treze

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Cá estou eu, com minha mochila nas costas, em frente a minha casa. Aguardando enquanto Renan repousa a moto sob o descanso. O mesmo não está satisfeito com minha decisão de vir para casa, continuou insistindo para que eu ficasse junto a ele.

Renan caminha em minha direção, girando a chave da moto entre seus dedos. Ele abre um sorriso ao fitar meus olhos. Juntos entramos em minha casa, foi inevitável não lembrar da cena ridícula, aquele homem asqueroso próximo a mim.

— Deixa tuas paradas aí, vamos no mercado. Vou comprar umas coisas para você — Renan pronuncia — fica com meu carregador, coloquei na tua mochila.

Eu não poderia negar sua ajuda, não tenho comida e muito menos um real no bolso.

— Certo. A Marlúcia me arrumou uma faxina, posso te pagar tudo. — Digo envergonhada.

— Não quero nada, Alícia. — Há rigidez em sua voz. — vamos logo.

Opto por não saturar sua paciência. Renan está sendo um verdadeiro cavalheiro, um pouco diferente dos contos que estou acostumada a ler, mas é o cavalheiro da vida real.

Subo em sua moto e vamos em direção ao mercado. Enquanto ponho algumas coisas no carrinho o celular de Renan não para um minuto, até que o rádio comunicador pendurado em seu peito, emite em som e logo uma voz soa.

"Saiu do posto por muito tempo, caralho."

Reclama a voz.

— O Pedro tá no meu lugar, já estou voltando. — Renan responde, através do rádio.

Aquilo despertou olhares curiosos de pessoas no mercado.

— "Pode colocar o papa lá, eu pago é você”

A voz rebate. Óbvio que é Alexandre, o monstro. Esse cara não consegue ficar sem bagunçar minha vida por algumas horas? Que inferno. Mesmo tento noção que Renan sabe o que ele fez com sua mãe, o cara não tem a mínima decência.

Não compramos muito, mas creio que seja o suficiente para mim. Estou contando bastante com a faxina que Marlúcia conseguiu para mim. Falando nisto, preciso verificar se a mesma enviou a mensagem.

— Vou lá, linda. Qualquer coisa me liga — Renan alerta.

— Obrigada por tudo e peça desculpas a sua mãe por mim. — Digo enquanto retiro as sacolas da moto.

— Se preocupa com isso não. — ri — ele vai querer me prender na contenção até amanhã. Posso vir tomar café contigo? — indaga.

Abro um sorriso.

— Claro que pode.

Renan se curva um pouco e beija meus lábios. Seu beijo quente transferiu todo seu calor para meu corpo, poderíamos nos perder facilmente. Essa sensação se vai quando seus lábios se separam dos meus.

— Vou entrar, está pesada as bolsas. — Murmuro — vai logo, antes que esse demônio apareça aqui.

— Fica bem, amor.

Ele da partida com sua moto. Ponho as bolsas ao chão e abro o bendito portão. Odeio ler a ofensa explícita no mesmo. Me irrita.

Entro em casa e deixo as bolsas em cima da pia. Vou até meu celular em busca de alguma mensagem de Marlúcia, nada ainda. Após guardar as compras opto por um banho, onde novamente ponho minha cabeça no lugar e choro.

Entrar em um local e não encontrar a pessoa que sempre esteve ali é muito complicado e lidar com isto é pior ainda. Talvez eu seja fraca por não suportar um baque como este. Posso ouvir as pessoas dizerem que tudo ficará bem e me convencer disto. Se eu tiver fé nas palavras boas, tudo ficará bem?

— Palavras são, na minha não tão humilde opinião, nossa inesgotável fonte de magia. Capazes de ferir e de curar. — Sussurro para mim mesma — J.K Rowling. — completo.

Permito que a água deixe o restante da espuma sair de meu corpo. Infelizmente esqueci-me de trazer shampoo junto as compras, por tanto, sacrifiquei meus fios negros os lavando com sabonete.

Visto minha calcinha acompanhada de um short um pouco largo. Visto a parte de cima de um babydoll surrado e me dou por satisfeita após pentear meus cabelos. Penso em preparar algo para jantar mas logo desisto, não há fome.

Fito o celular em cima do braço do sofá e penso que passou da hora de aprender a usá-lo corretamente. Faço isto durante algumas horas, baixei alguns jogos que pensei ser interessante. Abro o aplicativo de mensagem e vejo algumas mensagens, uma delas é de Renan, avisando que o demônio havia dado uma ordem para que ele ficasse fazendo a tal da contenção, em frente a sua casa...a noite toda. Que idiota. Faço um pouco de café e assisto televisão.

Abro meus olhos e dou conta que cochilei no sofá. Desligo a televisão e apanho o copo de plástico jogado ao chão da sala. Deixo meu celular carregando e noto que são quatro da manhã. Caminho até meu quarto e jogo meu corpo ao colchão.

Amor?

Ouço, talvez seja um sonho.

Acorda preguiça.

Renan. Obviamente não é um sonho. Abro um sorriso antes mesmo de abrir os olhos, mas quando o faço, não me arrependo. A mão gelida do homem toca minha face. Ele parece cansado demais, provavelmente com muito sono.

— Oi. Vem dormir — Murmuro ainda com sono.

— Comprei umas paradas pra tomar café com você.

Senti-me no colchão e esfrego meus olhos.

— Quer tomar um banho antes? — Indago.

— Tomo depois do café. Tô morto de fome, o filho da puta não liberou minha marmita — Desabafa raivoso.

— Eu não sei o porquê de você continuar nisso.

— Esse negócio de trabalhar de carteira assinada não é comigo.

Me levanto rapidamente, prendendo meus cabelos.

— Esse cara é um psicótico. — Digo.

— É, e você dormiu com a porta aberta. Não faz mais isso. — Diz em um tom rígido.

Reviro meus olhos ao lembrar que realmente havia esquecido.

— Eu adormeci no sofá, quando acordei era tarde, então vim para cá.

— Ah, já ia esquecendo. Trouxe um negócio pra você.

Ele sai em direção a sala, eu o sigo. Renan pega sua mochila preta e retira de lá um rosa. Ele sorri e me entrega.

— Que linda. — Digo pegando-a de sua mão — você ainda lembra de tudo.

— Sei que você é 'paradona em rosas — Comenta me fazendo sorrir.

— Eu não sabia que vende rosas por aqui.

— Vende não. Essa aí eu peguei no quintal do Ale. — Me surpreendo — tem cara de durão mas no quintal dele tem um monte. Faz anos já.

Isso é incrível.

Entre Rosas -(DEGUSTAÇÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora