Cosmos em atrito

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 "Eu nasci em Nova Iorque, fui para o estado da Califórnia aos 12 anos, quando meus pais se separaram, pois a Erica estava traindo o meu pai. Bom, eu me adaptei bem na escola, sempre fui na minha, nunca me meti em problemas e era bom aluno, mas também nunca fiquei muito longe de pessoas problemáticas. Hoje tenho 16 anos e sinto que perdi tudo que amava, meu pai morreu à dois anos atrás, acidente de carro, o motorista estava bêbado, pedi para venderem a casa onde morávamos e agora moro com meus avós maternos. "

- Ei, Ian... Acorda... - me cutucam- desculpa, Alan, a sra. Miller está vindo...

 Acordo e me deparo que estava dormindo logo no primeiro dia de aula, uma garota nova, sentada logo atrás de mim, foi ela quem me acordou, não tive tempo nem de respirar para processar algo, a professora de redação, sra. Miller, estava em minha frente com sua cara raivosa de rato fumante.

- Então você decidiu dormir em cima do seu trabalho sr. Duncan?

- Sra. Miller! Que surpresa não é mesmo? - engasgo um pouco e a garota atrás de mim dá uma leve risada, a professora perde a atenção em mim e decide confrontar ela.

- Quem é você garota? - ela fala em tom grave.

- D-desculpa sra. Miller, eu não queria rir...

- O seu nome!

- A-ana Perez!

- Não grite comigo!

 Nesse momento todo o restante da sala riu, até mesmo eu. Sra. Miller ficou furiosa e decidiu retirar nós dois da sala de aula na puxada. 

 No corredor, sem nada para fazer, fiquei andando até a cantina, não sei se Ana estava indo para lá ou ela estava me seguindo, queria quebrar o clima então puxei conversa, foi nesse momento que consegui realmente prestar atenção em seu rosto, e ó céus, como ela era linda. Com cabelo encaracolado, nem tanto cumprido e cheio de mechas amarelas escondidas por todo o preto, olhos castanhos claros e um belo sorriso. 

- Então, Ana, como você acertou o meu nome? - Eu realmente não sabia o que dizer.

- Ah... Eu vi no seu trabalho, você estava de bruços e quando me apoiei em cima da minha mesa para te acordar, acabei vendo seu nome ali no papel.

  É, ela sabe o resumo da minha vida e eu só sei o nome dela.

- Posso fazer uma pergunta? 

- Haha, Acho que você já fez uma - ela ri e permanece um sorriso.

- Ah - dou uma risada frouxa- Realmente, é... - ok Alan, para de falar - De onde você veio?

- Eu vim da Geórgia, minha mãe conseguiu um emprego com, aparentemente, ótimo salário.

 Quando chegamos na cantina, o assunto havia se prolongado e o sinal para o intervalo tinha tocado, descobri que ela mora perto da minha casa e tem um Golden, o nome dele é Spike e adora brócolis. Ela nasceu em maio e disse que vai dar uma festa aberta no aniversário dela, e parece que assim, fui convidado para ir mais cedo. Ela me deu o número dela, disse que gostou bastante de mim e fiquei extremamente feliz por isso. No final do dia, voltei praticamente saltitando para casa, Ana me acompanhou até algumas quadras, me abraçou e seguiu seu próprio rumo.

 Ao avistar o meu jardim da frente, senti algo de errado, e realmente tinha, o carro da nossa amada Erica estava no pátio, meu dia foi por água abaixo. Entrei, e vi ela com meus avós conversando sobre jantares, não queria ser desrespeitoso, então decidi fingir não estar ali (sim, uma atitude contraditória). Fui subindo as escadas bem devagarinho, para não notarem minha presença, mas escuto a voz dela dizendo "oi filho, vem aqui, gostaria de conversar".

 É meus caros leitores, o sangue subiu a minha cabeça, mas me contentei e permaneci calmo como uma pena voando numa leve brisa, bem, até certo ponto. Fui até eles na mesa de jantar da cozinha, ela é redonda, feita com uma madeira castanha, gosto muito dela. Sentei em uma das cadeiras, sorri para meus avós e voltei meus olhares para Erica e disse :

- O que deseja? Não tem como você ficar com o dinheiro do meu pai, se é isso que eu presumo.

- Nossa, Alan! Eu sou sua mãe! 

- E era esposa do meu pai e traiu ele.

 Um enorme silêncio reina a cozinha, até que o meu avô decide quebrar o clima:

- Bom, vocês preferem café forte, sem açúcar... com açúcar? -Ele engole seco.

- Eu gosto com açúcar, Alfred. - Minha vó olha para ele e sorri.

- Desculpa Alan, é que eu realmente preciso falar com você... - Erica ignora meu avô.

- Então fala.

- É que eu vou me casar... -Engolindo seco, ela desvia o olhar de mim e olha com suas mãos na mesa.

- E você acha que eu me importo? - Me levanto com um suspiro e ela me para saindo da cozinha.

- Eu vou ter outro filho, e gostaria que você participasse da minha vida, eu sei que eu errei, Alan... - De frente para mim, eu recusei de olhar para a cara dela.

- Você me perdeu a muito tempo... - saio da cozinha, e não contente, grito pelo corredor - Vê se arruína a vida do seu outro  filho também! - subo as escadas, e no corredor de cima, seguro o choro ao entrar no quarto.

 Apenas escuto o meu vô avisando que o café estava pronto. Não queria descer, e a Erica nem decidiu subir as escadas, pela janela vi ela indo embora. Liguei para Ana e fiquei a noite toda escutando ela falar sobre energia e estrelas, lembro dela falando :

"-Você está no seu próprio cosmo em atrito.

- Como assim? - perguntei

 - Não sei ao certo, estou com sono... - ela ri- fico inventando frases-

- ...'Você poderia ser a matéria interestelar que vai me salvar...'

-Ah...Talvez eu possa ser...- responde de um jeito sutil.

-Acabei de ler isso no Ebay - dou uma enorme risada.

Depois de um trava em sua voz ela me responde rindo com um 'Mentira!'."

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