Antares

11 2 0
                                    

Depois daquela noite, dormi ao lado do celular, quando o alarme tocou em plena 5 da matina, levantei no maior susto. Tomei banho, arrumei minhas coisas e desci as escadas. Dos degraus, senti o cheiro do café que minha avó tinha feito de longe, fui até a cozinha, me sentei junto a mesa, sou sempre o último a acordar, meu avô já estava sentado comendo seu pão com manteiga de cada dia. Com toda certeza, eles não iam ficar calados, mas foram bem sutis ao conversar comigo sobre a noite passada.

- Alan, você está melhor? - perguntou o meu avô.

- Estou sim, me desculpem por ontem, não é bom eu ter essas atitudes... - realmente estava magoado.

- Meu querido, nós sabemos que ela errou contigo, - minha vó junta-se a mesa - mas ela continua sendo sua mãe...

Eu a interrompi :

- Eu realmente não quero ter nenhum vínculo com ela e se me derem licença, vou para o colégio - bebo o meu café em um só gole - E... Tenham um bom dia.

Fui embora para o colégio, mas decidi que não iria à aula, mandei uma mensagem para Ana, me encontrar na entrada e que iríamos em um lugar diferente. Chegando lá, vi ela de longe, séria, como se fosse me bater.

- Como assim vai matar aula? - Ana é uma aluna muito responsável - E a prova de química?

- Vai querer vir? - A ignoro em cheio.

Claramente ela me seguiu, preocupada, mas me acompanhou. Eu não sabia por onde andar, então só seguimos reto até chegarmos em um bairro novo, próximo à uma chácara, que atrás dela era um vasto campo.

- Já subiu um muro? - perguntei à ela, observando o enorme muro à nossa frente (o muro da chácara)

- Que eu me lembre, um muro desse, não. - ela ri de nervoso.

- Pois bem hoje é seu primeiro - com as mãos na cintura, falo com entusiasmo - E o meu também.

Ela me olha brava, me dá soquinhos no ombro e me pergunta o por quê estávamos fazendo aquilo. Ofereci apoio para ela subir primeiro, com dificuldade, mas conseguiu subir e me ajudou  para eu me juntar á ela em cima do muro.

Quando vimos o quintal da chácara, havia uma piscina logo abaixo de nós, não tinha nenhuma outra forma de continuar, a não ser cair nela.

- Alan, isso não vai dar certo, vamos embora por favor, olha o que você me fez fazer seu imbecil! - ela desesperada, fala com alternância no tom de sua voz.

- Calma - fico rindo - Tá tudo bem, é só a gente cair e continuar - olho sorrindo para o rosto dela.

- Eu te odeio!

Derrubo ela na piscina, e logo ela me puxa junto, quando saímos da água, com ela ensopada batendo em minhas costas, me xingando feito louca. Tudo parecia muito calmo, até surgir os barulhos de cachorros latindo e correndo, cada vez mais alto, estavam em nossa direção. Realmente, latidos enquanto você invade uma propriedade privada, não é um bom sinal.

 Tento fazer Ana parar de gritar comigo e sair correndo, mas não me escutava. Quando ela finalmente parou, já era tarde, simplesmente havia quatro cachorros correndo atrás de nós dois, então a ergui em meu ombro, com ela toda histérica, gritando sobre os cachorros, estava  correndo feito louco até a cerca que separava a chácara de um campo aleatório.

Chegando próximo a cerca, gritei :

- SE PREPARA OK?

- COMO ASSIM "SE PREPARA", ALAN?

Joguei ela do outro lado da cerca, adivinhando os berros dela. Quando fui pular também, um cachorro esguia minha blusa, a rasgando e me fazendo tropeçar e cair em cima de Ana.

- NUNCA MAIS, NUNCA MAIS ME CHAME PARA SAIR - Ela com raiva, tentando me tirar de cima dela.

- Calma lá - me levanto.

Em meio aos cachorros latindo atrás da cerca, nós dois estarmos ensopados e ela gritando na minha orelha, eu só sabia rir e olhar para o chão, com as minhas mãos apoiadas em minhas coxas. Joguei fora a minha blusa e demos a volta pela chácara para irmos embora. Atravessamos o campo, uma bela viagem de 35 minutos. Ela estava com frio e eu também, estava tão brava comigo que não falou a caminhada inteira.

Peguntei se ela queria ir a minha casa, mas pela distância ela decidiu que a casa dela estaria mais perto. Não neguei e a acompanhei, foi a única coisa que ela falou também. Chegando lá, conseguia escutar os latidos do cachorro dela, e via os seus brinquedos espalhados pelo quintal e a varanda.
Ela abriu a porta, não deixou eu entrar junto, fiquei a esperando enquanto via sua sala, corredor pela esquerda e as escadas logo em frente. Veio com toalhas e me disse para tomar um banho, pediu para eu deixar minhas roupas na frente da porta que ela colocaria para lavar e me emprestaria alguma roupa de seu pai. Também me avisou que iria tomar banho no banheiro do quarto dela, logo eu tomaria banho no banheiro do corredor.

Agradeci e pedi desculpas, ela simplesmente sorriu e agradeceu pelo dia. Estranho, não?

Bom, tomei o banho, chuveiro de ducha quente, me senti no paraíso, o box era temperado, então não dava para ver ninguém na banheira, assim deixei a porta aberta para ela poder deixar as roupas secas ali.
Quando saí as roupas já estavam em cima da pia, para que eu pudesse usá-las, ficaram um pouco grandes mas não me incomodou. Saí do banheiro chamando Ana, para avisar que estava indo embora, mas ela não me respondia. Fui até o quarto dela, a porta estava aberta e então entrei para bater na porta do banheiro dela. Era um quarto enorme, cheio de detalhes delicados com um estilo grunge anos 90. Ela não estava no banheiro, então fui para o corredor e, decidi de ir em porta em porta para ver aonde ela estava. Dos três quartos, o último, eu escutava um som estranho, e o cheiro não era familiar. Abri a porta, com cuidado, as cortinas faziam do quarto um breu. Quando liguei a luz,  vi uma mulher acamada, presa na cama, tomando soro e entubada.

E então surge Ana atrás de mim, me puxa pelo braço bruscamente, de volta para o corredor, apagando a luz e fechando a porta.

- TÁ MALUCO? - ela gritou comigo.

- D-desculpa, eu estava te procurando.

- Vai logo embora da minha casa! SOME! - ela me extorquiu até a saída e me deixou do lado de fora.

Emfim, fui embora, presumo quando chegar em casa, mandarei alguma mensagem para ela, perguntando o que aconteceu.

NyctophiliaOnde histórias criam vida. Descubra agora