Algol II

4 2 0
                                    

 Acordei tarde, fui minha própria causa de chegar atrasado no colégio. Mesmo cansado, dormi muito mal, acho que foi o sentimento de culpa que sucumbiu minha mente. Fui correndo até a aula, recebi uma advertência mesmo assim. A coordenadora aproveitou para falar comigo, disse que anda preocupada, minhas notas diminuíram e os professores reclamaram da minha pouca atenção sobre suas aulas. Não sabia o que responder para a Sra. Kennedy, se ela estava em dúvida sobre eu estar conturbado, imagina a minha própria pessoa.
  No final, ela falou muito e eu escutei bem pouco, não abri a boca, esperei o sinal das aulas tocar e fui para o corredor, apressar meus materiais e não ter mais problemas.
  Não vi Ana em nenhum lugar, nem na aula de química ela estava lá, pensei que na cafeteria eu poderia encontrá-la e me desculpar pelo outro dia.
Um amigo de infância meu, Thomas, veio conversar comigo no horário do intervalo, justo momento que queria ver a presença de Ana...

- Hey hey hey, olha só você Alan! - Ele sorria com sua bandeja em mãos, vindo em minha direção e se sentando junto a mim no refeitório - Faz tempo que eu não te vejo, você sumiu das reuniões do clube, as noites de cerveja e RPG, o que houve amigo? É a garota nova? Pode falar, eu soube que ela é gostosa demais, pena que os boatos dos problemas dela...

Ele ironizou seu tom de voz em "problemas", mas me intrigou, como ele sabia de algo tão pessoal sobre Ana?

- Como assim Thomas? Que "problemas"? Até você está se enfiando em fofoquinhas de primeiro ano? - continuo a comer calmamente.

- Ah cara, não sei se você sabe... Mas acho que você deveria saber disso mais do que eu, sabe como é, de parça para parça... Papo reto, essas paradas... - Ele come uma colherada de purê de seu prato, chega mais perto de mim, como se fosse contar alguma senha de cartão roubado - Hm... Então, escutaram conversas entre professores, fazendo a novata de coitada, algo sobre doença crônica, câncer de algum parente. Bem, a garota é sozinha... Na minha opinião você não poderia ralar muito a tua mente para se envover com essa garota, vai que você se deixa levar pela tristeza, essas paradas - Ele bebe seu suco - Essas coisas acontecem amigo, tu sabe disso melhor que eu.

Enquanto ele falava eu comi a minha comida, fiquei pensante, o que o Thomas disse sobre doença, talvez não seja mentira, se encaixa bastante com o que eu vi com os meus próprios olhos. Arrumei minha bandeja e sai falando para ele uma última coisa:

- Eu sei me cuidar Thomas, se algo der errado a culpa é minha.

Thomas arregalou os olhos e deu um sorriso, realmente esse cara é meu amigo mesmo nos meus piores dias, do jeito dele, felizmente ele faz o que pode.

O sinal estava para bater quando vejo os cabelos de Ana pelo corredor, vou apressado até ela, para ter uma conversa comum. Encosto no ombro dela e a digo:

- Eu te procurei o dia todo Ana

Ela se vira, eu via olheira em seus olhos.

- É mesmo? E qual é o motivo da sua procura? - Ela fecha seu armário e se apoia de lado sobre o mesmo.

- Ana, me desculpa por ontem, eu não deveria ter passado dos limites, eu só queria fazer você se divertir.

- ... - Ela suspira por um breve momento - Tudo bem, não foi culpa sua.

- Eu gostaria de melhorar a situação, fora do colégio, se você quiser...

- Eu vou ver sobre - O sinal toca - Ah, te mando uma mensagem mais tarde, ok?

Antes dela se virar, seguro em sua mão e só digo " ok ".

  Ah Alan pelo amor do santo universo que cara estranho que você é, você assutou a garota, nunca mais ela vai aceitar sair com você sua anta.
E é isso que eu pensei e até hoje penso, que vergonha, que vergonha.

Voltei para casa junto com John, um outro amigo meu, e Thomas. No caminho falávamos sobre marolas, porém Thomas puxou o assunto para entender algo à mais, sobre mim e Ana.

- Então Alan, você gosta da novata? Te vi com ela nos corredores, você realmente não escuta o que eu digo - Ele dá uma leve risada.

- O nome dela é Ana, Thomas... - Fixo meus olhos para o chão da calçada por um breve momento , pensante - Acho que gosto dela sim, não sei, ela soa especial demais.

Thomas e John riem da minha cara.

- Aaaa Alan, parece que você gosta de garotas problemáticas - Disse John.

- Haha, sou eu mesmo que namoro uma viciada em cocaína que finge não ter me traído - Faço chifres com as mãos sobre a cabeça, zombando de John e ironizando sua situação.

Thomas cai em gargalhadas e John apenas ri e me complementa:

- Pelo menos eu tenho algo do que comer.

Não consegui achar engraçado, me senti um pouco enojado, o assunto a partir daquilo só foi piorando, e eu decidi fingir terem me ligado e fui para casa, mais uma vez, pensante.

Chegando, recebo uma mensagem, era Ana dizendo que estava livre sábado à noite. Ah, minha felicidade foi as alturas.

Hoje é quarta, e eu teria mais dois dias para chamar a atenção de Ana, e talvez ela poder me ver do mesmo jeito que a vejo, poder confiar em mim, se eu me permitir não fazer mancadas.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 15, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

NyctophiliaOnde histórias criam vida. Descubra agora