Nomes, Personalidades e Dinheiro - Três Capítulos Inseparáveis

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     Conforme os anos foram passando, Letícia ia sendo convidada para representar o professor em conferências, palestras e homenagens. Na primeira vez, foi sem Felipe, e ficou tímida, sentindo-se sozinha e deslocada naquele ambiente cheio de pessoas, teses e teorias.

     Mas, sendo esperta, percebeu que aquela poderia ser a fonte de renda adicional para o futuro de Felipe, e, porque não dizer, o seu próprio. Desde então se dedicou com afinco ao estudo, nunca descuidando do Pequeno, pois sabia a dor do desprezo a que o Professor involuntariamente a fez conhecer. Conversou com amigos mais próximos sobre esta possibilidade, e assim ficou acertado: que embora recebesse a pensão do marido, que não era muita nem excessivamente generosa, todas as palestras que participasse seriam pagas com um montante que coubesse dentro do orçamento dos eventos, sem ser uma quantia humilhante; e que levaria sempre o Pequeno Felipe, havendo assim vantagens para todos: a presença dele lhe dava confiança para falar em publico, já que tinha treinado com ele, e combinado códigos secretos que a auxiliariam durante as palestras. Dependendo da ocasião, Felipe se sentaria na
mesa dos palestrantes, de forma a observar o público, ou na primeira fileira, observando os conferencistas, ajudando a mãe.

   Assim, Felipe ia se acostumando com aquele ambiente, e as pessoas com ele, depositando esperanças de continuidade.
Esta foi a forma que Letícia encontrou para, como sempre, evitar que Felipe passasse pelas mesmas situações que sofreu. Ela sabia que Bentes estava nos congressos devido às reportagens em jornais especializados ou não, diplomas, convites e tudo mais que pudesse servir para ela de prova de comparecimento. Ele nem sequer, por única vez que fosse, havia lhe perguntado se gostaria de ir a um congresso, sendo na cidade deles ou não; tampouco lhe dizia que os acharia maçantes e que seria melhor para ela não ir. Letícia desconfiava que, de tão concentrado, ele nem havia pensado na possibilidade de levá-la, ou que ela pudesse se interessar – enfim, tinha sido desta maneira desde o namoro. Embora realmente lhe parecesse coisa menor fazê-lo interessar-se mais por ela, e por conseguinte, por assuntos outros, seu instinto feminino lhe suplicava a tomar uma atitude, mesmo com a
convicção que não era desprezada nem menos amada que outras mulheres. Tentara engravidar e falhara – e nesses momentos seu marido nunca lhe faltou com carinho. Sempre fizera o possível para o agradar, e a gravidez lhe trouxe alegria e esperança.

     O Pequeno Felipe ficou assim conhecido nas palestras, e a mãe se referia a ele dessa maneira para enfatizar que seu futuro dependeria da educação que dessem a ele, que era agradado e se agradava com a presença dos mestres, e para criar sua própria fama desde criança. Quando ingressou na escola, a melhor que havia, era por este apelido chamado por professores e alunos, sendo respeitado e admirado. Humilde toda a vida, inteligente, honesto, e dono de uma grande paz interior, não se sabia distinguir de quem havia herdado suas qualidades. Felipe não frustrou as expectativas acerca dele: foi ótimo aluno, curioso, disciplinado, educado, e bom amigo. Como desde cedo havia se acostumado com o público, não teve problemas de amizade, tendo alma de diplomata quando era juiz. Sabia conjugar os livros com as pessoas, e nos congressos, aos quais nunca faltava, já emitia suas opiniões quando solicitado, nunca tomando o lugar de sua mãe.

     Letícia decidira não cursar faculdade, legando esse mérito ao Pequeno; conversava semanalmente com vários professores que guiavam suas leituras. Com isso, adicionou à biblioteca da casa livros obtidos através de lançamentos de amigos professores e de doações das editoras a fim que ela os decidisse resenhar na sua coluna semanal no jornal da cidade – pois, já naquela época tinha, como outrora tivera o Professor, seu reconhecimento na sociedade sendo convidada a escrever emitindo suas opiniões, respeitadas no meio. No entanto, Letícia era despojada de orgulho intelectual, sempre se preocupando em nunca fazer sombra ao seu filho. No que fosse possível incluía Felipe. Aceitou a coluna do jornal pois já era uma fonte de renda do casal que havia feito falta no inicio da viuvez e que agora mantinha para pagamento de despesas futuras e presentes.

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⏰ Última atualização: Aug 07, 2020 ⏰

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