CLÃ

CAPÍTULO III

CAPÍTULO III

- Suprema, insisto em considerar tudo isso uma grande tolice! - disse Seu Quincas, apoiando-se em sua bengala, com o olhar sério e preocupado para Domênica, que estava sentada na poltrona de seu escritório e desviava o olhar. - Peço perdão se estiver pensando que estou questionando sua autoridade, mas não acho que seja a hora de começar o teste das Três Maravilhas com aqueles jovens...

- Como você não quer que eu ache que você não está questionando minha autoridade, se você se dá ao trabalho de vir a minha sala e dizer que não acha certo eu fazer o teste das Três Maravilhas com eles? Me poupe! - Domênica cuspiu as palavras na cara de Seu Quincas, que como resposta apenas abaixou a cabeça. - Merda, eu estou morrendo e preciso achar a pessoa que vai me substituir...

Com a boca e as mãos trêmulas, Domênica tirou um cigarro do bolso de sua roupa, e bastou colocá-lo na boca para que ele automaticamente acendesse.

- Como Suprema é a minha obrigação! - soltando a fumaça do cigarro pela boca, Domênica se mostrou mais relaxada na poltrona - Esse Clã é um dos mais importantes de todo o país, e não posso simplesmente partir sem deixar as coisas acertadas. Por mais que muitos do membros não dão a mínima pra esse lugar, não comparecem às reuniões anuais e muito menos reconhecem todo o conhecimento e aprendizado que sugaram desse casarão. Me lembro de quando vim morar aqui, tinha apenas oito anos de idade. O Clã era cheio, todos os quartos divididos com pelo menos três pessoas, um vasto grupo de bruxos dispostos a ficarem aqui e ensinar tudo o que podiam para os mais novos... Até mesmo quando eu assumi a supremacia há quarenta anos atrás, as coisas eram desse jeito, mas hoje... Hoje as pessoas que ainda se dão ao trabalho de vir, já vêm querendo saber o momento em que elas estarão prontas e independente, só o suficiente para sobreviver lá fora, no individual e esquecendo o principal motivo de terem entrado nessa merda de Clã!

Exaltada com as próprias palavras, Domênica deu algumas profundas tragadas, enquanto Seu Quincas continuava de cabeça baixa, sem dizer uma palavra.

- Lembro perfeitamente do dia em que o Conselho me nomeou como Suprema... Não tinha ainda nem vinte anos, mas toda a responsabilidade de liderar um Clã e todo aquele poder já estavam em mim! - retomou Domênica, dando uma última tragada no cigarro - Naquele momento, eu disse pra mim mesma que seria a melhor Suprema que esse Clã já teve, ou pelo menos tentaria ser melhor do que meu antecessor... O que no caso não seria difícil, ele foi péssimo, malvado e cruel... Completamente louco... Me orgulho de ter sido uma das principais pessoas que lideraram o levante contra ele. Lógico que eu não imaginava que estava destinada a tomar seu lugar. Achei que seria a Dalva Lisboa, já que ela era mais velha, mais poderosa e com certeza tinha um potencial de ser uma grande líder. Mas as coisas não foram assim... E agora a filha dela está sob meus cuidados... Ela também deve achar que é a próxima Suprema... Mas eu não faço ideia de quem possa ser. São todos tão talentosos, tão poderosos e fortes... Qualquer um pode ser, e justamente por isso eu não vou deixar essa tarefa para aquele Conselho incompetente. Preciso fazer o teste com todos eles...Vou morrer, mas morrerei com meu sucessor já descoberto. E todo esse monólogo foi para lhe dizer que eu vou fazer as Três Maravilhas, mesmo que isso custe a vida de alguém... Tudo pelo bem do Clã!

***

Devido aos acontecidos da semana, Domênica resolveu voltar com os testes somente na semana seguinte, deixando o restante do tempo livre de tarefas, aulas e atividades. Nessas ocasiões, Giovanna passava mais tempo na estufa do que usualmente. Porém, preocupada com a situação de Danilo, a garota o visitava em seu quarto todo o dia desde do acidente. Mesmo Domênica dizendo que o garoto estava fora de perigo e que seria necessário um longo descanso, a preocupação e cuidado que Giovanna possuía por todas as pessoas não a deixava sossegada. Ainda mais com o recém chegado que mesmo tendo pouco contato, uma ligação já havia se estabelecido entre os dois. A garota passou todas as manhãs visitando o garoto.