumada com brigas entre os dois. Termino de comer meu pão em silêncio, até que sinto os lábios do meu ficante em minha testa.

— Estou indo, se eu demorar o neurótico lá fica putinha. — Ele diz me fazendo rir — Cuida dela, mãe.

— Por mim você não ia — Ela Murmura após receber um beijo na bochecha de seu unigênito. — Por favor, Renan...

— Não começa, mãe. — Ele murmura seriamente — te amo. Vou só por minha roupa e tô partindo.

O homem sobe as escadas rapidamente e eu volto minha atenção para a mesa. O gosto da Nutella em minha boca se fez amargo quando percebo olhares sob mim. Que sensação horrível.

— Toma um pouco de café. — Marta pronuncia.

A mesma apanha uma xícara com café e me oferece. Aceito sua gentileza e sorrio.

— Alícia, né? — Ludmila pergunta. Ela repousa o copo sob a pia e caminha até a mim.

— Isso. — Respondo seca.

— Você não sabe para onde sua mãe possa ter ido? — Marta indaga.

— Eu não sei. — suspiro — ela simplesmente me deixou.

— Como assim? Gente, o que tá acontecendo? — Ludmila pergunta.

Havia surpresa em seus olhos. Ela realmente não sabe o que houve.

— Se mete na sua vida, Ludmila. Vai passar a camisa da escola.

Marta ordena sem paciência. A menina obedece bufando, nos deixando a sós.

— E o que você pretende fazer? — continua ela.

— Não sei. Estou sem ânimo até mesmo para ir a escola. — Confesso — não entra na minha cabeça que uma mãe possa abandonar um filho assim.

— Uma mãe faz o necessário para ver o filho bem. Você não entenderia, talvez só quando for mãe.

— Cada caso é um caso. Não sei qual foi o seu motivo, acho que se cansou da vida miserável que levará junto a mim.

Marta beberica seu café.

— Você me parece ser uma menina inteligente, foque nisto. Ter um namorado parece ser muito legal, mas eu te digo que a vida que meu filho leva não é boa para você. — Confessa com pesar — se afasta enquanto é tempo.

Alinho minha postura na cadeira e fito seus olhos. Minha cabeça começará a doer, preciso de meus óculos. O único problema é não ter o trago junto a mim.

— Eu sou perdidamente apaixonada pelo seu filho nada, absolutamente nada e nem ninguém vai me fazer ficar longe dele. — Disparo rapidamente.

Ela acena com a cabeça algumas vezes. Estava pensando, sabe-se lá o que. Noto um sorriso ao canto de seus lábios.

— Ele me falava muito de você. Quando estudava — naturalmente ela ri — dúzia que você é a menina mais bonita da comunidade.

Sinto-me lisonjeada.

— Ele é maravilhoso. — Digo sorrindo.

— Opa, estão falando de mim?

Renan pergunta enquanto desce as escadas, vestindo uma calça jeans e com sua mochila mas costas. Por baixo da camisa creme era notório um volume, na região da barriga.

— Você vem para casa hoje?

Marta pergunta.

— Acho que não.

— Hoje eu não fico aqui. Tenho que ajudar na limpeza da igreja e vou limpar minha casa — Explica a senhora.

— Vai deixar minha namorada sozinha?

Ele brinca.

Bem que poderia ser verdade. Não sei o que o mesmo está esperando para que isto ocorra. Eu estou esperando um pedido formal.

— Tem problema, Alícia? Posso mandar a Ludmila vir para cá depois da escola. — Indaga Marta.

— Não! — digo desesperada — quer dizer, não tem problema algum.

Assim foi feito. A casa ficou silenciosa quando todos saíram. Lavei a louça do café e subi para o quarto de Renan. Ponho meu celular em seu carregador e ligo o mesmo. Vejo algumas mensagens de Raquel, sua mãe estava preocupada comigo.

A mesma me convida para ir até sua casa. Não é uma má idéia, irei passar em minha casa e pegar meus óculos. Visto outra roupa e pego as chaves.

No caminho para a casa de minha mãe algumas pessoas me perguntam se há notícias, infelizmente tenho que dizer não. Quando estou prestes a abrir o velho portão vejo o inferno na terra me encarando, Alê Tatoo. Ignoro seus olhos e o estranho fato do mesmo estar tão próximo a minha casa.

Entre Rosas -(DEGUSTAÇÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora